sábado, 22 de dezembro de 2012

Cenas Inesquecíveis: Branca x Milena

Branca e Zilá também estão às voltas com os preparativos do Natal. E quando uma trégua parecia dar sinal de vida na relação de Branca e Milena, a descoberta...



quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Uma boa novela

De todas as telenovelas inéditas que estão no ar atualmente, sem dúvida nenhuma a melhor delas é “Lado a Lado”.


Surpreendentemente, os autores João Ximenes Braga e Claudia Lage conseguem contar uma história que mistura ficção com fatos reais sem cair no didatismo e sem se tornarem panfletários. A novela trata do período pós-escravidão, início das favelas no Rio de Janeiro, preconceito contra negros e contra mulheres livres e independentes, Revolta da Vacina, Revolta da Chibata... E tudo conduzido por uma trama contundente.

Há quem diga que a novela é lenta, que as tramas demoram a desenrolar. Embora não concorde com a colocação, mesmo que isso fosse verdade, tal lentidão acaba sendo ofuscada por capítulos visivelmente planejados e enganchados, diálogos muito bem construídos e escritos, além, claro, de uma direção precisa.

Com um elenco afiado e afinado, a novela ainda traz presenças não muito constantes nas novelas, como é o caso de Maria Padilha, Patrícia Pillar, Alessandra Negrini e Beatriz Segall (em participação especial que, inclusive, já se encerrou há algum tempo). É sempre muito prazeroso ver o talento de Camila Pitanga e Marjorie Estiano encabeçando e abrilhantando uma novela.

Não podemos deixar de citar Lázaro Ramos e Thiago Fragoso, os outros dois protagonistas. Com este quarteto, a novela conta a história destes dois casais, unidos pela amizade de Isabel (Camila Pitanga) e Laura (Marjorie Estiano), e que vivem situações muito parecidas ao longo da vida, só que de maneiras diferentes por conta de suas respectivas condições sociais e cor de pele.

Por fim, não podemos deixar de elogiar toda a equipe envolvida na novela, produtores, diretor de fotografia, figurinistas, cenógrafos etc. É uma produção caprichadíssima que enche os olhos do público que a assiste.

Diante, então, de tantos argumentos positivos, por que a novela apresenta baixa audiência? Muitos são os fatores, inclusive o horário de verão e o trânsito cada vez mais caótico. No entanto, é sempre importante termos em mente que alta ou baixa audiência não é sinônimo de um produto bom ou ruim. Apenas para citar alguns exemplos, “Fina Estampa” era péssima e teve uma boa audiência; “Força de um desejo” era ótima e teve baixa audiência, assim como a diver-tida “Desejo Proibido”.

O que acredito, em relação à “Lado a Lado”, é que ela tem uma trama forte, que traz situações e um clima um tanto quanto pesados para o horário das seis, onde o público cada vez mais gosta de histórias “água com açúcar”. E outra coisa que depôs contra a novela foi sua campanha de lançamento, convenhamos, com peças horrorosas onde os protagonistas apareciam muito feios.

Porém, nada tira seu mérito de ser uma inteligente e boa novela!

(por André Torres)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A frustração do último capítulo

Escrever uma novela nunca foi tarefa das mais fáceis para os autores. Escrever uma novela de sucesso, então, hoje em dia é mais do que uma árdua batalha. “Avenida Brasil” conseguiu esse feito: sucesso na televisão, nas redes sociais e na boca do povo.

Não foi uma novela exemplar, teve suas falhas. Mas os acertos foram muito maiores do que os erros. A principal marca de estilo de João Emanuel Carneiro é a narrativa concentrada, com foco na trama principal do início ao fim da novela. Em “Avenida Brasil”, não foi diferente. No entanto, foi sua única novela em que todos os núcleos estavam muito bem amarrados com a história central.

Com um enredo forte, a vingança de Rita (Débora Falabella) contra a madrasta má, Carminha (Adriana Esteves), o autor conseguiu prender a atenção do espectador. Fato é que a novela não começou como um estouro. Seu grande sucesso chegou perto do tão falado capítulo 100 e sua aguardada reviravolta, onde Carminha descobre que Nina é Rita, sua enteada e a única que poderia acabar com seus planos de dar o golpe na família de Tufão (Murilo Benício).

