quinta-feira, 28 de abril de 2011

Um encanto de novela!

“Cordel Encantado” é daquelas novelas bissextas que surgem na televisão e enchem os olhos do espectador e da nossa pseudocrítica. Um esmero de qualidade em todas as áreas de criação e produção, com um texto competente de Thelma Guedes e Duca Rachid e direção de Amora Mautner.

Fiquei pensando o que escrever sobre esta novela, após três semanas de exibição, e achei que qualquer coisa que escrevesse seria repetitivo, uma vez que já foi dito na imprensa por aí afora. Mas o que é bom e inventivo deve ser exaltado! Muitos dizem que o gênero da telenovela está desgastado. Na verdade, “Cordel Encantado” vem mostrar que não há desgaste algum e, sim, preguiça e falta de coragem.


Thelma e Duca que deram uma aula de estrutura dramática em “Cama de Gato” conseguiram se superar. Na novela anterior, criaram uma história muito bem amarrada, sem barrigas e que prendeu a atenção e criou tensão até o último capítulo. E tudo partiu de uma brincadeira que Alcino (Carmo Dalla Vecchia) fez com o amigo Gustavo (Marcos Palmeira). Essa brincadeira infeliz acabou se tornando uma grande trama perigosa, regada à vingança, ambição e redescobertas. Pecou, sim, na superficialidade de algumas tramas paralelas, devido ao seu ritmo acelerado. Mas foi um êxito, no geral.

Não é diferente com “Cordel Encantado”. A habilidade das autoras em apresentar os personagens e as tramas no primeiro capítulo, misturar dois mundos completamente diferentes – de um reino fictício e o do sertão nordestino – de uma maneira crível, é merecedora de aplausos. Serve de exemplo aos futuros autores e a muitos que já estão no mercado e que não conseguem fazer o mesmo.

As autoras não se preocupam em explicar a história, mas, sim, contá-la. Se fosse uma novela de Tiago Santiago, por exemplo, dez capítulos seriam perdidos para explicar o que é um cordel para justificar o título, o que é o cangaço, quem são os cangaceiros, por que agem daquela forma etc. Se percebermos, nada disso foi feito. E não é necessário. A trama bem escrita fala por si só.

É nítido em tela o prazer com que se é feita esta novela pela equipe e por Thelma e Duca, apoiadas a colaboradores competentes, diga-se de passagem, e que não estão ali porque são amigos delas ou por algum motivo obscuro, como acontece em muitas outras equipes de novelas. Porém, esse assunto merece um artigo extra mais adiante. Voltemos à “Cordel Encantado”.


O elenco todo está afiado, mesmo com um trio de protagonistas que acabou de sair de “Passione”. Bianca Bin é uma grande aposta, boa atriz e que foi bastante injustiçada por boatos de que sua atuação em “Malhação” era um dos motivos da baixa audiência (como se “Malhação” fosse um programa bom e merecedor de alguma audiência). Deu um tapa com luva de pelica em “Passione” e mostra garra, como exige a uma protagonista, agora na novela das seis. Bruno Gagliasso tem uma capacidade impressionante de se reinventar a cada trabalho. Não foi tão bem em “Passione”, ainda carrega algumas coisas de Tarso, de “Caminho das Índias”, mas a culpa não é dele, é da Globo que não lhe dá merecidas férias. Já Cauã Raymond é um ator interessante, mas não tem o mesmo talento de Bruno. Está correto como Jesuíno, assim como esteve em seus últimos trabalhos. Mas terá que correr atrás para que Timóteo não o engula em cena.

Vamos ver o que nos reserva os próximos capítulos!


QUENTE
O núcleo de Ricardo Waddington sempre traz boas surpresas em seus elencos e dessa vez não foi diferente: Zé Celso Martinez, Luis Fernando Guimarães, Andréia Horta, Claudia Ohana, Deborah Bloch, Emílio de Mello, Guilherme Fontes, Matheus Nachtergaele, Ana Cecília e João Miguel. Os outros diretores e autores deveriam se mirar no exemplo.

MORNO
Heloísa Perissé é atriz ou é simplesmente a Heloísa Perissé? Algo importante e sério a se pensar, pois tudo que ela faz é igual. Assim como Luis Fernando Guimarães, que há tempos deixou de ser ator.

FRIO
Mais uma vez as participações das crianças deixam a desejar. Com exceção de João Fernandes (Eronildes), todas as outras são péssimas! E não posso deixar de falar de Marcelo Novaes, que mais uma vez faz o mesmo papel de bobo.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Tirem os caninos postiços da gaveta... "Vamp" esta de volta!

O canal de TV a cabo Viva tem conseguido bastante repercussão em quase um ano de existência (repercussão esta que muitas das emissoras de TV aberta não atingem mais). Agora, a bola da vez é a volta da novela “Vamp”, o mega sucesso de Antonio Calmon. Com certeza, quem tem entre 25 e 35 anos guarda ótimas lembranças e despudorada saudade pela história da cantora-vampira Natasha (Claudia Ohana). Apesar disso, será que vale a pena acompanhar a reprise desta novela?

Em primeiro lugar, acredito ser necessário contextualizar a produção descrevendo rapidamente a época em que foi escrita. O ano de 1991 foi bem agitado para o Brasil (e para a Rede Globo). Estávamos em pleno governo Collor e as crises que eclodiriam no ano seguinte já anunciavam seus primeiros sinais. Na televisão, a Rede Globo sofria com problemas na produção de suas telenovelas. No horário das 18h, “Salomé” não despertava qualquer tipo de reação do público (principalmente por ter substituído “Barriga de aluguel”, uma novela tão polêmica e cheia de temas atuais). Às 20h, “O dono do mundo” era declaradamente rejeitada pelo público, que preferia assistir as agruras da professorinha Helena (Gabriela Rivero) em “Carrossel”, no SBT, do que os dilemas sexuais da professorinha Márcia (Malu Mader).

Já no horário das 19h, o problema era bem maior. A Rede Globo passava por duas situações cujo resultado era a queda de audiência. A primeira refere-se à péssima escolha de telenovelas para este horário no ano de 1990. Após uma bem sucedida jornada com “Top Model”, produziu-se “Mico preto”, uma trama horrorosa e, depois, “Lua cheia de amor”, novela completamente insossa. A segunda situação morava na mesma emissora que dava problemas ao horário das 20h naquele momento: o SBT. Durante um bom tempo, a Globo sofreu terríveis dores de cabeça com o imprevisível sucesso do jornal policialesco-apelativo-mundo-cão “Aqui agora”, que chegou a marcar 15, 20 pontos de Ibope e ofuscou boa parte das novelas globais (como, por exemplo, “O mapa da mina” e “Olho no olho”).

Passado este breve panorama, é neste cenário que, em julho, estreia “Vamp”, a primeira novela de Antonio Calmon como autor solo (“Top Model”, a primeira novela do autor, fora escrita em parceria com Walther Negrão). Misturando vampirismo, música, praia, ecologia e jovens, a novela não foi um grande estouro de audiência (apesar de superar em muitos capítulos a novela “O dono do mundo” no Ibope), mas recuperou um difícil grupo de telespectadores, que, na época, andavam bastante interessados pela recém-inaugurada MTV: os adolescentes.

Inegavelmente, a principal responsável pela recaptura deste público foi a protagonista Natasha. Em um período da música universal que surgia cantoras que encarnavam musas, divas, geralmente associando talento, modernidade e personalidade (basta lembrar de Madonna, Cindy Lauper, Sinead O’Connor, Paula Abdul, entre muitos outros ícones dos anos 1990), uma protagonista que fundia rock’n roll e visual vampiresco com certeza era (e ainda é) muito atraente ao público jovem. Ainda sobre Natasha, é muito marcante a presença de Claudia Ohana (então uma participação bissexta na TV) em um papel que se tornou referência em sua carreira e que explorou ao máximo a faceta cantora desta atriz (lado que ela nunca mais teve a oportunidade de explorar em TV).

