quarta-feira, 30 de março de 2011

Mais do mesmo na novela das sete?



Acredito que a grande reação que a novela “Morde & Assopra” causa é de amor e ódio, bem ao estilo do amor dos protagonistas. Amor porque é uma novela muito bem produzida pelo núcleo de Rogério Gomes, como tudo o que ele faz. Ódio porque vemos o mais do mesmo do autor Walcyr Carrasco, regado a cenas e diálogos infantilizados.

Por que mais do mesmo? A insistência em mostrar as mesmas características dos personagens chapados em todas as cenas em que eles aparecem é uma delas. Exemplo: não tem uma cena em que Jandira Martini aparece e não é mostrado o quão pão-dura a personagem é; todas as cenas em que Miwa Yanagisawa apareceu foram para cobrar uma namorada do filho e falar sobre uma possível pretendente. Não só isso, mas também a insistência do núcleo caipira, presente em quase todas as novelas do autor e aquele modo de falar tão pouco coloquial dos personagens, que mais parece estarem na década de 30.

Além disso, as duas tramas principais que servem de alicerce para todo o restante nós já assistimos, mudou a roupagem, mas a história é a mesma. A relação da mal-humorada com o sem educação nós já vimos em “O Cravo e a Rosa”, do mesmo autor. Adriana Esteves, apesar dos vícios gestuais que ela carrega em todos os seus personagens desde Catarina, rende muito bem em cena. Já o Petrucchio de Marcos Pasquim fica bem aquém do Petrucchio construído por Eduardo Moscovis. Tentar recriar a vida, alguém que se ama, para superar as barreiras da morte nós já vimos – e estamos vendo no “Vale a pena ver de novo” – em “O Clone”.

Óbvio que existem diferenças entre uma novela e outra: em “Morde & Assopra” não se trata de clonagem, mas da criação de uma robô, sem sentimentos. Aliás, Flávia Alessandra está mais linda do que nunca e promete fazer um belíssimo par com Mateus Solano. Desconfio também – e isso vocês podem anotar no caderninho de vocês e me dizer se eu estiver errado mais para frente – que Naomi não morreu e reaparecerá mais para frente na novela, deparando-se com sua cópia perfeita. Afinal, seu corpo nunca foi encontrado e isso foi pontuado no primeiro ou segundo capítulo. Caso isso aconteça, ficará mais próximo ainda do que foi proposto por Glória Perez.

Por fim, a novela tem potencial para agradar os espectadores. Algumas tramas são bastante interessantes, como a da robô Naomi (Flávia Alessandra), e outras prometem, como o casamento de Natalia (Carol Castro) e Marcos (Sergio Marone), o tráfico de alimentos de Duda Aguiar (Suzy Rêgo) no spa e a vilã Celeste, de Vanessa Giácomo.


QUENTE
O acabamento desta novela dá de dez a zero no acabamento de “Caras & Bocas”, última novela de Walcyr Carrasco. É tudo muito bem produzido e dirigido. Rogério Gomes faz a diferença, sim!

MORNO
Tem alguma coisa muito estranha em Cássia Kiss (me recuso a usar a estranhíssima grafia atual do nome dela) e não é aquela prótese dentária. Tenho dúvidas se a personagem é daquele jeito, a impressão que dá é que ela está fazendo da boca para fora, muito pouco orgânica. A verdade é que há tempos ela merece um papel de destaque numa novela das oito novamente, como foi a Adma de “Porto dos Milagres”.

FRIO
O texto não ajuda muito, mas o núcleo do spa, com exceção da Suzy Rêgo, está péssimo. Todos forçados, situações bastante inverossímeis, atuações ruins. Como ainda é começo, vamos dar crédito e esperar pela melhora.

sexta-feira, 25 de março de 2011

O que é ser "Rebelde"?

Confesso que se tivesse escrito este artigo logo após o primeiro capítulo da novela “Rebelde”, exibida pela Record, ele sairia bem antipático. Tão antipático quanto soou os protagonistas da trama. Todos os seis personagens não demonstraram empatia nenhuma com o espectador logo de cara. Ok, eles são os rebeldes. Mas, afinal, o que é ser rebelde?