Não podemos deixar de exaltar também toda a equipe de direção e produção. Não é à toa que o núcleo Ricardo Waddington anda na crista da onda na emissora global. É a equipe que, nos últimos anos, mais se preocupa com um acabamento geral: capítulos com uma direção impecável, cenas bem decupadas, fotografia caprichada, atores bem conduzidos. Além de sempre trazer um certo frescor em seu elenco (sim, existem muitas repetições; no entanto, há sempre boas surpresas).

E aí, diante desse sucesso estrondoso, começam as derrapadas. “Avenida Brasil” começou a andar em círculos, pelo menos aos olhos do público. O autor, desde o início, compartilhou com o público a maioria dos segredos dos personagens. Quando os outros personagens começaram a descobrir tais segredos, o espectador já estava cansado de sabê-los e dava a impressão de que a trama não andava para frente, o que não é verdade. Esta é uma armadilha perigosa para qualquer autor.

Em seguida, veio a história das fotos da traição de Carminha com Max (Marcello Novaes). Óbvio que, em plena era digital, é inaceitável que uma personagem perca provas tão importantes e que ela só as tivesse em cópias impressas. Pen-drive, computador, cd, DVD, e-mail na cabeça do autor não existem. Ele ainda teve a coragem de dar uma entrevista dizendo ser totalmente alheio a essa parafernália digital. Ok, ele até pode ser. Mas a pergunta que fica é: ele não tem colaboradores e pesquisadores que poderiam apontar tal erro grotesco?

E Begônia (Carol Abras), a irmã de Nina, então? Conta para um sujeito que acabou de conhecer na rua – no caso Max - que iria com a irmã no banco retirar o dinheiro de uma herança! Quem anda com uma fortuna em mãos nos dias de hoje com tantos bandidos soltos por aí?

Após isso, o país foi parando com a chegada da reta final da novela. Só se falava em Carminha, Tufão e Nina. De uma novela que conseguiu tal feito, espera-se, no mínimo, um último capítulo grandioso. E não foi o que aconteceu, por uma série de fatores.

Muitos reclamaram sobre a mudança de comportamento de Carminha, queriam que a novela terminasse com a personagem fazendo alguma maldade, provando que não mudou. A história de Nina e a madrasta se perdoarem ficou entalada nos espectadores. O grande problema não foi o perdão como epílogo desta trama eletrizante e, sim, a maneira como se conduziu para este final.

Carminha, no início da última semana, foi expulsa da casa do Tufão, enquanto berrava que não agüentava mais aquela família, apontou os defeitos de cada um numa cena maravilhosa. Em momento nenhum demonstrou arrependimento ou pena de estar tendo que sair daquele lugar. Depois se reaproximou de Ágata a mando de seu pai, e só tratava bem a filha com um propósito: dar novo golpe naquela família. Do penúltimo para o último capítulo, ela resolveu se tornar uma santa: livrou Nina e Tufão do pai vilão, assumiu a morte de Max para livrar provavelmente Jorginho (Cauã Reymond) da acusação, voltou a morar no lixão, aceitando o seu destino etc. Não houve uma curva dramática que justificasse a mudança desta personagem. Não houve arrependimentos. Não houve afeto. Tudo mudou como num passe de mágica, de uma hora para outra. E isso fica muito difícil de aceitar.

Descobriu-se também que o grande vilão da novela era Santiago (Juca de Oliveira), o pai de Carminha. De que maneira aceitar um personagem como o grande vilão da história, sendo que ele não estava na novela desde o início? Um personagem que sequer era citado por Carminha ou Mãe Lucinda! Caiu de pára-quedas na novela, próximo ao capítulo 100, e muito provavelmente sua trajetória nem seria essa que o autor resolveu dar. Em termos de estrutura dramática, não faz o menor sentido. Ficou com cara de mudanças de última hora.

Pior ainda é a história de Mãe Lucinda: pagou por um crime que não cometeu. Deu um tiro na esposa de Santiago, mãe de Carminha. O tiro sequer relou na referida personagem. Santiago é quem, num segundo tiro, matou a mulher. A polícia durante as investigações nunca descobriu e comentou nos autos, que Lucinda obviamente teve acesso, que dois disparos foram feitos dentro da casa no dia do assassinato? Apenas na cabeça do autor.