Por falar em momentos icônicos, é fácil notar que “Vamp” também é um bom período na carreira de Reginaldo Faria e Joana Fomm, muito à vontade em seus respectivos papéis (Capitão Jonas e Carmen Maura) e seguros para evitar comparações com então recentes trabalhos de sucesso, como o Marco Aurélio de “Vale Tudo” ou Perpétua de “Tieta”. Além deles, há que se dar créditos a Patrícia Travassos e Otávio Augusto, como Mary e Matoso, uma das marcas registradas da novela e cada vez mais divertidos como o casal que se transforma em vampiros (é hilário o fato de Matoso passar alguns capítulos da novela com apenas um dos dentes caninos). Muitos outros atores do elenco também tiveram seus momentos de brilho individual, mas é importante deixar registrado aqui que Jorge Fernando, diretor da novela, conseguiu se reinventar, mesmo depois de trabalhos tão marcantes como diretor (com “Que Rei sou eu” e “Rainha da Sucata”, por exemplo). Com certeza, a novela ganhou muito em qualidade por ter a participação de Jorge Fernando em um horário de novelas no qual é especialista.

Porém, “Vamp” é sempre lembrada pela irrepreensível atuação de Ney Latorraca como Conde Vlad, um vampiro cruel, debochado, divertido e muito sedutor (sem tentar sê-lo). Aconteceu com ele o que poucas vezes acontece com um ator e seu personagem. Assim como Júlia Matos e Gabriela são Sônia Braga, Lucélia Santos será eternamente Isaura e Regina Duarte deu à sua Porcina tamanha propriedade que é impossível imaginar o papel com outra atriz, ninguém conseguiria superar Ney Latorraca na composição deste personagem. Tudo em Vlad se tornava comentário no dia seguinte entre adolescentes, adultos, senhores... Fosse alguma fala, algum novo gesto (como nas primeiras vezes em que o personagem estapeia de longe seus subordinados), uma boa cena, etc. Ator e personagem se confundiam e é possível mesmo afirmar que “Vamp” é um dos pontos mais altos na carreira de Ney Latorraca em TV.

Outro trunfo da novela é o elenco jovem, com papéis que despertaram muita atenção na época. Todavia, revendo a primeira semana, observei como os personagens jovens tendem ao estereótipo e seus diálogos, em sua grande maioria, são artificialíssimos. Veja as falas, por exemplo, de Sig (João Rebelo) ou Leon (Rodrigo Penna): descritivas, longas, sem graça, cheia de informações de enciclopédia, sem embocadura... nada mais desanimador. Com o passar dos capítulos, Antonio Calmon consegue amenizar este ponto.

A linguagem clipada (grande tendência daquela época) já aparece com frequência nos capítulos da novela, desde o clipe propriamente dito de Natasha até a rapidez de algumas tramas. Aos olhos atuais, pode ser que não se note com facilidade uma velocidade maior na narrativa da novela, um quê de história em quadrinhos, mas, na época, era nítido o contraste com outras produções, como “Felicidade” ou “A história de Ana Raio e Zé Trovão”. Além da linguagem clipada, há a anarquia de Antonio Calmon, com muito pique e inspiradíssimo ao dar prosseguimento à novela por sete meses, sempre trazendo situações novas, como a tão falada cena em que Vlad dança ao som de Thriller, sucesso de Michael Jackson. Também é possível notar que, diferentemente de “O beijo do vampiro” (200/2003), “Vamp” é calcada no politicamente incorreto. Quando Miss Penn-Taylor (Vera Holtz) conhecer Pai Gil (Tony Tornado), constantemente ela se referirá ao mesmo como “negão”.  Hoje em dia, grande afrodescendente e olhe lá...

Entretanto, com o distanciamento entre a exibição original e esta reprise, nota-se claramente a falta de ganchos mais fortes para a estrutura dos capítulos. Tomemos como exemplo o capítulo 4, que acaba enquanto Natasha sonha com o personagem Rafa (Marcos Breda) dizendo-lhe que um homem de nome Rocha irá salvá-la de Vlad. OK, até é compreensível uma cena como esta para a retomada de alguma trama que tenha ficado em segundo plano, et cetera, mas, para final de capítulo (ainda mais se lembrarmos de que tal sonho já estava no primeiro capítulo, ou seja, não trouxe novidade alguma)? Em que esta cena atrairia o público a assistir a novela no dia seguinte? As motivações dos personagens não são tão fortes ou, pelo menos, razoáveis, os conflitos se diluem entre tramas juvenis e muito sol, as situações nem sempre resultam em alguma história... Querem outro exemplo? No primeiro capítulo, Natasha desmaia em Veneza. No quinto capítulo, Natasha volta a desmaiar quando vê Capitão Jonas. Entre estes capítulos, passaram vários outros desmaios, uma transfusão de sangue, três países diferentes (Itália, Portugal e Brasil) e a pergunta: por que repetir tanto a mesma situação, logo na primeira semana, se ela não faz a trama central evoluir?

Apesar desta falha estrutural, a reprise de “Vamp” é válida principalmente para que todos nós possamos acompanhar momentos muito bons na carreira de atores como Claudia Ohana, Reginaldo Faria, Joana Fomm, Patrícia Travassos, Ney Latorraca, todos sob a regência de um criativo Jorge Fernando e de um inspiradíssimo Antônio Calmon. E, claro, para quem tem mais de 25 anos, esta é uma excelente oportunidade para relembrar uma infância ou adolescência bastante divertida e diferente!

(por Jordão Amaral)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Entrevista: Ulysses Cruz

Ulysses Cruz está na categoria dos diretores teatrais mais bem conceituados e premiados, a maioria de suas peças foi sucesso de público e crítica. Trabalha na TV Globo, atualmente, na linha de shows. Também foi diretor de algumas novelas e minisséries. Trabalhou no "Domingão do Faustão" e já está às voltas com o "Criança Esperança", ao lado do diretor Wolf Maya. É sobre teatro, novela e programas televisivos que ele fala nesta entrevista.


Pensando que, na década de 1980, você se destaca como um grande diretor com releitura de clássicos da dramaturgia e da literatura, como “Corpo de Baile” e “O despertar da primavera”, você acredita que a TV pode oferecer um espaço para que você elabore trabalhos semelhantes? Caso tivesse oportunidade, em condições ideais, o que você transporia para a TV?
Sim, a TV é plural, há espaço para tudo desde que existam pessoas interessadas em assistir. TV não é arte, é negócio. Quando se faz arte, projeta-se o futuro; TV é o aqui e agora. Penso que poderíamos ter uma das melhores TVs do mundo caso a qualidade de nosso telespectador fosse melhor. TV aberta é espelho de uma sociedade. Ela tem de buscar comunicar-se com esse grupo de pessoas nesse tempo e espaço. Quanto maior o nível cultural de um povo, melhor será sua TV. Nosso país não acha importante a cultura, é abstração para a grande maioria de nosso povo. Então fica impossível lidar com algo mais elevado ao espírito. Ou melhora- se a educação e a cultura de nosso Brasil, ou teremos que assistir diante dos nossos olhos a barbárie. Melhorar a condição cultural não é tarefa da TV. Ela pode ajudar, mas primeiro o brasileiro tem de querer boas escolas, bom teatro, acesso aos livros e aos bens culturais e depois cobrar dos governos.