Rebelde, segundo o dicionário, é aquele que se rebela contra autoridade constituída, indisciplinado, indomável, indomesticável, bravo. Em nenhum momento falam de antipatia. Dos seis protagonistas, apenas Thomás (Chay Suede) e Diego (Arthur Aguiar) se apresentaram agradáveis ao público. E isso poderia ser um grande problema em se tratando de protagonistas e primeiro capítulo.

No entanto, passado mais três dias, posso dizer que essa primeira impressão passou. Um grande risco que os autores correram. Os personagens, aos poucos, foram mostrando suas motivações, fraquezas, problemas e relações. Acabaram enterrando a antipatia que, não necessariamente, está ligada à rebeldia. Com aqueles pais opressores e ausentes de todos os lados, não poderiam agir de outra forma. Rebeldes sob a ótica dos pais. Normais sob a ótica do público. Quem aguentaria viver com aquelas famílias?


Outra questão nítida e muito ruim do ponto de vista dramatúrgico são os pais e avó opressivos iguais. Todos eles criticam o modo de falar dos filhos (ou neto), a maneira como se comportam e exigem uma postura condizente ao status da família. Dos seis pais (ou avó), três tem a postura idêntica. E o mesmo tom e forma de interpretação. Ora, isso soa falta de criatividade. Afinal, existem diferentes formas de opressão por parte dos pais que tornam os filhos rebeldes. Reparem se não tenho razão.

Ivan Zettel, diretor da novela, surpreende pela qualidade de seu trabalho. Cortes ágeis e planos modernos são um dos destaques da novela. Aliás, a produção como um todo está bastante caprichada. Se a Record parar de preguiça e voltar com o mesmo gás de quando resolveu reativar o núcleo de dramaturgia, ela vai chegar onde quer, é só batalhar!

Por fim, podemos dizer que “Rebelde” está um passo a frente de “Malhação”. Parece estar mais próxima da realidade. Não que esteja. Temos uma grande dificuldade, na televisão, em retratar o jovem de maneira realista, tal qual no cinema. Como, por exemplo, Laís Bodanzky tratou em “As melhores coisas do mundo”. Há diversos fatores que impedem isso, dentre eles, a censura disfarçada chamada Classificação Indicativa, do Ministério Público. Porém, a mais acentuada delas é que não temos jovens escrevendo para jovens, mas, sim, autores de várias gerações atrás querendo escrever para os jovens atuais.


QUENTE
Adriana Garamboni está à vontade no papel de Eva Messi, chegou com tudo logo de cara. É muito bom vê-la em cena.

MORNO
A novela em si ainda está bem morna, mas tem grandes chances de esquentar ao longo do caminho. Margareth Boury é talentosa. Vamos ver como esses rebeldes se comportam!

FRIO
O desempenho de Juan Alba está bem aquém do que ele, em alguns de seus trabalhos anteriores, mostrou ser capaz. Está over.

quarta-feira, 23 de março de 2011

A costura em "Ti Ti Ti"

Desde sua estreia como autora titular em 1997, com Anjo Mau, Maria Adelaide Amaral nos propõe uma maneira inusitada de se fazer um remake. Após a Rede Globo fechar o zíper do último capítulo de Ti Ti Ti, é possível analisar quais relações, alterações ou semelhanças que Maria Adelaide Amaral costurou entre as novelas que lhe serviram de base para este retumbante sucesso: Plumas e Paetês (1980/81) e Ti Ti Ti (1985/86). Pegando como mote a música de Maria Bethânia presente na trilha sonora deste remake: “O mais importante do bordado / é o avesso...”

Como em um caleidoscópio, usando as mesmas peças para criar formas e cores diferentes, Maria Adelaide Amaral trouxe de Plumas e Paetês algumas histórias e personagens isolados para Ti Ti Ti. Marcela, na versão original, chama-se Roseli (Elizabeth Savalla). Em São Paulo, adota a falsa identidade de Marcela (para fugir do passado) e acaba reencontrando seu ex-namorado Renato (José Wilker), que se apresentara a ela como Paulo. Renato, além de noivo de Amanda (Maria Claudia), desconhece que tem uma filha com Marcela, a Paulinha.

Nesta nova versão, Renato (Guilherme Winter) engana Marcela (Ísis Valverde), dizendo-se pobre, e acredita que a namoradinha o enganou quando ela aparecer grávida. Outra alteração foi a profissão de Marcela: de modelo na trama de 1980, a personagem descobre-se em 2010 como uma boa conselheira em uma coluna da revista “Moda Brasil” (saída de Ti Ti Ti), apesar de ter feito um ensaio fotográfico no meio da trama (o que indicava que ela também seria modelo no remake).

