segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Novela nota mil


Reis, rainhas, cangaceiros, sertão nordestino... Lembro que à época da estreia da novela “Cordel Encantado” a nossa pseudocrítica caiu em cima, dizendo que as autoras estavam fazendo uma miscelânea e que a mistura poderia desandar. Ao longo desses cinco meses de exibição, Thelma Guedes e Duca Rachid deram um tapa com luva de pelica àqueles que desacreditaram sua história antes mesmo de estrear. “Cordel Encantado” é uma das melhores novelas dos últimos tempos!

Como dito em outros dois artigos sobre a novela, o trio de protagonistas formado por Bianca Bin, Cauã Reymond e Bruno Gagliasso foi um grande acerto da produção. Os três atores seguraram a grande responsabilidade com muita maturidade e segurança. Mesmo após o fim de “Cordel”, será difícil esquecer Açucena, Jesuíno e o grande vilão Timóteo Cabral. Acompanhado deste trio parada dura, não podemos esquecer de Nathalia Dill, Jayme Matarazzo, Carmo Dalla Vecchia, Domingos Montagner e Deborah Bloch. Isso só para citar os principais, pois o elenco inteiro merece elogios. Aliás, é muito difícil ter uma novela onde todas as atuações não ficaram aquém das expectativas. O trabalho de Amora Mautner e Ricardo Waddington foi excelente!

A novela, mesmo tendo uma duração menor do que normalmente tem uma produção, não apresentou em momento nenhum aquela barriga costumeira. A trama principal teve ação do começo ao fim, muita história para contar e ser desenvolvida. Duvido que todas as maldades dos vilões e as diversas separações do casal principal não mexeram com os nervos dos telespectadores. A trama tinha protagonistas que agiam e batalhavam por seus objetivos, não ficavam passivos, apenas reagindo às maldades dos vilões. Isso é um ponto de destaque para o sucesso da novela.

Os acertos foram inúmeros. Porém, existiram duas escorregadas, particularmente, que gostaria de colocar, para não dizer que só falei das flores. Sem querer ser moralista, o triângulo amoroso entre Zenóbio (Guilherme Fontes), Florinda (Emanuelle Araújo) e Petrus (Felipe Camargo) foi algo simplesmente execrável. Que Florinda se apaixonasse por Petrus ou que questionasse o amor que ainda sentia por Zenóbio ainda vá lá. Mas agir da maneira como agiu da metade da novela para frente foi demais! Uma mulher com uma conduta exemplar, casada, mãe de três filhos, deixar o marido após uma conversa séria e ir transar com o amante durante a madrugada foi difícil de aceitar. Mais ainda foi viver o romance com Petrus – sempre dizendo que ainda tinha dúvidas do que sentia – sem ter peso na consciência pela partida de Zenóbio para Amazônia.

Como se não bastasse, Petrus, após ter passado a novela inteira se declarando e virado a vida de Florinda de ponta cabeça – e colocado em risco a amizade com Zenóbio, diga-se de passagem -, leva um fora da amada no antepenúltimo capítulo e na cena seguinte já se apaixona por outra, Filó (Flavia Rubim). Sequer uma noite de sofrimento pela amada que tanto dizia amar. É o que chamamos de soluções urgentes de final de novela e que soam muito mal.

Outro ponto que sempre reparei ao longo da novela foi a conduta do temido Capitão Herculano (Domingos Montagner). No início da novela, a cidade inteira de Brogodó não podia sequer ouvir o nome do cangaceiro que já se borrava de medo. Ele, temido, sempre fez questão de mostrar pulso firme e ser um homem justo, porém cruel. Só que, durante a novela inteira, falou, ameaçou e, na verdade, nunca agiu. Em todas as situações metia os pés pelas mãos e não foi capaz, nos enfrentamentos com os vilões da novela e seus jagunços, de mostrar o seu principal DNA: o temido cangaceiro. Tudo da boca para fora. Herculano não tomava atitudes, só ameaçava. De temido acabou se tornando falastrão.