Dadas as devidas proporções, que tipo de diálogo o diretor televisivo Ulysses Cruz tem com seu público de televisão que é diferente do diálogo que o diretor teatral Ulysses Cruz tem com seu público de teatro?
Eu trabalho na linha de shows da TV Glogo. Nesses dias, terminei minha colaboração no “Domingão do Faustão”, onde era o diretor artístico. Como tal, pude trabalhar varias possibilidades junto com Fausto Silva, que é figura interessada em mostrar o que o Brasil tem de melhor. Transformamos nosso telão de alta definição que ocupa o maior espaço de nosso cenário em suporte para exibir arte brasileira. Já mostramos mês a mês alguns dos maiores pintores brasileiros de todos os tempos: Portinari, Tarsila, Rubens Gerchmann, Anita Malfatti, Gustavo Rosa e muitos outros. Fausto os apresenta com uma pequena biografia repetida várias vezes durante o show. Uma beleza sem par e emocionante. Arte desse porte num programa de auditório só a ousadia de Fausto Silva pode permitir. Ano passado, durante minha primeira temporada no Domingão, começamos e foi um sucesso. Este ano, os principais museus de nosso país estão disponibilizando seu acervo de arte brasileira para exibição no programa. Fausto e eu estamos trabalhando em ideias para trazer música clássica também. Penso que esse tipo de coisa aproxima o diálogo dos dois diretores, o de teatro e o de TV.

Qual o ponto de contato entre seu trabalho no teatro e na televisão?
O desejo de que o público merece sempre o melhor dentro do que é possível fazer, oferecer o melhor, o mais humano, o mais sensível, contra a brutalidade, a favor da poesia, da emoção, da surpresa, do inusitado.

Como você definiria um estilo “Ulysses Cruz” para dirigir os atores em TV?
Minha última incursão na teledramaturgia foi em “Eterna Magia”. Alguns anos, portanto. Mas penso que essa pergunta seria mais interessante se feita para os atores que trabalharam comigo nesse momento: Irene Ravache, Cassia Kiss, Cleyde Yáconis, Thiago Lacerda, Werner Shunemann, Cauã Raymond, Eliane Giardini. Eles podem te dizer coisas interessantes desse momento.

Você é um diretor reconhecidamente detalhista, com um apuro impressionante em tudo que faz. Como é o seu processo de criação?
Sou detalhista porque acredito que a diferença de qualidade está exatamente nos detalhes. O acabamento final de uma cena dá-se pela obsessão de querer que todos os detalhes se harmonizem para que o todo ganhe força. Uma cena com unidade tem mais força e atinge mais. Gosto de instigar os atores a buscar o refinamento de suas escolhas, não trabalhar apenas com a primeira opção. Gosto de pedir a eles que leiam. A leitura estimula a imaginação e esta reage em forma de emoção. Comigo também é assim, busco inspiração em tudo que esta a minha volta. É uma questão de olhar. Quando você realmente está concentrado, teu olhar sobre todas as coisas se modifica. Daí começa algo dentro de você que não para mais. Tenho dificuldade em parar.

Você reconhece ainda hoje no meio teatral certa resistência à televisão? Para você, quais motivos originariam tal resistência?
Isso não existe mais. O que existe é a inadequação ao veículo, mas resistência, não. Afinal, todos precisamos trabalhar e TV é trabalho cotidiano.

Sua última peça teatral foi “Olhe para trás com raiva”, ano passado, do autor londrino John Osborne. Foi muito bem de crítica, assim como foi “O Zoológico de Vidro”. Que balanço você faz dessas duas peças?
Que boa pergunta! O “Zoo" reacendeu minha vontade de estar numa sala de ensaio e num teatro. O "Olhe para trás" foi uma dificuldade e uma superação, pois era uma peça muito difícil no que concerne a execução e comunicação. Eram também duas peças de exceção. Quase não se faz teatro desse gênero hoje em dia. Gostei demais de trabalhar com esses elencos e todos os profissionais de grande qualidade que os produtores conseguiram reunir nesses dois projetos. Elas ainda não terminaram, ambas devem voltar no final desse ano.

Qual seu próximo trabalho no teatro? Pode falar um pouco sobre ele?
Vou dirigir no segundo semestre "Três dias de chuva" (Three Days of Rain) com Otavio Martins, Alexandre Slavieiro e mais uma atriz ainda não confirmada, personagem espetacular feito muito recentemente na Broadway por Julia Roberts. Tenho um projeto também ainda para este ano com o ator Bruce Gonlewiski, que admiro muito. Isso está confirmado para depois de meu trabalho no show do “Criança Esperança” - dia 20 de agosto, ao vivo do Rio de Janeiro - onde sou o diretor geral, do núcleo Wolf Maya. Este é o terceiro que faço.

Fiz a mesma pergunta para o Alcides Nogueira na entrevista com ele, mas acho que seja importante repeti-la a você: como vê a crise teatral no cenário brasileiro atual?
E alguma vez o teatro não esteve em crise? Infelizmente, teatro é atividade para poucos. Mesmo uma peça de enorme sucesso, ao final de anos em cartaz, será vista por poucos e corajosos escolhidos. O que importa é você querer ser um deles e não perder esse barco, pois teatro, quando acontece de fato, é experiência inesquecível, reveladora, modificadora.

Quais novelas você dirigiu, além de “Sabor da Paixão” e “Eterna Magia”? Como foram esses trabalhos?
Estive envolvido em muitas novelas e minisséries nesses 14 anos de TV Globo. De cada uma delas guardo excelentes momentos de encontros, desencontros, lutas, conquistas, perdas e danos. Como qualquer pessoa que trabalha com paixão. Mas sobrevivi.

“Eterna Magia” foi a primeira novela que você assinou a direção-geral. Ela foi bastante criticada, não manteve a média de ibope de sua antecessora, “O Profeta”. O que aconteceu?
Não me lembro sinceramente de críticas à novela “Eterna Magia”, que terminou, inclusive, com a disputa de Irene Ravache ao Emmy Internacional como melhor atriz. Foi um trabalho difícil, polêmico, pois lidava com magia e alguns setores de nossa sociedade, os mais religiosos, não gostaram nem um pouco do tema. Um exagero desmedido, pois era novela das seis.

De quais idéias iniciais você teve de abrir mão como diretor nessa mesma novela para tentar atrair a audiência do público?
Muitas, mas com a convicção de que novela não é obra autoral. Suas ideias tem de ser divididas com muita gente. Acho que “Eterna Magia” foi injustiçada e os índices de audiência estiveram na média para o horário.

O que faria de diferente se tivesse que dirigir "Eterna Magia" hoje?
Lutaria ainda mais para que não nos desviássemos da linda ideia da Beth.

Como era sua relação com Elizabeth Jhin na época?
Excelente. Ela foi generosa, ótima companheira de trabalho. Elizabeth Jhin é uma lady. Espero um dia termos a oportunidade de fazermos algo juntos.

Por que, desde então, está sem dirigir novelas? Ainda tem vontade? Algum plano nesse sentido para o futuro que você possa nos revelar em primeira-mão?
Eu sou um soldado escalado atualmente para trabalhar na linha de show e estou feliz com essa descoberta. Há um enorme espaço ali para ser explorado e criado, diferente das novelas onde quase tudo já foi feito. Além do quê, novela é atividade conservadora e eu não tenho esse perfil conservador infelizmente. Não tenho tido tempo de elaborar um projeto de dramaturgia para o horário pós-novela, acredito que é uma ideia boa e que será bem recebida. Mas eu não tenho conseguido tempo. Dia desses farei.

O público de televisão "emburreceu"?
O Brasil piorou do ponto de vista cultural. Outro dia vi no Jornal Nacional que o brasileiro está gastando mais com roupas que com educação. Em curto prazo, isso vai dar merda. Famílias de baixa renda não têm como oferecer educação de qualidade aos filhos, as escolas e o currículo escolar brasileiros são uma piada de mau gosto, onde a carga horária é cada vez menor. Nossa presidente diz que no setor da educação vai tudo bem, o ministro da educação esta sendo cogitado a ser prefeito de SP. Isso tudo não tem nada a ver com televisão.

Com quais atores e atrizes você gosta de trabalhar?
Todos os bons. E são muitos hoje em dia.