O último capítulo pedia um embate entre Nina e Carminha. O último embate, o maior de todos. Até poderia terminar em pizza do jeito que terminou. Mas não houve embate, não houve a grande cena. Elas não colocaram todas as mágoas para fora, uma na cara da outra. Simplesmente superaram tudo, como num belo conto de fadas. E, por conta disso, fica bem difícil de acreditar naquele abraço entre as duas, não?

Devido a essa ausência da trama principal, o ponto alto do capítulo – e ridículo, convenhamos – foi a “pepeta” do Adauto. “Pepeta” esta que sequer apareceu ao longo dos outros 178 capítulos.

Enfim, pelo que “Avenida Brasil” significou para a teledramaturgia nacional, ela jamais poderia ter acabado da maneira que acabou.

#OiOiOi

(por André Torres)

sábado, 10 de novembro de 2012

Em breve...

O blog NaTV andou meio parado, recebemos muitos e-mails perguntando o que aconteceu. Em breve estaremos de volta com novidades e ligados no mundo da teledramaturgia! Aguardem!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Hora da lição de casa

Depois de alentadas expectativas e conturbada escalação de elenco, a novela “Carrossel” disse a que veio. Todas as noites, de segunda a sexta-feira, o SBT exibe aquele que parece ser seu mais novo Midas na audiência. Não raro, a novela infantil consegue médias no patamar dos 15 pontos, um número impensado para a emissora paulista diante de tantos desencontros na área da teledramaturgia. Porém, mesmo passados dois meses de novela, será que “Carrossel” é, de fato, a tábua de salvação para o SBT?


O histórico da novela “Carrossel” aqui no Brasil é bem conhecido e até temido por alguns (que o diga Gilberto Braga). Quando a produção mexicana da Televisa (gravada em 1989) foi exibida aqui a partir de 1991, deu continuação a um grande movimento de migração da audiência da Rede Globo para outras emissoras. O “fenômeno” já começara no ano anterior, com a apresentação da novela “Pantanal” pela Manchete. Entretanto, a própria Manchete não aguentou o sucesso galvanizado e viu sua popularidade cair drasticamente em 1991. Em contrapartida, a Globo apresentava os últimos capítulos de “Meu Bem, Meu Mal” e estava prestes a iniciar “O Dono do Mundo”. A primeira novela, de Cassiano Gabus Mendes, não foi nenhum estouro de audiência, mas nem de perto se compararia com o vexaminoso problema que se tornou a seguinte novela de Gilberto Braga. Logo nos primeiros capítulos, o público rejeitou enfaticamente a trama que narrava as desilusões da professorinha Márcia (Malu Mader) nas mãos do canalha Felipe Barreto (Antonio Fagundes).

Em uma desabalada fuga, o telespectador trocou de canal. E, como dizia o slogan do SBT à época, “quem procura acha aqui”. Os primeiros capítulos de “Carrossel” foram exibidos na mesma época do início da novela global e conseguiram chamar a atenção do público, que deu origem a uma acirrada disputa de audiência entre SBT e Globo. Objeto de estudos acadêmicos anos depois, o estrago que “Carrossel” fez em 1991 serviu de chamariz para uma futura fragmentação da audiência do brasileiro.

Foi pensando assim que o SBT conseguiu levar ao ar neste ano um remake tupiniquim e deixou a cargo da Sra. Abravanel a redação dos capítulos. Está aqui um primeiro trunfo de “Carrossel”. Íris Abravanel estreou como autora de novelas do SBT em 2008, com “Revelação”. Desde então, amargou alguns insucessos. Muitos apontaram na autora falhas terríveis de narrativa e de composição dramatúrgica. Em “Carrossel”, todos estes erros permanecem latentes. Porém, há duas questões que transformaram os pontos vulneráveis em vantagens. A primeira é a opção por se manter o mais fiel possível ao roteiro original mexicano, o que preencheu a falta de estrutura folhetinesca de Íris Abravanel.

