quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sim, é a vida da gente!


Falar que “A vida da gente” foi uma grata surpresa após o término de “Cordel Encantado” é pouco. Falar que a estrutura da novela lembra o estilo de Manoel Carlos – o dos bons tempos e não o dos últimos anos – também é pouco. São tantos os acertos da nova novela das seis da Globo que fica difícil sabermos por onde começar.

Bem, comecemos falando do texto de Lícia Manzo. Talvez seja o que mais chama a atenção, além de ter personagens bem delineados. O texto da autora é tão preciso, tão interessante! Lícia, em oito capítulos, mostrou uma grande habilidade na construção das cenas e dos diálogos, apontou os conflitos dos personagens de maneira intensa. Difícil não se envolver e querer continuar acompanhando. De cara o público foi brindado com grandes cenas entre Ana (Fernanda Vasconcelos) e Eva (Ana Beatriz Nogueira).

A primeira semana da novela focou nas motivações dos personagens principais e na rede de conflitos em que Ana está envolvida por conta dos desejos e necessidades de sua mãe, Eva. Quantos jovens não tem suas vidas sacrificadas por causa dos pais? A trama pode não ser inovadora, mas a pergunta que fica é: quantas novelas conseguiram trabalhar esse conflito da maneira que está sendo tratada agora? Não me recordo de nenhuma.  

Não se trata aqui, neste caso, de uma mãe que deposita suas frustrações profissionais e aposta todas as fichas na carreira da filha. Eva não foi tenista nem tinha o sonho de ser. Trata-se da inversão de papéis, da mãe que deixa de ser mãe para ser filha. Eva depende da filha para sobreviver. Ana é quem tem que sustentar a casa e os caprichos da mãe e não o contrário.

Como se não bastasse esse conflito familiar, Ana ainda tem a vida sacrificada por ser o modelo de jovem responsável para os outros jovens. Ana não pode ser ela mesma, Ana não pode ter sua vida, Ana não pode viver os seus amores, Ana não pode nada. Ana é um modelo, é um padrão de comportamento para os outros. E é desse modelo que ela sobrevive e mantém o contrato com o patrocinador.

Ter sua vida anulada em prol dos outros é uma questão muito séria. Portanto, “A vida da gente” é muito mais do que a história da mulher que fica em coma cinco anos e quando acorda vê seu grande amor com a própria irmã. A trama vai muito além disso e é impossível não vermos um pouco da vida da gente ali.

Vale destacar a atuação de Maria Eduarda (Nanda), a atriz está muito à vontade no papel. Pelas chamadas da novela, a personagem tinha tudo para soar meio chata e antipática por conta das atitudes politicamente incorretas para provocar o pai, mas a boa atuação e desenvoltura dela em cena fez com que isso não acontecesse. E como não falar também de Nicette Bruno (Iná) num grande papel, já que a participação de Nicette em “Ti Ti Ti” não tinha função dramática alguma na história.

E, por fim, como faz diferença a direção de Jayme Monjardim! Como em todos os seus trabalhos, a fotografia salta aos olhos com imagens belíssimas em stock-shots e planos certeiros dos personagens. Parabéns a todos!


QUENTE
Não tem como não citar a abertura da novela, umas das melhores dos últimos tempos. Muito bonita e delicada.

MORNO
Agora é a hora de Rafael Cardoso mostrar se tem talento ou não. A beleza é o que menos importa em Rodrigo, diferente dos pegadores de plantão que ele interpretou em outras novelas. Rodrigo é muito mais do que isso. E, por enquanto, Rafael não mostrou a que veio, apesar de não comprometer.

FRIO
A novela começou num ritmo e nos últimos capítulos parece que deu uma acelerada. Não sabemos se é do próprio texto ou da edição. Mas que ficou estranho isso lá ficou!

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