O final de Marcela também foi alterado. Em Plumas e Paetês, Marcela morre após um acidente automobilístico que sofreu enquanto fugia de Edgar (Claudio Marzo). No remake, além de sobreviver ao acidente de carro provocado por Luísa (Guilhermina Guinle), Marcela tem um final feliz e reata seu romance com Edgar (Caio Castro).

A personagem Luísa foi outra que sofreu alterações no remake. Em Plumas e Paetês, Luísa (Maria Helena Dias) entra após a metade da história. Trabalha na agência de modelos e sua função na trama é chantagear Marcela por conta de sua identidade falsa. Já em Ti Ti Ti, Luísa aparece desde o primeiro capítulo e sua personagem ganha tamanha força que integra o triângulo amoroso Marcela/Edgar/Luísa, mantendo com este um relacionamento que a leva à loucura. Ainda na agência, Dorinha (Mila Moreira) é uma modelo que chega ao fim de sua carreira e encontra dificuldades para arranjar trabalhos por ter 35 anos. No remake, Dorinha (Mônica Martelli) passa a ser uma preparadora das modelos da agência, fazendo também o papel de “mãe” das meninas em início de carreira.

De Plumas e Paetês também saiu a história de Rebeca (Christiane Torloni). Em 1980, Rebeca (Eva Wilma) era uma viúva que passara a dirigir a fábrica de jeans que herdou do marido. Fica entre o assédio do secretário Márcio (John Herbert) e da paixão do segurança italiano Gino (Paulo Goulart). Além disso, tenta controlar com rédea curta o seu imaturo filho Jorgito (Paulo Guarnieri). No remake, Breno (Tato Gabus) também assedia Rebeca (assim como seu equivalente Márcio). Porém, descobre que está doente, passa a rever seus conceitos e assumir os erros cometidos ao longo da vida. Esta curva na história do personagem não acontecia na trama original. Já o Gino perde sua ascendência europeia e deixa de ser segurança para se tornar nordestino e operário no remake. E a Rebeca em 2010 passa a ser uma mãe menos controladora e, além de Jorgito (Rafael Cardoso), ganha mais uma filha: Camila (Maria Helena Chira), que, apesar de uma personagem original do remake, mantém um pouco da trajetória de Cláudia (Angelina Muniz), que era noiva de Edgar e, após perdê-lo para Marcela, tem um período de tristeza e agressividade (principalmente no caso da personagem de Plumas).

Se em Plumas e Paetês há mudanças em tramas e perfil dos personagens, o mesmo acontece em Ti Ti Ti. O conceito de moda passou por profundas transformações nos últimos 25 anos e Maria Adelaide Amaral preferiu desenvolver Jacques Leclair (Alexandre Borges) como um costureiro de roupas de madrinhas no Jardim Anália Franco (bairro emergente de São Paulo). Em 1985, Jacques (Reginaldo Faria) era um conceituadíssimo estilista da alta moda. Outra mudança no perfil deste personagem é que, no remake, Jacques é um profissional cafona, sem grandes talentos e que necessita da ajuda e do bom gosto de Jaqueline (Claudia Raia), ao contrário da primeira versão, onde Jacques é talentosíssimo.

Jaqueline talvez tenha sido a personagem que sofreu a maior mudança entre as versões. Em 1985, Jaqueline (Sandra Bréa) era uma ex-modelo que trabalhava na administração da maison de Jacques Leclair, enquanto mantinha um caso com ele. Passada para trás por Clotilde (Tânia Alves), Jacqueline é seduzida por Victor Valentim, torna-se importante alvo na disputa dos dois rivais e, no final, termina ao lado de Adriano (Adriano Reys). Em 2010, Jaqueline se torna uma personagem esfuziante e atrapalhada, que nutre uma carência enorme. Com altíssimo bom gosto, já fez de um tudo em sua vida: desde vocalista de uma banda dos anos 80, o Boletim de Ocorrência, até noviça em um convento, onde monta uma confecção, a Daspec...