A segunda é a temática infantil da produção. O SBT tem grandes experiências nesta área: além de apresentar continuamente programas focados neste público, desde “Chispita” (em 1983) exibe tramas infantis (mexicanas ou “latino-brasileiras” como “Chiquititas”, produzida pelo SBT e Telefé entre 1997 e 2001). Este é um mote cuja teledramaturgia brasileira sempre teve dificuldades de abordar e não sustentou uma linha natural de evolução. Todas as emissoras, com exceção do próprio SBT, têm exemplos pontuais de teledramaturgia infantojuvenil. As mais bem-sucedidas são justamente “Chiquititas”, “Castelo Rá-Tim-Bum” (1994) e “Mundo da Lua” (1991) na TV Cultura de São Paulo, “Sítio do Picapau Amarelo” (1977/86) na Globo/TVE e “O Meu Pé de Laranja Lima” (1970/71) pela Tupi. Não há, porém, a tradição de ficções voltadas para este público como no SBT. Além das produções já mencionadas, o canal exibiu novelas como “O Diário de Daniela” (em 2000) e “Viva às Crianças – Carrossel 2” (em 2002/03), sem contar nos quase 30 anos de reprise do seriado “Chaves”. Ou seja: há no SBT um suporte favorável por parte da programação a uma novela infantil como “Carrossel” (fato este que não ocorreu, por exemplo, em “Amor & Revolução”).

Além do know-how do SBT em produções infantis, Íris Abravanel foi beneficiada pelo fato de uma novela deste tipo primar pela empatia com o público. “Carrossel” apresenta erros inacreditáveis de teledramaturgia e diálogos constrangedores (especialidade de Íris), mas ganha muito em ter bons personagens como Maria Joaquina (Larissa Manoela), Cirilo (Jean Paulo Campos), Valéria (Maísa Silva), professora Helena (Rosanne Mulholland), a diretora Olívia (Noemi Gerbelli) e o zelador Firnino (Fernando Benini). O perfil destes personagens é tão bom que cativa o público, fazendo-o relevar as falhas de roteiro da novela.

A contrapartida está na segura direção de Reynaldo Boury. O diretor da novela consegue dar unidade e vigor a capítulos nem sempre tão interessantes assim. É possível encontrar em “Carrossel” sua experiente condução. Boury, que estava há algum tempo aposentado mas dirigiu grandes produções como “Sinhá Moça” (1986) e “Selva de Pedra” (1972), conseguiu apagar sua passagem por “Amor & Revolução” e apresentar um bom trabalho, digno de um profissional com muita tarimba.

Contudo, há um dilema pairando por todo este sucesso do SBT. A emissora precisa rever (ou melhor, precisa criar) um projeto de teledramaturgia que dê arremedo a toda esta boa fase e lance as produções da casa a um caminho estável e duradouro. A Manchete planejou realizar sempre teledramaturgia de primeira classe quando se propôs a duelar com a Globo. A própria Globo só conseguiu alcançar o primeiro lugar de audiência quando arquitetou uma estratégia de modernização da temática, produção e veiculação de suas telenovelas. Apenas entre 1994 e 1996 o SBT ameaçou engatar um sólido projeto de teledramaturgia (com os bons remakes de “Éramos Seis”, “As Pupilas do Senhor Reitor” e “Sangue do Meu Sangue”). Tão logo encontrou problemas de Ibope, o SBT recorreu à trilogia das Marias de Thalia. Nos últimos 10 anos, a emissora oscila entre novelas importadas, remakes de produções mexicanas, regravações de sucessos brasileiros e tentativas de tramas originais. Nada disso dá credibilidade ao público, nem constrói uma identidade teledramatúrgica para o canal.

Todas as noites, Silvio Santos deve dar uma daquelas sonoras gargalhadas ao constatar que voltou ao segundo lugar no Ibope da Grande São Paulo com “Carrossel”. Na disputa com a Record, a novela de Íris Abravanel é uma das principais armas. Não chega a ameaçar a poderosa Globo como ocorreu em 1991, mas cava uma tranquila vice-liderança ao SBT. Entretanto, o maior desafio do SBT é canalizar esta audiência obtida por “Carrossel” para estabilizar a produção dramatúrgica do canal, tornando-a atraente aos anunciantes e ao público para que, enfim, a posição reconquistada não seja um esforço em vão.

(por Jordão Amaral)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sempre Gabriela

Gabriela” está no ar há três semanas no horário das onze horas, após o êxito de “O Astro” em 2011. O romance de Jorge Amado já fora exibido em duas oportunidades: a primeira, pela TV Tupi do Rio em 1961 e com a produção e direção de Maurício Sherman; a outra em 1975, às 22h, escrita por Walter George Durst na Globo. Agora recebe uma nova adaptação assinada pelo autor Walcyr Carrasco. Infelizmente, não há nada de muito novo para se acompanhar.