Como foi trabalhar durante meses no “Domingão do Faustão”? Qual marca sua você conseguiu imprimir no programa?
Boa pergunta para Fausto Silva responder. Eu gostei muito de poder contribuir com algumas ideias no “Domingão”. Gostei enormemente de minha relação com Fausto Silva, que é um profissional exigente, que trabalha de verdade, incansavelmente em seu programa a semana toda e uma das pessoas mais generosas que já conheci. Nosso encontro se transformou em amizade que sei que será pra toda vida. Além disso, o “Domingão” tem uma equipe de gente espetacular muito bem regida por Jayme Praça e um grupo de diretores jovens que farão diferença num futuro próximo: Henrique Mathias, Adriano Ricco, Gustavo Alves, Cris Gomes. Sempre que o “Domingão” precisar de mim estarei a postos.

Por que todas as mudanças que você e Wolf Maya realizaram no “Criança Esperança”? Tem sentido uma resposta positiva por parte do espectador?
O “Criança Esperança” é nossa emoção maior dentro da TV, pois em 25 anos de existência já ajudou mais de cinco milhões de crianças a ter uma infância mais digna. Criança tem que brincar e alegrar nossas vidas. Precisam ser ajudadas a conquistar tão básicos direitos. Wolf e eu não paramos de pensar em como conseguir mais pro “Criança”. Estamos só começando.

O que desejaria realizar em TV ou teatro, mas ainda não conseguiu?
No teatro, quero fazer Shakespeare, sempre Shakespeare. Na TV, tudo.

Tem algum recado para nossos leitores?
Participem de tudo, mas participem.

(por Beatriz Villar)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Nenhuma revolução dramatúrgica

Revolução é uma palavra presente no título da novela “Amor e Revolução” e repetida à exaustão pelos personagens da mesma novela. Porém, em termos dramatúrgicos não há revolução alguma. Ou melhor, não houve evolução nenhuma por parte do autor Tiago Santiago.

Desde sua estréia como autor titular de novelas na Rede Record, em “A Escrava Isaura”, passaram-se sete anos e sete novelas e a imaturidade na construção das cenas e diálogos permanece a mesma. É mais do que claro que os capítulos das novelas criadas pelo autor não possuem ritmo, as cenas se alongam demais, os personagens repetem trocentas vezes as mesmas informações, além de serem explicativos e panfletários. Com “Amor e Revolução” não é diferente.

Ao ver as chamadas e trailers da novela – que foi muito bem divulgada pelo SBT, diga-se de passagem –, havia uma esperança de que tudo pudesse ter mudado. No entanto, ao nos depararmos com os primeiros capítulos, pudemos perceber que houve, sim, uma mudança do SBT no que diz respeito à produção caprichada e escalação do elenco. Mas direção e texto, infelizmente, não.

As cenas de ação chegam a ser risíveis. De ágeis não tem nada. Personagens falam demais e agem de menos. Outro dia, em uma cena em que Jandira (Lúcia Veríssimo) e Batistelli (Licurgo) são perseguidos e capturados pela polícia, ao invés dos policiais ou comunistas tomarem uma atitude, ficaram com as armas apontadas um para o outro falando aquele texto interminável. A verborragia é uma característica comum de Tiago Santiago (lembram de “Os Mutantes”?) e que destrói qualquer tentativa de ritmo aos capítulos. Prefiro acreditar também que os cortes lentos, planos e movimentações de câmeras escassos sejam mais uma linguagem do que uma caretice do diretor.

Por fim, há um grande erro no que diz respeito à motivação dos personagens. Está certo que todos eles vivam num momento histórico e político importante. Mas a revolução não é o que comanda a vida de todos. Pode ser para alguns, mas não para todos. Os personagens têm outras histórias para contar, outros objetivos também. E não foi o que vimos nesses primeiros capítulos. Todos só falavam do golpe e da revolução. Marcela (Luciana Vendramini) chegou ao ponto de em três ou quatro cenas do mesmo capítulo citar a data de 01/04/1964 como inesquecível. Pior: da última vez que citou, um outro personagem a corrigiu e disse que já era dia 02/04, havia passado da meia-noite. Assim não pode! É didatismo demais para ser dramaturgia.

Como disse Patrícia Kogut em sua crítica em “O Globo”, assistir “Anos Rebeldes” é uma boa aula de como se contar uma história.

Faz-se necessário comentar aqui que um grupo de militares está tentando impedir a veiculação da novela “Amor e Revolução”. É algo sério e que está diretamente ligado à censura. Não podemos permitir que isso aconteça. Estaríamos vivendo um retrocesso. Por favor, assinem a petição que tenta impedir que um absurdo desses aconteça: http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N8794.


QUENTE
A produção caprichada e a esperança de que o SBT volte a investir seriamente em dramaturgia de novo. Uma emissora que já fez novelas como “Éramos Seis”, “As Pupilas do Senhor Reitor” e “Sangue do meu Sangue” não pode se limitar a fazer “Revelação” ou “Vende-se um Véu de Noiva” e achar que está dando conta do recado!

MORNO
A atuação dos atores não está legal. O texto não ajuda e eles acabam prejudicados, ficam limitados. E olha que o elenco é interessante!

FRIO
A escalação de Gabriela Alves, Marcos Breda e Patrícia de Sabrit ser apenas para participação especial em alguns capítulos. Que casting é esse?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Em torno do Araguaia


O autor Walther Negrão há tempos parece não ser o mesmo autor de sucessos como “Direito de Amar”, “Fera Radical”, “Top Model”, “Despedida de Solteiro”, para citar algumas. Suas últimas novelas se tornaram uma incógnita. Impossível saber o que virá pela frente, se uma trama consistente, como “Desejo Proibido”, ou uma trama insossa, como “Como uma Onda”. “Araguaia” ficou no meio do caminho.

Apresentou, sim, uma trama muito interessante, envolvendo a maldição de todos os homens de uma família com sangue karuê. Todos estão pré-destinados a ter uma morte prematura. Antoninha (Regina Duarte), querendo impedir a morte de seu filho Fernando (Edson Celulari), decide dá-lo para Mariquinha (Laura Cardoso) criar longe do Araguaia. E a novela se inicia exatamente quando Fernando e seu filho Solano (Murilo Rosa) retornam à terra amaldiçoada. Fernando morre dias depois do retorno. Seria Solano o próximo?

A trama com cara de tragédia, o herói que não foge do que o Oráculo previu – a morte prematura, a maldição – é um ótimo mote. Uma progressão dramática que se intensifica quando Estela (Cléo Pires), a mulher que levará os homens dessa família à morte, se apaixona por sua próxima vítima. O que será dali para frente? Como se não bastasse, Solano ainda tem que enfrentar a ira de Max Martinez (Lima Duarte), o vilão que comanda toda a região e esteve envolvido na guerrilha e ainda denunciou seu avô, Gabriel, à polícia. Apaixona-se justamente pela filha de Max, Manuela (Milena Toscano). O galã fica dividido entre a índia que tem a missão de dar cabo de sua vida e a filha de Max, algoz de sua família.

No entanto, esta forte e interessantíssima espinha dorsal da novela ficou rodeada de tramas paralelas sem a menor graça e personagens coadjuvantes chatos. O mesmo erro que Negrão cometeu em “Era Uma Vez...” e “Como uma Onda”, por exemplo. E isso poderia levar a novela para o buraco. Felizmente, não foi o que aconteceu. “Araguaia” passou batido até a metade de sua exibição. Mas, da metade ao final, por conta da intensificação do conflito principal, do triângulo amoroso bem formado e das grandes armações de Max, caiu na boca do povo. Foi bastante comentada e a audiência cresceu. Habilidade e experiência do autor.

A direção de Marcos Schechtman foi precisa e caprichada. Merecidamente virou diretor de núcleo e teve a oportunidade de assinar uma novela que não fosse de Glória Perez. Algumas críticas às imagens lentas e excessivas do Araguaia saíram na imprensa. Mas tem coisa melhor do que esse respiro das novelas fora do eixo Rio-São Paulo?