A construção dos protagonistas de Ti Ti Ti por parte dos atores também é distinta. Reginaldo Faria desenvolveu um André Spina bastante malandro e sedutor, que, quando se transformava em Jacques Leclair, fingia-se de gay. Já Alexandre Borges apresentou um personagem desvairado, completamente imerso em seu ego e, justamente por esta falta de prumo, acaba desmunhecando em diversas situações. Inclusive, no remake, André Spina e Jacques Leclair acabam sendo um só, sem distinções. Já o Victor Valentim de Murilo Benício era a própria figura do charlatão. É sim dono de uma boa retórica, charmoso, porém não consegue esconder vestígios de sua farsa, como, por exemplo, o espanhol mal falado. Em 1985, o Victor Valentim de Luiz Gustavo era praticamente uma persona, uma entidade. Também altamente charmoso, falava perfeitamente o espanhol e seduzia suas clientes ao declamar versos de Lope de Vega.

A fusão de personagens é outra modalidade que acontece com bastante frequência neste remake. Desirée (Mayana Neiva) nasceu de Ana Maria (Thaís de Campos em Ti Ti Ti) e Nadir (Solange Theodoro em Plumas e Paetês). De Ana Maria, Desirée herda a trajetória profissional como modelo e o parentesco com Nicole (Lúcia Alves em 1985, Elizângela em 2010), mãe e filha. Já de Nadir, Desirée traz a relação com Jorgito, porém, de forma bastante modificada. Nicole soma a história de sua homônima em Ti Ti Ti e o parentesco de Bianca (Myrian Pérsia em Plumas) com Gino. Aliás, assim como Gino, Nicole e Desirée passam a ser nordestinas no remake. Amanda (Thayla Ayala) é a mistura inusitada de dois personagens: Amanda de Plumas, por sua profissão, e Alex (Tato Gabus) por sua relação de parentesco com Jacques Leclair em Ti Ti Ti, ou seja, filho bastardo.

Também merece destaque a mudança que a personagem Marta teve entre as duas versões de Ti Ti Ti. Em 1985, Marta (Aracy Balabanian) é contra o relacionamento de sua filha Gabriela (Myrian Rios) com Pedro (Paulo Castelli) por ter sido amante dele no passado, o que causou sua demissão da maison de Jacques Leclair. Já em 2010, o impedimento por parte de Marta (Dira Paes) é causado porque ela fora abandonada por Jacques enquanto estava grávida de Amanda. O envolvimento de Gabriela (Carolina Oliveira) e Pedro (Marco Pigossi) no remake só acontece na segunda metade da novela, enquanto que, na versão original, a história dos dois personagens se inicia logo nos primeiros capítulos. Como a trama em 1985 acabou ficando muito presa à falsa gravidez de Gabi, Maria Adelaide Amaral imprime mais ritmo à trama quando retarda a entrada de Pedro no remake. Enquanto isso, Gabi está envolvida com Luti (Humberto Carrão) que, por sua vez, será apaixonado por Valquíria (Juliana Paiva) e Camila (Maria Helena Chira).

Também há a inusitada saída do armário de alguns personagens no remake. Adriano (Rafael Zulu) e Osmar (Gustavo Leão) são homossexuais, todavia, nas respectivas novelas originais não havia nenhuma intenção neste sentido. A inserção deste tema foi importante, pois, trabalhada de modo natural (principalmente no caso de Osmar e Julinho, vivido por André Arteche), trouxe discussões positivas entre o público.

O batom Boka Loka e o prêmio Tesoura de Ouro, histórias que movimentaram a novela em 1985, voltaram no remake repaginados. O batom (que causa loucuras em quem o usa) ganhou o nome da novela, sendo também comercializado por uma empresa de cosméticos. Já o prêmio se torna um “Fashion Week”. Em 2010, os vencedores foram Rony Pear (Otávio Reis) e Help (Betty Gofman), entretanto, em 1985 quem ganha prêmio é mesmo Jacques Leclair.

Corta, alinhava, junta, borda... como se pode perceber, as costuras foram muitas. Não só em relação a tramas e personagens, mas também em peripécias e temas. Há muitas outras alterações a se comentar, mas as principais, a meu ver, são estas. A técnica de remake de Maria Adelaide Amaral é perigosa, pois faz profundas incisões nas tramas originais. Porém, não há como negar que ela faz um remake como ninguém!