Obviamente haveria uma enorme expectativa em torno do remake por conta da personagem que consagrou a atriz Sonia Braga. Não tem quem não fale ou não se lembre – mesmo não tendo nascido na época – da famosa cena de Gabriela pegando a pipa no telhado (o que vem a ser um dos grandes trunfos da célebre versão de 1975, já que esta cena não existe no romance – é de autoria exclusiva de Durst).

Após algumas polêmicas quanto à escalação desta personagem, podemos dizer que a nova Gabriela não poderia ser interpretada por nenhuma outra atriz que não fosse Juliana Paes. Além de ser um ícone da beleza nacional (e com a vantagem de ser naturalmente morena e sensual), Juliana tem um apelo muito grande junto ao público. Este foi um dos maiores acertos do elenco da novela! Juliana Paes tem os exatos atributos para oferecer uma nova e marcante leitura de Gabriela. Ela não é ótima atriz (e quem disse que Sônia Braga é?), mas também não é ruim.

Humberto Martins também está agradável na pele de Nacib, preferindo uma linha de interpretação distante da que consagrara Armando Bógus na década de 1970. Aliás, uma boa parte do elenco é responsável pelo feliz tom da novela. Laura Cardoso dá o ponto exato entre o autoritarismo e a comédia com sua beata Dorotéia. Felizmente, Laura está bem acompanhada de Maitê Proença, uma atriz irregular mas que mostra muito vigor e inteligência ao compor o perfil frágil e tocante de Sinhazinha. Outro ator que merece muitos aplausos logo na estreia é José Wilker, que faz do Coronel Jesuíno Mendonça um tenso contraponto às peripécias de Ilhéus e aos encantos de Gabriela. Logicamente, também não se pode ignorar a participação de Leona Cavalli como Zarolha. Leona tem longa experiência no cinema e há alguns anos está na televisão, mas ainda não encontrara um papel que lhe coubesse tão bem quanto a dócil e sonhadora Zarolha. Uma pena que seja apenas uma participação especial!

No entanto, Gabriela também mostra certas repetições e deslizes quanto ao seu elenco. Antonio Fagundes (Coronel Ramiro Bastos) precisa se reciclar urgentemente. Será que ninguém percebeu que jogar o ator na Bahia como dono de plantações de cacau seria uma nefasta oportunidade para ele tirar da gaveta José Inocêncio de Renascer (1993)? Outro que aproveitou a deixa para um rápido “vale a pena ver de novo” foi Ary Fontoura. Há certos pontos do personagem Coronel Coriolano que são fortemente parecidos com o Coronel Artur da Tapitanga de Tieta (1989/90). Vanessa Giácomo excede em agressividade para viver Malvina, contudo, trata-se apenas de questão de tempo para aparar as ferinas arestas.

Ainda na questão do elenco, e retomando as polêmicas escalações de Gabriela, não se pode furtar de tecer algumas palavras sobre o desempenho de Ivete Sangalo como Maria Machadão. A personagem, minúscula no romance e brilhantemente vivida por Eloísa Mafalda em 1975, foi remodelada para caber em Sangalo. Partindo deste princípio, a comparação entre as “Machadões” fica inviável: enquanto a personagem em 1975 era uma mulher lanhada pela vida e, por isso, tornou-se uma sagaz sobrevivente, no remake ganha uma certa leveza e até um tom feérico (reforçado pela leitura à la Moulin Rouge deste novo Bataclan). Ivete Sangalo corresponde bem a esta leveza, coloca à disposição do personagem todo seu carisma. Ainda falta qualquer coisa para que se torne uma “atriz-cantora” (como é o caso, por exemplo, de Emmanuele Araújo, que vive a personagem Teodora), entretanto, a participação de Sangalo acumula mais vantagens do que prejuízos.

Outro ponto alto do remake em questão é a qualidade estética, tais como direção de fotografia e direção de arte, comandados pelo diretor geral, Mauro Mendonça Filho. As imagens da novela trazem um frescor e ao mesmo tempo um déjà vu que há muito tempo não víamos na tela da Globo, já que ultimamente suas produções se concentraram no eixo Rio-São Paulo. Enfim, de uma beleza impressionante.