Só lamento que os últimos capítulos da novela foram aquém do esperado. Ao invés de intensificarem a trajetória trágica de nosso herói por conta da maldição que era o fio condutor de toda a novela, optaram pelos caminhos mais fáceis. Logo trouxeram um novo par para Manuela, vivido por Henri Castelli, deixando o caminho livre para Solano ficar com Estela. E este, ao invés de ter um final apoteótico e morrer, acabou sendo salvo por uma solução esdrúxula: um recado mandado pelo índio Apoena em que, quando o bebê de Estela nascesse, ele deveria ter o cordão umbilical cortado pelo guerreiro perdido, Gabriel (Juca de Oliveira), e, assim, a maldição teria fim. Muito fraco para uma história que era bem maior que isso.


QUENTE
Alguns destaques do elenco não podem passar despercebidos, tais como Laura Cardoso (sempre!), Lima Duarte, Milena Toscano (foi muito injustiçada pelos nossos jornalistas), Raphael Vianna, Cléo Pires e Julia Lemmertz (por que ela não faz novela das oito?).

MORNO
Murilo Rosa é um ótimo ator e todo mundo sabe disso. Porém, esteve muito parecido com o personagem que protagonizou em “Desejo Proibido”. O galã boa praça, engraçado e apaixonante. O ator precisa se reciclar ou trabalhar com outros autores; caso contrário, não vai conseguir fugir dos vícios de certos tipos.

FRIO
Chatos demais aqueles núcleos do circo e do orfanato. Criança em novela só é bom quando tem o talento de Klara Castanho ou Davi Lucas, por exemplo.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Entre um episódio e outro...

A Rede Globo estreou no início deste mês a nova programação de 2011. Nada de muito novo, levando em consideração que, pelo menos há mais de dez anos não há nenhuma alteração significativa. Querem um exemplo? Em 1997, o jornal local muda de nome e horário, fechando neste rígido esquema o tão conhecido “horário nobre”: novela das 18h – jornal local – novela das 19h – Jornal Nacional – novela das 20h (hoje, 21h) – linha de shows – Jornal da Globo. Mesmo que insignificante (pois o jornal local já era transmitido antes do Jornal Nacional), esta foi a última mudança que a Rede Globo efetuou em sua grade noturna. Isso há quase quinze anos. Então, resta-nos a pergunta: onde há nova programação? Na linha de shows, uma faixa horária bastante flexível que pode transmitir desde Chico Anysio até Tela Quente, chegando mesmo a colocar em um mesmo patamar programas como “A Grande Família” e “Linha Direta”. Entretanto, nesta estreia de 2011, uma profusão de seriados invadiu esta faixa.

Depois do Fantástico (que está bem longe dos gloriosos dias), estreou “Batendo Ponto”, um programa bem escrito, com os competentes Ingrid Guimarães e Pedro Paulo Rangel, direção regular (muito mais focada no tempo da comédia e suas marcações do que no ritmo do episódio como um todo). E só! Ainda falta alguma coisa para que esta série ache seu tom. Além disso, é de um profundo mau gosto veicular no domingo à noite as agruras que o ambiente de trabalho nos proporciona. Basta esperar algumas horas e, voilà: segunda-feira, 8h e lá vamos todos nós bater o cartão e transformar em pesadelo e terror o que, no dia anterior, foi tratado com ironia e sarcasmo.

Às terças, para substituir o “Casseta & Planeta Urgente” (revolucionário programa na TV, mas que foi vencido por um inexorável inimigo: o tempo) foi programada a série “Tapas & Beijos”. Simples, com um excelente texto, cenas muito bem dirigidas e, principalmente, atuações fantásticas. Todo o elenco (sob a competentíssima batuta de Maurício Farias) está adequado a seus personagens, mas o grande mérito é a união de Andrea Beltrão e Fernanda Torres, reconhecidamente perfeitas na comédia. Outro ponto positivo é a abertura, muito bem humorada e criativa. Acima de tudo, Tapas & Beijos foi uma grande sacada do autor Cláudio Paiva, que ambientou os conflitos amorosos de duas vendedoras justamente em um comércio que se alimenta do ponto mais alto do amor idealizado: uma loja de vestidos de noiva.

Ainda às terças, “Divã” estreou com grande expectativa. Após uma bem-sucedida carreira no teatro e no cinema, os dilemas e questionamentos de Mercedes (Lília Cabral) chegam agora à televisão, com Nova York, Totia Meirelles e um retorno ao analista (mesmo após a alta clínica concedida pelo mesmo). Lília Cabral, como tem acontecido há muitos anos, está perfeita em seu papel. A direção de José Alvarenga Jr. é um primor, afinal de contas, poucos no Brasil têm a mesma competência em seriados como ele. Além disso, vale a pena comentar a atuação de Marcello Airoldi, discreto e perfeito (apesar das poucas oportunidades neste primeiro episódio).  Entretanto, o texto de Marcelo Saback apresenta altos e baixos. Por entre diálogos inteligentíssimos (o melhor deles, para mim, foi “A Mercedes está na nossa cama”, o breve que significou tudo), algumas situações forçadas (como o insistente cruzar entre as personagens de Lília Cabral e Patrícia Pillar) e a parca função de Totia Meirelles como apenas a orelha de Mercedes tornam o seriado menos do que ele pode ser.

De “A Grande Família”, pouco falarei, pois não se trata de uma estreia e, sim, do início do décimo primeiro ano. Sim, desde 2001 convivemos com a família Silva. Apesar de o roteiro se alimentar de situações do nosso cotidiano (e como aproveita bem), o seriado perdeu muito do brilho e da qualidade de anos atrás. Está apenas regular. Uma reformulação faria muito bem ao programa.

Em seguida, tivemos a estreia do spin off “Lara com Z”. Sobre este, tenho duas opiniões. À primeira vista, o texto de Aguinaldo Silva e Maria Elisa Berredo é cirúrgico, excelente e muito bem armado. A direção de Wolf Maya é forte e significativa, assim como o elenco e a temática. Suzana Vieira teve que dividir os aplausos com a elegantíssima Eliane Giardini como Sandra Heibert (Pronunciada por Lara como “Reipert”. Coincidência?...), a impiedosa crítica teatral. Uma inteligente fusão entre duas críticas conhecidíssimas – uma televisiva, a outra teatral. Porém, revendo o episódio é possível perceber algumas arestas. Suzana Viera representa na TV nada mais que sua persona pública (atenção, não falo aqui da Suzana Vieira como pessoa e, sim, da imagem que ela construiu – ou foi construída para ela – nos últimos anos). Ou seja: uma excelente atriz, mas arrogante, dona de um ego i-men-so (apesar de suas fragilidades) e, principalmente, ácida. Muito ácida. Além disso, é muito estranho todos os atores jovens do elenco possuírem o mesmo padrão de beleza andrógina (e pouquíssimas oportunidades para demonstrar talento). Que o diga Pierre Baitelli.... Por fim, a abertura e música tema são altamente inspiradas, com uma excelente Elza Soares apresentando muito bem a personagem Lara Romero.

A última estreia da semana foi “Macho Man”, dos cada vez melhores Alexandre Machado e Fernanda Young. Não é para menos: o horário das 23h das sextas-feiras é deles, e por merecimento. Basta recordar de “Os Normais”, “Os Aspones”, “Minha Nada Mole Vida” e “Separação”. Marisa Orth está adequada ao papel, mas o grande destaque é Jorge Fernando, excelente como o ex-gay. Uma grande oportunidade para ele se livrar de alguns vícios como diretor e poder se reinventar como ator. Mais uma vez, a competentíssima direção de José Alvarenga Jr.

Ao final da semana, percebo que a temporada de estreias foi, no mínimo, diferente, já que o Brasil não tem a tradição de produzir sistemáticos seriados, diferente da produção americana. Um dos motivos para tal é buscar inovações em técnicas e linguagens que, segundo pensam erroneamente os executivos de televisão, não caberiam na telenovela. A diversidade entre telenovelas, minisséries e seriados é importante, mas um não pode diminuir o outro, jamais! É evidente que há um grande investimento em seriados por parte da emissora, principalmente em formatos com poucos episódios. Por um lado, traz agilidade à programação, que a cada três ou quatro meses pode se adaptar às exigências desse deus voluntarioso e atual que é a Audiência. Porém, assim como a telenovela, o seriado tem um tempo necessário para se desenvolver, ganhar público e atingir clímax. Com oito episódios, isso fica bastante difícil.