P. S. – Uma última curiosidade (que nada tem a ver com Maria Adelaide Amaral): já perceberam que a letra da música-tema de Ti Ti Ti não é exatamente a mesma nas duas versões? Corram para o You Tube e vejam que, em 2010, a música começa deste jeito: “Se pintar um negócio na China / Corre e vê se eu estou lá na esquina”. Na abertura de 1985, vocês ouvirão “Se pintar um negócio na esquina / Corre e vê se eu estou lá na China. Confiram...

(por Jordão Amaral)

segunda-feira, 21 de março de 2011

“Ti Ti Ti” deu o que falar


Assim como a primeira versão da novela, o remake de “Ti Ti Ti” é mais um marco da televisão brasileira. Há muito tempo não se via uma novela tão coesa, misturando ótimo texto, bons personagens, uma direção certeira e grandes interpretações. Durante oito meses, a novela divertiu e emocionou os telespectadores, com alta audiência e muita repercussão. Mérito de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari.

Todos os capítulos da novela foram muito bem armados, diversos ganchos trabalhados dia a dia. Apesar do elenco numeroso, todos os personagens tiveram histórias para contar e sua chance de brilhar. No início, houve um destaque muito maior à trama de “Plumas & Paetês”, com a fortíssima história de Marcela, Edgar e Renato. Aos poucos, a trama de Victor Valentim e Jacques Leclair foi ganhando destaque e se equilibraram. As adaptações de Maria Adelaide também foram bastante adequadas.

Há muito tempo não se via um casal tão carismático numa novela como Edgar e Marcela. A transformação de Edgar, a curva dramática que o personagem sofreu ao longo da novela por conta de seu envolvimento com Marcela é simplesmente maravilhosa. Inesquecível a cena, do alto do Edifício Itália, em que Edgar mostra toda a sua fragilidade à amada, o remorso por ter sido tão ausente e conivente com pai em relação ao irmão Osmar, seguido do primeiro beijo do casal.

Chato foi ter de agüentar durante quase quatro meses, os autores fazerem com que engolíssemos Renato na vida de Marcela. Maria Adelaide usou um dos recursos dramatúrgicos mais rasos que um autor pode usar para fazer com que o público ficasse dividido. Não teve um capítulo sequer, após o casamento forçado da mocinha, em que os personagens não exaltassem as qualidades do fraco Renato e fizesse Marcela enxergar o quão mudado ele estava. Mudado? Renato foi conivente com a armação do pai, Giancarlo, que obrigou Marcela a ficar casada com o filho, em troca de devolver à editora a Gustavo dali um ano. Que amor é esse que faz alguém obrigar a pessoa amada a estar a seu lado? E quiseram fazer o público engolir que Renato era um bom sujeito! Ainda bem que o bom senso imperou e o final de Marcela foi ao lado de Edgar.

Já divertidíssimo foi acompanhar as venturas e desventuras do trio Ariclene Martins, Jacques Leclair e Jaqueline Maldonado, vividos por Murilo Benício, Alexandre Borges e Claudia Raia, respectivamente. Os três atores estavam inspiradíssimos e deitaram e rolaram em cena, com as inusitadas situações criadas pelos autores. Jaqueline, cheia de nuances, doida, divertida e extremamente frágil, pôde proporcionar à Claudia Raia um grande momento. Ariclenes e Victor Valentim foram um achado para Murilo Benício, que mais uma vez mostrou por que motivo é considerado um dos melhores atores do Brasil. Ficava nítido que ele arrancava risos de seus colegas em cena, estava bastante à vontade no papel. Alexandre Borges e seu Jacques Leclair dividiram opiniões: muitos se divertiram com a atuação do ator; outros a acharam forçada e não conseguiam acreditar naquele personagem. Ali fica claro que teve o dedo da direção de Jorge Fernando que preferiu enveredar o personagem para o lado caricato, com muitos tons acima – bem como a novela toda –, do que transformá-lo em um vilão, devido a tudo o que ele aprontou ao lado de Clotilde. E esse não era o caminho: afinal, Jacques era o vilão aos olhos de Ariclenes e Ariclenes era o vilão sob a ótica de Jacques.