Como tudo tem seus “poréns”, a grande decepção fica por conta do autor Walcyr Carrasco. Além de “Gabriela” não ser o romance mais interessante de Jorge Amado (apesar de ser um dos mais famosos), havia uma certa ansiedade de vermos o que o autor nos reservava para o horário das 23h, uma vez que, até então, só havia escrito novelas das 18h e 19h na Globo. Esperávamos ver um Walcyr Carrasco diferente, ou bem ao estilo de Adamo Angel, seu pseudônimo com o qual escreveu “Xica da Silva” na extinta Manchete. Nesta época, o novelista mostrou uma faceta completamente diferente do que estamos acostumados a ver. No entanto, nos deparamos com o velho Walcyr Carrasco de sempre: as mesmas cenas com soluções fáceis, as mesmas camas quebradas, as mesmas piadinhas... O que podemos perceber é que ele manteve seu estilo das 18h/19h e simplesmente adicionou alguns palavrões e cenas sensuais permitidos no novo horário.

Para agravar a situação, o pastiche de senso comum sobre a história torna os capítulos rasos. Logo no primeiro capítulo, um clima de Vidas Secas que não se justifica. Para quê trazer à tona uma referência tão batida se a própria obra de Jorge Amado poderia fornecer melhores ideias para a sequência de Gabriela e seu tio no sertão? O mesmo vale para o já citado clima Moulin Rouge do Bataclan. Será que é cabível uma zona de prostituição tão onírica e deslumbrante em um local conservador, árido e pouco avançado? Para Walcyr Carrasco, sim. E ele não hesitou em transformar a casa de tolerância em um legítimo bordel  da Belle Epóque.

Enfim, a narrativa de “Gabriela”, diferente do que aconteceu em “O Astro”, não traz nada de novo e o que assistimos é o que já estamos cansados de ver em várias novelas que abordam o Nordeste. Gabriela acaba valendo a pena pelo trabalho estético impecável; a embalagem é perfeita. Porém, o conteúdo é um arrastado reciclar de estereótipos e tipos. Apesar de um excelente momento para o diretor Mauro Mendonça Filho e para parte do elenco (principalmente Juliana Paes e Humberto Martins), ainda não foi dessa vez que acompanhamos o melhor de Jorge Amado, nem o de Walcyr Carrasco.

(por André Torres)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

As brasileiras de Jacarepaguá

Embalada pela boa repercussão da série “As Cariocas”, a Globo decidiu exibir um novo produto com os mesmos moldes: “As Brasileiras”. A nova empreitada prova nitidamente que, em televisão, não há uma fórmula segura para o sucesso. Bem cuidada e com um elenco de famosos nomes, esta série não deixará sequer lembrança nos telespectadores.


A primeira razão para este impacto nulo é a qualidade instável de seus episódios. Um dos poucos casos televisivos onde o líder autoral do programa é o diretor (neste caso, o sempre talentoso Daniel Filho), “As Brasileiras” apresenta uma irritante sequência de histórias repetitivas, textos ora muito bons, ora péssimos, além de uma clara ausência de um líder para estipular diretrizes à criação.

Em “As Cariocas”, este papel de “coordenador de textos” era de Euclydes Marinho. O autor não chegou a escrever todos os episódios, mas era nítida a unidade narrativa em comum entre as histórias contadas por esta série. No entanto, em “As Brasileiras” temos a presença de Ana Maria Moretzsohn em grande parte dos episódios, o que não chega a ser a supervisão da qual o programa carece. A única garantia de coesão de qualidade que permite reunirmos os muitos episódios como partes de um mesmo programa está na mise en scène. E só.

Enquanto alguns dos episódios foram simplesmente imperdíveis, outros são merecedores do mais impiedoso e justo ostracismo. “A vingativa de Sampa”, “A perseguida de Curitiba”, “A apaixonada de Niterói” e “A reacionária do Pantanal” são excelentes exemplos de roteiros que não adicionaram absolutamente nada à série. Fracos, sem ritmo, cheios de clichês e por vezes repetitivos, roteiros como estes ofuscam boas histórias como “A fofoqueira de Porto Alegre”, “A culpada de BH” e “A justiceira de Olinda”.

A irregularidade do nível entre os episódios nos desnuda outro problema da série: os clichês. Já inicia com o pé esquerdo um programa que, propondo-se ambientar uma história em cada lugar do país, ignore as cores regionais e faça suas gravações em locações genéricas e com chromakey. No episódio “A adormecida de Foz do Iguaçu”, o efeito especial é incrivelmente tosco. Em muitas cenas, a direção quer deixar tão explícito que o episódio se passa no Paraná que insere as cataratas o mais próximo possível dos cenários, sejam eles uma passarela do Parque de Foz do Iguaçu ou uma varanda de um prédio qualquer. Agrava a situação o fato de o elenco ser, em sua maioria, do eixo Rio-São Paulo. Salvo certas exceções (como Ísis Valverde e Suyane Moreira), a grande parte das atrizes reproduzem o carioquês sem a menor culpa.