Igualmente difícil é o formato seriado não ter autores e elenco pertinentes a ele, o que força a escalação de profissionais muito ligados à telenovela. Esta alternância prejudica a continuação da série, pois o distanciamento entre temporadas é estendido pelo tempo de uma novela. Veja o caso de Aguinaldo Silva e Lília Cabral, que só verão a segunda temporada de “Lara com Z” e “Divã” após o final de Fina Estampa (próxima novela das 21h da qual os dois são os principais nomes), no segundo semestre de 2012.

Entre um episódio e outro, o que se pode concluir desta leva de séries nacionais é que a Rede Globo tenta implantar aqui o mesmo modelo de produção de séries americanas de sucesso mundial. Mas ainda há um longo caminho a percorrer...

(por Jordão Amaral)

domingo, 10 de abril de 2011

Entrevista: Thelma Guedes

Thelma Guedes faz parte da nova geração de autores da TV Globo. Por muitos anos foi colaboradora de Walcyr Carrasco e passou a assinar novelas como autora-titular, ao lado de Duca Rachid, com o remake de "O Profeta". Após o sucesso de "Cama de Gato", Thelma assina nova novela junto com Duca, "Cordel Encantado", que estréia amanhã. Uma ótima entrevista para vocês acompanharem!




Ao contrário de muitos colegas (que vieram do jornalismo, Rádio e TV, ou do próprio teatro), você é formada em Letras. Como você avalia o diferencial que este curso te trouxe para a TV?
Como sempre digo, cursar Literatura foi importantíssimo para a minha vida, em muitos sentidos. Eu era uma leitora voraz, mas sem nenhuma sistematização. O curso foi bom para me tornar uma leitora menos ingênua, para dar um rumo à minha literatura e me deixar um pouco mais segura, com maior domínio sobre a linguagem e a criação literária. Pra mim foi importante. Mas não acho que seja fundamental para se escrever novela fazer o curso de Letras. Acho essencial sim que qualquer autor tenha muita bagagem, referências literárias, fílmicas, mas isso pode vir de outras experiências: ler muito, observar, assistir cinema e TV, se manter antenado no mundo, em contato com a nossa matéria-prima primordial: a vida! Isso sim faz toda diferença!

Sua primeira novela solo com Duca Rachid foi um remake (O Profeta, 2006). A segunda, uma trama contemporânea inspirada na história de Jó (Cama de Gato, 2009). Agora, "Cordel encantado" traz o nordeste, reis, cangaço e lirismo como características bastante fortes. É proposital esta busca por renovar a temática das suas novelas? Qual é a orientação para a busca de novos temas a explorar?
Não, não foi proposital. A gente é mesmo muito assim, eclética. Gostamos de muitos temas, muitas questões nos interessam. Os projetos vão surgindo ao sabor de nossos papos, observações, leituras, ideias jogadas ao vento... Acho que é esse acaso que nos orienta!

Onde está presente a Thelma Guedes poeta em suas novelas?
Acho que em nada! (RS) São registros absolutamente diversos. Talvez a única ligação que haja entre a minha poesia e as minhas novelas seja a visão que eu tenho do mundo. Esta estará em tudo o que eu fizer e escrever. Porque tudo que eu escrevo tem verdade. Eu não escreveria nada em que eu não acreditasse.

Por que um período tão grande entre o remake de “O Profeta” e “Cama de Gato”? A concorrência para emplacar novelas na Globo está grande entre os autores?
Não acho que tenha havido um intervalo tão grande assim. Entre um projeto e outro foram só dois anos e meio. Período mais que razoável para que um autor se recicle. Agora entre Cama de Gato e Cordel Encantado é que foi praticamente emendado. Porque queríamos muito escrever Cordel, que era um sonho antigo. Lutamos por este projeto. Ele teria que ser agora, senão acho que o momento dele passaria! Quanto à concorrência, acredito que ela seja grande em todos os setores. Mas não fico pensando nisso. Duca e eu amamos tanto o que fazemos que em cada reunião de trabalho nossa temos ideia de uma novela... A gente simplesmente não para de pensar em histórias. Não ficamos pensando em concorrência. Nunca sequer tocamos no assunto. Se temos uma boa história, sentamos, escrevemos e oferecemos à emissora.

De que forma você e Duca Rachid conseguem dividir a liderança de uma novela? Como é organizado o trabalho entre vocês duas, desde a primeira ideia, passando pela sinopse, até chegar aos últimos capítulos?
A gente funciona muito bem em dupla. Uma tem uma ideia; a outra aumenta; a primeira aumenta mais um pouco; a outra enlouquece a idéia. Quando chegamos à história que queremos contar nem sabemos mais de quem foi a ideia inicial. É uma loucura. Assim é com a ideia da história. Mas no dia-a-dia, a gente se encontra diariamente, estruturamos o capítulo juntas, passamos para os colaboradores. Depois relemos, mexemos, passa tudo pelas duas. Construímos uma dinâmica criativa incrível, que funciona maravilhosamente bem.

Como é a divisão de trabalho com os colaboradores?
Passamos a estrutura de cada capítulo para eles, com as cenas divididas. Eles devolvem, nós juntamos, revisamos. Mexemos. Devolvemos para eles lerem, opinarem, darem idéias. Ouvimos todos e quase sempre acatamos as críticas e ideias, porque eles são feríssimas. Sempre temos um colaborador mais próximo, funcionando como um co-autor, um braço direito, que faz a primeira montagem do capítulo e a primeira revisão, já dando uma enxugada. Em Cama de Gato foi o Júlio Fischer. Nesta está sendo a Thereza Falcão. Também colocamos um colaborador sempre do lado da produção. Tem sempre um deles em contato com o pessoal do site. Sabemos dividir bem o trabalho. Todo mundo se sente motivado, vestindo e suando a camisa junto. As nossas novelas são de fato um trabalho em equipe. E só queremos feras com a gente!!! Amamos a nossa turma!!! Eles são o máximo. Neste momento estamos trabalhando com umas mulheres incríveis: Thereza Falcão, Manuela Dias, Daisy Chaves. E na pesquisa a Luciane Reis. Agora vão entrar o Júlio Fischer e o Alessandro Marson que sempre trabalharam com a gente.

Você colaborou com Walcyr Carrasco em “O Sítio do pica-pau amarelo”, “Esperança”, “Chocolate com Pimenta” e “Alma Gêmea”. Como surgiu essa parceria?
Há alguns anos atrás, eu era bem atuante na associação de roteiristas (ARTV). Usando da minha experiência como produtora de eventos (eu era divulgadora na Editora da USP antes de ser roteiristas de TV), eu promovia cursos, debates, encontros com roteiristas. Num desses eu convidei o Walcyr. Ele foi com a minha cara. E acho que, vendo como eu era organizada e ativa, ele acabou me chamando para trabalhar. Foi uma parceria muito legal. Devo muito a ele!

Qual era seu papel como colaboradora nas novelas do Walcyr?
Eu sempre digo que, como colaboradora, eu fazia tudo para deixar o Walcyr livre para criar. O Walcyr não faz escaleta. Ele tem um processo criativo muito intuitivo e ágil. Ele escreve um capítulo inteiro às vezes em duas, três horas. Então, ele me mandava o capítulo pronto, para eu revisar. Eu, além de revisar, enxugar, eu dava opinião (enchia o saco dele! Eu era uma pentelha, coitado! RS RS RS). Cuidava da memória da novela. Ficava atenta a problemas de continuidade. Ficava com o editor, resolvendo problemas de tamanho de capítulo, para não perder os ganchos. Eu servia como uma rede de segurança do Walcyr. E com isso aprendi muito.