Um último ponto a se destacar nesta novela é a forma como a homossexualidade foi abordada. Com uma trama extremamente delicada e realista, Maria Adelaide e sua equipe brindaram o grande público com um amor verdadeiro e profundo entre Julinho e Osmar e a dificuldade deste em esquecer o namorado morto nos primeiros capítulos. Após esse baque, Julinho demorou a encontrar um novo amor até que conheceu Thales. Este último teve que transpor algumas barreiras cheias de preconceitos para ser feliz ao lado do homem que amava. Nada de gays caricatos, afetados e cheios de gírias nesse núcleo. Tudo muito realista e bonito, como um romance de casal heterossexual. Essa história só teve um único porém: Julinho começou muito bem, mas da metade da novela em diante entrou numa onda do politicamente correto e acabou se tornando chato. Julinho achou que era o dono da verdade. Se estivesse num Big Brother da vida, seria votado logo de cara para sair da casa. Se fosse uma pessoa real e não um personagem, estaria isolado. Ninguém gosta de conviver com pessoas que acham que são donas da verdade.

Poderia ficar aqui falando muita coisa sobre a novela, mas o texto está se alongando demais e é melhor encerrar por aqui. “Ti Ti Ti” teve muito mais acertos do que erros. Aliás, os erros foram bem poucos. Foi uma novela ótima do começo até quase o seu fim. Pena que bem na reta final entrou numa barriga insuportável, nada acontecia. Talvez tenha sido porque a novela foi esticada. Mas, diante do todo, merece muitos elogios. E aplausos de pé. Parabéns, equipe!


QUENTE
Em meio a um elenco de ótimas interpretações, não podemos deixar de destacar alguns atores: Cláudia Raia, Murilo Benício, Alexandre Borges, Guilhermina Guinle, Caio Castro, Rodrigo Lopez, Mayana Neiva, André Arteche e Maria Clara Chira.

MORNO
Ter Malu Mader é um charme para qualquer elenco, mas, infelizmente, ela não foi nada bem durante a novela. Está certo que a personagem Suzana também não era grande coisa, mas Malu esteve sofrível em diversos momentos. Em outros, dava para perceber que ela se divertia em cena, o que era bacana de ver. Como Malu é Malu, não tenho coragem de colocá-la no gelado, ela fica aqui no morno mesmo.

FRIO
A tendência dos autores em destruírem todos os casais ao longo da novela: além de Marcela e Edgar, destruíram o casal Luthi e Val (ele não sabia o que queria e ela manteve sua postura imatura do começo ao fim da novela), Desiree e Jorgito (não dá para engolir que, mesmo sabendo que Stephanie era uma piranha do mal e que já havia aprontado todas, ele ficou com ela diversas vezes) e Suzana e Ariclenes (apesar da química com Marta ter sido gigantesca).

sexta-feira, 18 de março de 2011

Um sério novo espaço!

Há muito tempo é sabido que o nosso país sofre de uma preocupante crise com a ausência de críticos sérios de teledramaturgia. Muitos deles não entendem do assunto, escrevem por escrever. Geralmente, esses cri-críticos, assim como os (pseudo)intelectuais do mundo acadêmico, tratam a televisão como um subproduto, algo menor, principalmente em se tratando de novelas.

Ora, as nossas telenovelas são exportadas para todo mundo, um exemplo de qualidade e competência! Nossos autores são os melhores que existem por aí afora - sem falar dos novatos que ainda estão por vir. Um autor de novela escreve cerca de dois filmes e meio por semana. E mais: escrevem para mais de 80 milhões de pessoas todos os dias, da classe A à classe E! Ainda por cima, precisam criar situações que encontrem o equilíbrio para agradar tanto o banqueiro milionário como aquele que mora numa cidadezinha do sertão de mil habitantes. Telenovela é subproduto? Com certeza não! A equipe que está envolvida na área não é digna de respeito e méritos? Claro que é!

E é por isso que, finalmente, sem falsa modéstia, este blog surge. como um oásis no meio do deserto, a última bolacha do pacote. Surge para mostrar a importância da teledramaturgia brasileira. Vamos falar de dramaturgia com seriedade e propriedade. Críticas e análises consistentes. Não trataremos de dramaturgia como bocas de Matilde ou com vaidade e ego para mostrar quem é o melhor. Aqui não haverá moleza, mas também muito respeito pela área!

Esse espaço é meu, é seu, é nosso. Sejam bem-vindos. E sigam-me os bons!