domingo, 5 de junho de 2011

O tão falado beijo gay

Com algumas semanas de atraso, resolvi comentar sobre o tão falado beijo gay que voltou às pautas por conta da cena de Luciana Vendramini e Gisele Tigre em “Amor e Revolução”. Não comentei antes, porque sempre achei essa questão de beijo gay muito mais um golpe de mídia do que uma necessidade dramatúrgica.

Vou começar de trás para frente até chegar onde eu quero. O remake de “Ti Ti Ti” foi uma das poucas, se não a única, que desenvolveu, de fato, uma trama de amor entre dois personagens gays. Em todas outras novelas que existiam personagens gays, o único DNA do personagem era “ser gay”, como se a opção sexual do personagem fosse a única função que ele deveria trazer. Não foi isso que aconteceu na novela de Maria Adelaide Amaral. O grande conflito do Julinho (André Arteche) não era ser gay, mas, sim, superar a morte de seu grande amor, Osmar (Gustavo Leão), e reencontrar a felicidade. Além disso, tinha como outras funções superar as barreiras do preconceito de sua própria família, fazer Bruna (Giulia Gam) e Gustavo (Leopoldo Pacheco) aceitarem as diferenças e a opção sexual do filho já morto, ser o melhor amigo de Marcela (Ísis Valverde), ser uma das primeiras pessoas a desconfiar do caráter de Luíza (Guilhermina Guinle) e bater de frente com ela, e ainda transitar no núcleo da revista Moda Brasil.

Quando Julinho se envolveu numa conturbada relação com Thales (Armando Babaioff), ninguém estava interessado em ver um beijo gay entre os dois, mas, sim, no desenvolvimento dessa história de amor, que era tão intensa e verdadeira quanto a história de amor de Marcela e Edgar (Caio Castro), por exemplo. Sim, mas se Marcela e Edgar podiam se beijar em cena, por que Julinho e Thales não poderiam? Porque a mágica da relação de amor dos dois se perderia em torno do golpe midiático do primeiro beijo gay.

Em “América”, novela de Glória Perez, o maior conflito de Júnior (Bruno Gagliasso) era enfrentar o preconceito da mãe e se assumir homossexual. Isso se desenrolou praticamente até a reta final, quando o peão Zeca (Erom Cordeiro) chegou à fazenda da Viúva Neuta (Eliane Giardini) e se apaixonou por Júnior. Fez-se um escarcéu em torno do beijo gay, gravado e repetido sete vezes, e que acabou não indo ao ar, o que gerou frustração. E essa expectativa seguida de frustração acabou fazendo com que as pessoas não reparassem na linda cena dos personagens se olhando com tamanha paixão. O beijo ali não era necessário, o olhar de ambos – que são ótimos atores – já diziam absolutamente tudo. E o público não estava interessado em quebrar tabus, acabar com o preconceito, mas ver o galã Bruno Gagliasso dar um beijo homossexual na televisão.

Agora foi a vez de “Amor e Revolução”. Desde antes da novela estrear, o autor já vinha mandando recados à imprensa que poderia haver, sim, um beijo gay na novela. Só o fato de se fazer esse alarde já mostra que o beijo não seria uma necessidade dramatúrgica. Tanto se falou, a imprensa divulgou à exaustão a notícia que, de fato, o beijo gay aconteceu entre as personagens Marcela (Luciana Vendramini), jornalista homossexual, e Marina (Gisele Tigre), heterossexual. A cena foi até que interessante, bonita, mas se perdeu por ser longa demais e entrar num discurso pós-beijo sobre relação homossexual, bem ao estilo Tiago Santiago.

E para provar a minha tese de golpe midiático, parece que o autor já prometeu um beijo gay entre os personagens de Carlos Thiré e Lui Mendes. Como o primeiro beijo gay deu Ibope, vão, então, investir num beijo gay e até, de repente, numa cena de sexo/amor entre as duas mulheres. Não por uma necessidade dramatúrgica ou por quebrar tabus e lutar contra o preconceito, mas, sim, por audiência. Tanto isso é verdade que o autor pediu à emissora que, antes de ir ao ar a próxima cena de beijo gay, o espectador seja avisado do que acontecerá por conta do público conservador. Ora, se a função do beijo gay na televisão fosse realmente social, é justamente esse público conservador que teria que assisti-lo, ser envolvido por aquela situação dos personagens, embarcar e ser surpreendido pelo beijo. Seria uma forma de mostrar às pessoas que o amor entre iguais é tão verdadeiro quanto o amor heterossexual. No entanto, fica-se mais do que claro que essa não é a real intenção. Ou estou errado?

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. É isso o que acontece com as novelas: Os autores e as emissoras estão correndo cada vez mais atrás de audiência e banalizar essa situação do homossexualismo é só o começo de que muitos podem fazer.
    O caso do Thiago chega a ser meio ridículo, com o perdão da má palavra, pois ao invés de tentar se destacar pela história e pelos personagens,a novela se perde e será lembrada daqui há algum tempo como a primeira a exibir o tal beijo e não por ser uma boa novela.

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  3. Excelente texto! Realmente, se a TV pretende quebrar o preconceito contra homossexuais, não é um beijo gay que vai resolver, acho que se abordado de forma errada, vai até aumentar o preconceito. Papeis bem interpretados e profundos como o do André Arteche em TiTiTi com certeza tem um papel relevante para que as pessoas vejam os homossexuais como pessoas que amam, odeiam, tem suas virtudes, defeitos e medos, como qualquer ser humano.

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