Como foi a mudança de relação com ele quando você deixou de ser colaboradora dele, passou a assinar uma novela, “O Profeta”, e ele se tornou supervisor?
A mudança foi grande, claro! E não poderia ser diferente.  Era o mestre dando a oportunidade para seus aprendizes (no caso a Duca e eu) darem os primeiros passos. O mestre com muito cuidado e receio de que os discípulos errassem. Por sua vez, os discípulos querendo andar com as próprias pernas. Uma tensão que teve um final muito feliz. Somos muito amigas do Walcyr, super gratas a ele por ter nos dado a oportunidade para que nos tornássemos autoras.

Qual foi o papel de João Emanuel Carneiro em “Cama de Gato”? Ele deu pitacos importantes na condução e ritmo da trama? Quais?
Poxa, o João é um marco na nossa historia. Também devemos muito a ele. Porque foi ele quem escolheu a nossa sinopse, dentre tantas que ele leu. Temos muitas afinidades artísticas e estéticas com ele. E ele deu grandes contribuições à nossa história. Talvez do que mais me lembro são dos questionamentos dele em relação às motivações dos personagens. Esses questionamentos acabavam definindo melhor as suas trajetórias. Em relação ao ritmo propriamente não houve muita mudança. Porque, tanto ele quanto nós duas, temos uma tendência à aceleração das coisas. Não gostamos de tramas paradas.

As tramas de “Cama de Gato” foram desenvolvidas exatamente como previstas desde o início ou tiveram mudanças ao longo do caminho? O que mudou, por exemplo?
Que eu me lembre, tudo estava planejado. O difícil foi manter a morte da Débora e do Alcino, mediante os apelos do público. Mas fomos corajosas e mantivemos! Porque achamos que isso era importante para aquelas histórias que queríamos contar.

Júlio Cortázar diz em “Valise de Cronópio” que o conto é uma luta contra o tempo, quase um duelo contra o cronômetro. A poesia trabalha com a dimensão de minimizar para poder maximizar os sentidos. Você credita à experiência nestes específicos gêneros literários uma narrativa mais coesa e rápida em suas novelas?
Não sei não. Acho difícil fazer esse tipo de análise sobre mim mesma, estando dentro de mim... rs Além do mais, na novela eu escrevo em parceria. E tanto eu quanto a Duca somos assim, ansiosas para ver uma história acontecer logo, sem muita embromação. Às vezes, corremos até demais. Recentemente, a nossa co-autora, Thereza Falcão, deu um toque para uma determinada trama que estava acelerada demais. Disse: Poxa, mas a gente nem pôde curtir um pouco isso... Então, Duca e eu voltamos atrás, dando mais tempo para a trama se desenvolver. E de fato não consigo relacionar muito o que escrevo em conto e poema com a criação da novela. São registros absolutamente diferentes. Pra mim, o conto é um golpe bem dado no leitor. Tem que ser rápido e profundo, para ficar nele, deixar uma forte impressão. Um poema é um sopro, um enigma, um desafio à imaginação. É o dizer sem revelar. É a esfinge, o mistério da vida, que não se consegue oferecer, só rondar. É uma gota de perfume, que instiga os sentidos do leitor. A novela não. É o contrário! Uma epopéia, rica, cheia, longa, histórias dentro de histórias, digressões, um grande painel, um novelo de tramas, que enreda, prende, brinca, oferece. Nela é tudo muito!

Como trabalhar uma narrativa com um ritmo ágil sem desenvolver as diversas tramas de maneira superficial?
Esta é a nossa grande pergunta! O grande desafio e objetivo perseguido por todos os autores!

Você e Duca deixam os atores mexerem no texto, inserirem cacos ou eles devem falar ipsis litteris tal qual está no roteiro?
A gente deixa um pequeno espaço de manobra para o ator. Mas bem pequeno mesmo. Porque pensamos muito em cada palavra que colocamos lá... E cada palavra a mais ou diferente pode ter implicações no futuro do personagem. Um futuro que o ator não conhece ainda. Quem detém a trajetória, a história do personagem somos nós.

Paola Oliveira foi protagonista de “O Profeta”, a vilã de “Cama de Gato” e seria a protagonista de “Cordel Encantado”. Ela é um talismã para vocês?
Encarar a Paola como apenas um “talismã” seria diminuir o valor dela como atriz. Na verdade, queríamos a Paola na novela por ela ser uma grande atriz e porque a adoramos! Mas nem sabíamos se ela seria mesmo a Açucena. Aliás, a Bianca Bin foi o primeiro nome cogitado para este papel. A ideia era oferecer para a Paola o papel que ela quisesse fazer!

O que podemos esperar de “Cordel Encantado”, que estréia amanhã, dia 11, às 18h?
Eu, claro, sou suspeita para afirmar qualquer coisa sobre esta novela. Então, eu pergunto: O que se pode esperar de uma novela onde reis, rainhas, príncipes, princesas, marqueses, duquesas andam pelo sertão brasileiro, convivendo entre cangaceiros, profetas, coronéis? Onde um rei de um reino europeu descobre que seu grande amor é uma cozinheira negra e sertaneja? Onde se misturam grandes amores, intrigas palacianas, duelos, conflitos entre coronéis e bandoleiros? Só pode ser um grande caldo de vida, sonho, emoção, humor, não é?

Participaram ativamente da escalação do elenco?
Sim, nossos diretores e nosso produtor de elenco nos ouviam e nós duas os ouvíamos, trocamos impressões e ideias, até chegar neste elenco fantástico juntos!

“Cordel Encantado” será uma novela de apenas cinco meses, assim como foi "Cama de Gato". Essa é uma opção sua e da Duca ou da empresa?
Da empresa sim, com total aprovação nossa! É ótimo que essa história seja contada sem "mais delongas"!

Você acredita que houve uma aposta maior em “Cordel Encantado”, em termos de produção, elenco etc após o sucesso de “Cama de gato” ou isso é bobagem?
Acredito que um trabalho bem sucedido dá um pouco mais de confiança por parte de empresa em relação a nós duas. É natural. Mas Cama de Gato também foi uma grande aposta muito bem produzida e com um elenco de primeiríssima!

Vocês estão lançando algum autor novato na equipe de colaboradores da novela?
Há uma colaboradora nossa que colabora em novela pela primeira vez: a Manuela Dias. Antes, ela trabalhou em seriados. O último foi Aline. E ela está se saindo super bem. Ela é o máximo! A Thereza Falcão e a Daisy Chaves já são veteranas em colaboração. Precisam agora se aventurar com projetos próprios. Posso dizer o mesmo de Júlio Fischer e Alessandro Marson. Os dois são feras, disputados a tapa pelos autores!

Por que a renovação de autores de novelas é tão lenta?
Não acho que seja tão lenta não. Ultimamente muitos novos autores vêm sendo lançados. Nós somos um bom exemplo disso. Mas temos vários outros.

Nosso colaborador, Jordão Amaral, escreveu um artigo dizendo que nossa dramaturgia na época de “Vale Tudo” era mais ousada e o público também. Você concorda com a afirmação?
Respeito a opinião do Jordão. Aliás, ouço muito esse tipo de comentário. Mas sabe o que eu acho de verdade? Que é a coisa mais difícil ter hoje o distanciamento para fazer esse tipo de análise com clareza. Ainda é cedo, porque estamos ainda vivendo um grande momento da transição da telenovela e da televisão em geral, mediante tantas mudanças na sociedade e nos suportes de entretenimento. Não acho que a gente deva ficar preso ao passado e ficar comparando o tempo todo o que foi feito com o que se faz hoje. Eu amo as novelas de anos atrás. Mas o público mudou. A vida mudou. Os desafios dos autores hoje são absolutamente diferentes. Não gosto nada desse saudosismo. Aliás, muitos autores que fizeram a historia da televisão brasileira estão aí, criando novelas maravilhosas. Mas sinceramente, não me preocupo com essa reflexão. Deixo este trabalho para os especialistas. A minha tarefa é fazer o melhor possível o meu trabalho hoje!