Por parte dos roteiristas, o importuno trabalho do clichê empobrece o conteúdo narrativo dos episódios. E, neste caso, há dois grupos de cartas na manga: o regional e o sexual. No primeiro caso, se vamos falar de São Paulo, nada mais lógico do que contar a história de uma perua afetada e estressada. Se o cenário é Brasília, a “ideia genial” é criar uma intriga política. São associações tão criativas quanto a cartilha “Caminho Suave”.

No quesito “clichê sexual”, a série comprova que pode piorar muito aquilo que já se apresenta ruim. Grande parte dos episódios versam sobre o sexo, sem distintas variações sobre o tema. O maior flagrante é notar, por exemplo, que um considerável número de episódios terminam justamente na cama. Ou seria “As Brasileiras” um caso para a psiquiatria estudar como reagem as ninfomaníacas de diferentes regiões do país?

Bom senso também faltou para a narração em off. Concomitante a esta série, tivemos o excelente uso de narrações na novela “Aquele beijo”. No caso da novela, Miguel Falabella esbanjou inteligência e perspicácia ao tecer comentários significativos que só faziam enriquecer os capítulos. Já em “As Brasileiras”, as digressões escritas por Geraldo Carneiro são explicativas, anacrônicas, calhordas, rasas e redundantes. A narração de Daniel Filho peca pelo excesso de maneirismos e artificialidade. A ideia de se apresentar uma voz em off veio de “As Cariocas”, para que o telespectador pudesse acompanhar as boas tiradas de Sérgio Porto (autor dos contos que originaram a série televisiva). No entanto, em “As Brasileiras”, o recurso foi utilizado da forma mais estranha possível. É tamanho maneirismo e afetação que Carneiro e Daniel Filho conseguem transformar o narrador explícito em um velho tarado e babão.

Não são raras as “pérolas” ditas entre uma e outra cena. Coisas como “Onde a moçada gosta de brincar de paraíso sem precisar de folha de parreira” (episódio 16), “O celular foi especialmente inventado para o adultério” (episódio 08) ou “Aí rolou aquele Carnaval. Só que o Arlequim não sabia que a Colombina era a própria Patroa” (episódio 14) certamente podem ser apagadas sem qualquer prejuízo ao episódio.

Contudo, há bons momentos em “As Brasileiras”. O melhor foi “A mamãe da Barra”, baseado em um romance de Thalita Rebouças. Tudo neste episódio teve um sabor especial: a trama em si, as atuações, a trilha sonora, os cenários. O texto (escrito por Thalita Rebouças e Ana Maria Moretzsohn) foi inspirado, criativo, sensível e com direito a irônica metalinguagem. Em uma das cenas, Thalita Rebouças interpreta uma amiga de Ângela Cristina (Glória Pires) declarando detestar adolescentes. Logo ela, uma das mais famosas romancistas atuais para o público infanto-juvenil... Não bastassem todos estes pontos positivos, o público ainda pôde acompanhar a família Pires de Moraes contracenando junta e transbordando talento. Glória Pires dispensa apresentações. Antônia Moraes participou apenas de duas cenas. Mas a surpresa do episódio veio com Ana Pires de Moraes, filha de Glória na vida real e na ficção. Com muita segurança, graça e naturalidade, Ana fez o saudoso público lembrar do começo da carreira de Glória Pires. Um episódio excelente, com sensação de álbum de família. Uma pena que “A mamãe da Barra” tenha sido uma exceção, não a regra, em “As Brasileiras”.

Chegando ao fim (abreviado pelo início de “Gabriela”), “As Brasileiras” prova ao público que sucesso não é uma fórmula infalível. As características de “As cariocas” foram copiadas para que tivéssemos a impressão de acompanhar uma continuação. Só que Daniel Filho errou na mão e veiculou uma versão caricata e burramente copiada das deliciosas histórias de Sérgio Porto. Nem ele, nem nós merecíamos um programa tão oscilante.

(por Jordão Amaral)