Por fim, “Cordel Encantado” é a prova de que ainda existe vida inteligente nas novelas e que as emissoras podem, sim, apostar no diferente sem medo de afugentar a audiência. O que mais vemos ultimamente é os responsáveis pelos departamentos artísticos das emissoras apostarem no mais do mesmo, naquilo que já deu certo anteriormente e tem maiores chances de dar certo novamente. Por isso, as novelas caíram nas mesmices, contando as mesmas histórias com elencos diferentes. É preciso inovar! É preciso peitar a audiência, como Thelma Guedes e Duca Rachid fizeram, e contar uma linda história!


QUENTE
Embora todo o elenco mereça destaque, não tem como deixarmos de falar das atuações de Zezé Polessa, Marcos Caruso e Osmar Prado. Era visível que os intérpretes de Ternurinha, Patácio e Batoré se divertiam muito em cena e essa diversão transbordava as telas.

MORNO
Não sei se era o personagem Petrus, mas Felipe Camargo passou a novela toda apagado. Em outras produções, até mesmo na caótica “Tempos Modernos”, ele mostrou mais força do que em “Cordel Encantado”.

FRIO
Nada foi frio em “Cordel Encantado”.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

1046, 1047, 1048...

No final de agosto, estreou mais uma temporada de “Malhação” (a 19ª, para ser mais preciso). Tenho dúvidas se o termo “temporadas” é o mais adequado, já que tudo é trocado entre as “fases”. A distinção entre esta – que é chamada de “Conectados” – e a trama anterior é visível. Sai o novelão de Emanoel Jacobina, entra o crepúsculo... E, no final, nada de fato mudou muito.


A entrada da roteirista Ingrid Zavarezzi foi um grande acerto da produção: focada no mundo jovem, obteve grande repercussão com a série “Beijo, me liga”, exibida recentemente pelo canal a cabo Multishow. Além disso, demonstra uma outra vantagem, a de incorporar as novas tecnologias em seus roteiros. Os diálogos são mais “tuitados”, o ritmo é mais rápido e as relações entre os personagens adolescentes são mais “internáuticas” (e, até por isso, um pouco mais frágeis). Ingrid Zavarezzi não trata o jovem como um simulacro de patricinhas e mauricinhos, com o irritante tom imbecil e raso. Transita do riquinho ao garoto morador de comunidade com bastante propriedade. São personagens críveis, o que nem sempre aconteceu nas outras temporadas.

Obviamente, a simplicidade de “Malhação – Conectados” surge da estreia de alguns atores e da própria inexperiência desta fase da vida. Não dá para se esperar grandes nuances ou interpretações viscerais de personagens e atores com 17, 18 anos. Porém, se a banalidade de interpretação e temas é alvo de constantes críticas, também é o principal motivo para manter o programa no ar. Esta faixa de horário está destinada a testar linguagens, atores e temas. Se dali saíram coisas como André Marques ou Sérgio Hondjakoff, é importante lembrar que “Malhação” revelou atores como Daniel de Oliveira, Daniele Suzuki, Bianca Bin, Cauã Reymond, Guilherme Berenguer, Marjorie Estiano, Fernanda Vasconcellos, Thiago Rodrigues, Graziela Schmitt, Sophie Charlotte, Mariana Rios, Sophia Abrahão, Micael Borges, Caio Castro, Nathália Dill (talvez a mais satisfatória revelação), entre outros. Possivelmente, os leitores discordarão de alguns nomes desta pequena lista, mas eu lhes justifico: das sete produções inéditas que estão no ar (independente do canal) cinco ostentam entre seus protagonistas, pelo menos, um ator surgido em “Malhação”.

Destas duas primeiras semanas, o elenco jovem não decepciona. O trio de protagonistas – Caio Paduan (Gabriel), Thaís Melchior (Cristal) e Bia Arantes (Alexia) – é o melhor exemplo da qualidade dos novatos. Não se pode dizer que já apresentam grandes interpretações, mas também não envergonham ninguém. Seguem atuações firmes e agradáveis, mesmo lidando com temas sombrios como a paranormalidade. Além destes, é importante destacar o trabalho de Pedro Tergolina. Apesar de Felipe, seu personagem, carregar o “merchandising social” desta fase (a integração do deficiente visual em um mundo excludente), o ator consegue fugir de arquétipos e caminhos fáceis para um tema já bastante trabalhado na TV. Também não se mostra irritante ou tatibitate como outros cegos, e neste caso refiro-me ao Jatobá, o enervante cego-Poliana que Marcos Frota fez em “América” (2005).