Como conquistar uma boa audiência, atrair público, para a frente da televisão e fazê-lo acompanhar sete meses de novela?
Caramba! Que pergunta difícil essa... A resposta a ela é a fórmula que eu persigo! E acho que todos os autores perseguem, né?

A AR – Associação de Roteiristas – já se manifestou contrária à Classificação Indicativa de programas de TV realizada pelo Ministério da Justiça. Você apóia essa posição? Acredita que seja mesmo uma censura velada do nosso governo? Ela limita a criação do autor?
Não acho que a posição da Associação seja uma censura ao governo. São posições e interesses diferentes em jogo, só isso. Eu defendo a liberdade de criação com responsabilidade. Mas ao mesmo tempo entendo que haja a preocupação do governo em relação a abusos que possam ocorrer em relação ao que é veiculado por um meio de massas tão abrangente como se tornou a televisão. Mas acho que as emissoras devem se auto-regularem. Na minha opinião, a consciência e responsabilidade de quem faz o produto deve ser o melhor caminho.

O que achou do blog? Tem algum recado para nossos leitores?
Achei um espaço muito bacana, super interessante porque fala de maneira serio sobre televisão. Vocês estão de parabéns! Bom, vou aproveitar o espaço que vocês estão me oferecendo para convidar os leitores do blog, que certamente apreciam televisão, a assistirem Cordel Encantado. Porque realmente é um trabalho feito com o coração. Um presente que a gente quis dar ao telespectador! Dia 11 de abril lembrem de ligar a TV às 6 da tarde, tá? Provem o primeiro capítulo! É uma delícia!

(por Beatriz Villar)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Por que “Insensato Coração” não decola?

Essa é a pergunta que não quer calar. E por quê? Porque Gilberto Braga é um dos autores mais festejados e mais aguardados no horário das nove da Globo. Sempre surgiu com tramas ágeis, fortes e críticas, vilões detestáveis, capazes das atitudes mais sórdidas, e elenco espetacular. Quando iniciou uma dobradinha com Ricardo Linhares, veio “Paraíso Tropical”, que já não tinha muito a cara de Gilberto Braga. “Insensato Coração”, então, nem se fala!

A sinopse divulgada pelo jornal Extra antes da estréia – o que gerou grande polêmica na época – apresentou uma novela interessante, o ótimo vilão Léo (Gabriel Braga Nunes), a história de vingança de Norma (Glória Pires), avião sequestrado, máfia dos caça-níqueis, entre outras. A expectativa foi criada. E a frustração, após o início da novela, inevitável.

Embora condene totalmente a postura de Ana Paula Arósio, que foi antiprofissional ao abandonar o trabalho durante as gravações, sendo que estava escalada há mais de um ano, ficam óbvios agora os motivos que a levaram a fazer isso. A personagem é ruim, não tem função na história e sua trama de protagonista é a mais sem graça da novela. Os críticos de plantão estão caindo matando em cima do desempenho de Paola Oliveira, mas ela não está ruim no papel de Marina, está apenas correta. Nossos jornalistas costumam confundir muito personagens ruins com atuações ruins. Taís Araújo foi vítima disso em “Viver a Vida”. Que culpa ela tem se toda Helena de Manoel Carlos não tem história? Aliás, as últimas novelas todas de Manoel Carlos não têm história alguma, ficam quase nove meses no ar sem contar absolutamente nada!

Bem, voltemos a falar de “Insensato Coração” e o casal principal: Eriberto Leão, sim, está ruim e não segura o papel. Virou um chato logo nos primeiros capítulos e sua atuação deixa bastante a desejar. Além disso, como acreditar no amor daquele casal que se conhece dentro de um avião sequestrado? Como se envolver com os obstáculos para o casal ficar junto se não pudemos conhecer direito tais impedimentos? Não conhecíamos o relacionamento de Pedro com Luciana (Fernanda Machado) e, ainda por cima, os autores destruíram o principal conflito do casal ao fazer Marina repetir inúmeras vezes que ela e Luciana nem eram tão amigas assim. Se Marina não estava traindo Luciana, já que não eram amigas, não havia motivo para tanta culpa e desespero. Aliás, Marina vive rodeada de “nem tão amigas assim”, como é o caso de Úrsula (Lavínia Vlasak).

Já no segundo capítulo, Pedro e Marina descobriram que ela era a tal amiga de que Luciana tanto falava e que seria madrinha de casamento. Seria uma revelação impactante para a história dos personagens, se não tivesse acontecido tão rápido e logo no segundo capítulo. Ninguém havia ainda se envolvido com o amor do casal, ninguém conhecia aqueles personagens e suas motivações. Ou seja, erro grave. E agora a consequência: mais um casal de novela das oito que não emplacou. Os momentos iniciais de uma novela são essenciais para se criar um casal protagonista e esses momentos foram desperdiçados.


De outro lado, a história de Norma anda em círculos, sendo que é a mais esperada da novela. Desde o início, deveria ter sido assumida e tratada como a única e absoluta espinha dorsal da novela. Mas não foi. Está presa ao desenvolvimento de outras tramas para poder acontecer, quando deveria ser o inverso. Norma ainda está na cadeia, parece que sua trajetória de vingança se inicia em maio, sendo que a novela termina no início de agosto. O público está angustiado, louco para ver Glória Pires como vilã. No caso, nem tão vilã assim, já que vai fazer justiça contra o homem que destruiu sua vida. Autores de novelas, ouçam: dêem uma vilã de verdade para Glória Pires urgente! É o que mais sonham os espectadores há anos!

Outro ponto a ser pensado é a questão das participações especiais. Isso traria certa dinâmica à história contada. Até concordo, desde que essas participações estivessem relacionadas à história principal e ajudassem a levá-la adiante. No entanto, se perceberem, a maioria das participações especiais está relacionada a tramas paralelas. Outras participações, que tinham tramas fortíssimas a serem desenvolvidas, logo foram descartadas, como a de Umberto (José Wilker) e o conflito com o irmão, Raul (Antonio Fagundes); a vingança de Jonas (Tuca Andrada) contra a família de Vitória (Nathália Thimberg); a participação de Lavínia Vlasak, Úrsula poderia se tornar a verdadeira pedra no sapato de Marina; a trama de mulher traída de Clarice (Ana Beatriz Nogueira), que em breve morrerá.

Enfim, “Insensato Coração” foge dos conflitos, parece querer driblar todos os dramas dos personagens e todas as tramas que poderiam interessar ao espectador, em prol de outras histórias absolutamente sem graça. E o que fica ao público é uma novela incolor, insípida e inodora. Tanto é que, já no segundo mês de exibição, entrou numa esquisita barriga em que nada acontecia e andava para frente.


QUENTE
Antonio Fagundes e Ana Lúcia Torres são os dois grandes destaques da novela, como Raul e tia Neném. Fagundes há tempos merecia voltar a uma novela das oito com um bom texto. E o cinismo de tia Neném não seria tão sutil e divertido se não fosse Ana Lúcia Torres.

MORNO
O vilão Léo que nem parece um vilão de novela do Gilberto Braga. Começou bem, parecia que iria aprontar uma atrás da outra e o que vemos é uma morosidade em suas armações.

FRIO
A quantidade de mortes ao longo da novela, que parecem existir apenas para se livrar das tais participações; o fato de Pedro ser piloto de avião e isso não influenciar em nada a trama principal; as tramas repetidas que mais parecem falta de criatividade, tais como o novo golpe de Leo, os diversos relacionamentos de Cortez (Herson Capri) e Teodoro (Tarcísio Meira), os pegadores de plantão, vividos por Lázaro Ramos e Petrônio Gontijo etc; os personagens estarem divididos em Santa Catarina, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, o que só prejudica a relação entre os personagens e o desenvolvimento das tramas.