Do elenco adulto, não há muita coisa a se comentar neste início, por dois motivos. O primeiro é que os atores veteranos (como Letícia Spiller, Virgínia Cavendish e Anderson Müller) estão ali para dar suporte e proporcionar um diálogo de experiências com os estreantes. Segundo, porque nestas duas primeiras semanas o enfoque nos personagens adolescentes foi absolutamente primordial. Há que se elogiar a atuação de Regina Sampaio (Beatriz), agradabilíssima de se assistir. Todavia, Kadu Moliterno (Nelson) continua a reviver o maior personagem de sua carreira: ele mesmo. Desde a década de 1970 (para ser mais preciso, “O pulo do gato”, de 1978), a televisão tem trabalhado o mesmo arquétipo para este ator: o surfista saudável e boa gente. Raríssimos momentos ele teve para mostrar outras facetas (como em “O dono do mundo”, de 1991 ou “Anjo mau”, de 1997/98). Só que, conforme o tempo passa, tal arquétipo fica cada vez mais chato, e não pela idade de Kadu Moliterno, mas pela desnecessária repetição ad nauseam.

Um ponto questionável deste início foi a trama central. O tema da paranormalidade, associado à astrologia e a um mistério visivelmente inspirado na saga “Crepúsculo” promete e pode ser um trunfo desta “Malhação”, se bem trabalhado. Por ora, algumas coisas foram marteladas sem cerimônia: o número 1046 e a dor de cabeça do protagonista. Mas mesmas coisas, capítulo após capítulo, sem nada para complementar? O relógio que marca 10:46, o número da casa que é 1046... Mais um pouco e o personagem Gabriel, dono de tais dores de cabeça, conseguirá resolvê-las tomando um analgésico que custa, ora veja: R$ 10,46 a cartela!

De fato, com esta nova “Malhação”, nada mudou muito. Até porque a faixa de horário não permite alterações drásticas. O que fica destas duas primeiras semanas é a direção adequada do núcleo de José Alvarenga Jr. (Mário Márcio Bandarra e Ajax Camacho), as claras referências a sucessos teens na tentativa de agarrar um público volátil e temas um pouco mais sérios (o que obrigará a autora a desenvolver um roteiro mais amarrado, com personagens e tramas mais encaixadas). Ao blog Na TV, resta saudar a estreia em TV aberta de Ingrid Zavarezzi e desejar que seu trabalho seja bem recebido e, principalmente, fuja dos erros cometidos por Emanoel Jacobina (que se perdeu do primeiro ao último capítulo da temporada anterior).


QUENTE
A estreia de Ingrid Zavarezzi, já amplamente citada acima. Também merece destaque a forte influência das novas tecnologias, como Twitter e blogs, na trama e na construção dos personagens jovens. Do elenco, Regina Sampaio, Pedro Tergolina, Caio Paduan, Thaís Melchior e Bia Arantes são pontos positivos desta fase.

MORNO
O elenco adulto ainda não disse a que veio, o que é tradicional em se tratando de “Malhação”. Além disso, a massiva repetição do número 1046 pode aborrecer o telespectador, ainda mais o adolescente, que muda de canal (ou desliga a TV e vai para a Internet) no primeiro bocejo de tédio.

FRIO
Kadu Moliterno, pelos motivos já citados no artigo. Além disso, acredito que “Malhação” já está tão desgastada que se tornou um similar ao “Vale a pena ver de novo”: somente o nome de uma faixa de horário. Não adianta trazer bons profissionais para escrever aos jovens na TV. É preciso reformular muita coisa, inclusive o conceito de “Malhação”.

(por Jordão Amaral)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Algo diferente no horário nobre


Passadas duas semanas da estreia de “Fina Estampa”, podemos perceber algo inusitado no horário nobre: uma novela com cara de trama das seis ou das sete. Diferente do tom policial apresentado em “Passione” e o melodrama rasgado de “Insensato Coração”, a história de Aguinaldo Silva tem mostrado uma perspectiva positiva da vida.

Geralmente, as novelas das nove trazem temas polêmicos a serem discutidos, grandes situações, vilões maquiavélicos, amores tortuosos, perseguições, mortes e afins. Costumamos dizer que os autores podem “pesar a mão” no melodrama. Já em “Fina Estampa”, vemos todas as noites personagens batalhadores em uma Barra da Tijuca bastante ensolarada.

Aguinaldo Silva, antes do início da trama, já havia alertado que iria tratar o universo cotidiano e familiar dos personagens, causando identificação imediata com o grande público. Percebe-se que é exatamente isso que está acontecendo. Apesar de não sermos brindados com grandes acontecimentos e diferentes tramas interessantes, os personagens conseguiram laçar o espectador de jeito. É inevitável querer saber onde é que aquelas pequenas situações vão dar.

Uma trama que se pauta na vergonha que um filho, no caso Antenor (Caio Castro), sente por sua mãe pobre e batalhadora, Griselda (Lilia Cabral), não pode ser considerada criativa. Ainda mais, quando é seguida de todos os lugares-comuns possíveis, como, por exemplo, o filho arrumar uma atriz decadente para apresentar e enganar a família rica da noiva. Sem contar que a grande vilã é uma perua, ainda por cima interpretada pela Christiane Torloni (que não consegue mais fugir desse tipo de personagem e, infelizmente, anda se repetindo bastante).

Outra questão cada vez mais comum é o déjà vu de elencos nas novelas da Globo. É muito ruim ver atores que, no primeiro semestre, participaram de produções de sucesso (por exemplo, “Ti Ti Ti”) e, poucos meses depois, já estarem mais uma vez em cena, como é o caso de Caio Castro, Sophie Charlotte, Christiane Torloni e Marco Pigossi. No caso deste último, a repetição é ainda pior: o personagem atual, Rafael, é parecidíssimo com o playboy Pedro que ele fez recentemente. São talentosos? Sim, bastante. Mas, assim como eles, existem muitos outros atores, novatos ou não, que merecem boas oportunidades na novela. Sem contar que Ísis Valverde e Rafael Cardoso também estavam escalados para a mesma novela.

Não podemos deixar de destacar a volta de Marcelo Serrado à Globo num papel bem diferente dos violentos vilões na Record. Serrado é um ator de composição, poderia fazer de Crô Valério uma caricatura. Mas, pelo contrário, criou um tipo afeminado e contido e que, com certeza, irá render boas risadas.

Apesar do elenco requentado, a novela levantou voo em céu de brigadeiro. E o que esperar, afinal, de “Fina Estampa”? A resposta é uma incógnita. Não dá para se prever onde a história vai parar. Mas que a trama é fraca, isso é. Ou será um êxito ou um fracasso retumbante. Leve demais para o horário das nove. Esse talvez possa ser um fator que faça de “Fina Estampa” um sucesso no horário. Pelos índices de audiência, comparados com as últimas novelas exibidas, dá para se acreditar nessa possibilidade.


QUENTE
O início de romance entre Griselda e Guaracy tem rendido boas cenas e situações. É divertido assisti-los! Outra vantagem de “Fina Estampa” foi ter afastado o tom funesto que “Insensato Coração” deixou no horário.

MORNO
Christiane Torloni ainda não encontrou o tom de Tereza Cristina. Ora está over, ora um pouco melhor. Mas fica difícil acreditar que uma perua daquelas possa vir a se tornar a grande vilã de uma novela das nove do jeito que está.

FRIO
A atuação de Wolf Maya e Totia Meirelles como o casal Álvaro e Zambeze é, no mínimo, sofrível. Impossível ver qualquer característica daquele casal riponga nas cenas dos atores. Também há que se comentar as cenas em que a doutora Danielle Fraser (Renata Sorrah) aparece sozinha, bebendo taças e taças de vinho. Heleninha Roitman manda lembranças!