segunda-feira, 21 de março de 2011

“Ti Ti Ti” deu o que falar


Assim como a primeira versão da novela, o remake de “Ti Ti Ti” é mais um marco da televisão brasileira. Há muito tempo não se via uma novela tão coesa, misturando ótimo texto, bons personagens, uma direção certeira e grandes interpretações. Durante oito meses, a novela divertiu e emocionou os telespectadores, com alta audiência e muita repercussão. Mérito de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari.

Todos os capítulos da novela foram muito bem armados, diversos ganchos trabalhados dia a dia. Apesar do elenco numeroso, todos os personagens tiveram histórias para contar e sua chance de brilhar. No início, houve um destaque muito maior à trama de “Plumas & Paetês”, com a fortíssima história de Marcela, Edgar e Renato. Aos poucos, a trama de Victor Valentim e Jacques Leclair foi ganhando destaque e se equilibraram. As adaptações de Maria Adelaide também foram bastante adequadas.

Há muito tempo não se via um casal tão carismático numa novela como Edgar e Marcela. A transformação de Edgar, a curva dramática que o personagem sofreu ao longo da novela por conta de seu envolvimento com Marcela é simplesmente maravilhosa. Inesquecível a cena, do alto do Edifício Itália, em que Edgar mostra toda a sua fragilidade à amada, o remorso por ter sido tão ausente e conivente com pai em relação ao irmão Osmar, seguido do primeiro beijo do casal.

Chato foi ter de agüentar durante quase quatro meses, os autores fazerem com que engolíssemos Renato na vida de Marcela. Maria Adelaide usou um dos recursos dramatúrgicos mais rasos que um autor pode usar para fazer com que o público ficasse dividido. Não teve um capítulo sequer, após o casamento forçado da mocinha, em que os personagens não exaltassem as qualidades do fraco Renato e fizesse Marcela enxergar o quão mudado ele estava. Mudado? Renato foi conivente com a armação do pai, Giancarlo, que obrigou Marcela a ficar casada com o filho, em troca de devolver à editora a Gustavo dali um ano. Que amor é esse que faz alguém obrigar a pessoa amada a estar a seu lado? E quiseram fazer o público engolir que Renato era um bom sujeito! Ainda bem que o bom senso imperou e o final de Marcela foi ao lado de Edgar.

Já divertidíssimo foi acompanhar as venturas e desventuras do trio Ariclene Martins, Jacques Leclair e Jaqueline Maldonado, vividos por Murilo Benício, Alexandre Borges e Claudia Raia, respectivamente. Os três atores estavam inspiradíssimos e deitaram e rolaram em cena, com as inusitadas situações criadas pelos autores. Jaqueline, cheia de nuances, doida, divertida e extremamente frágil, pôde proporcionar à Claudia Raia um grande momento. Ariclenes e Victor Valentim foram um achado para Murilo Benício, que mais uma vez mostrou por que motivo é considerado um dos melhores atores do Brasil. Ficava nítido que ele arrancava risos de seus colegas em cena, estava bastante à vontade no papel. Alexandre Borges e seu Jacques Leclair dividiram opiniões: muitos se divertiram com a atuação do ator; outros a acharam forçada e não conseguiam acreditar naquele personagem. Ali fica claro que teve o dedo da direção de Jorge Fernando que preferiu enveredar o personagem para o lado caricato, com muitos tons acima – bem como a novela toda –, do que transformá-lo em um vilão, devido a tudo o que ele aprontou ao lado de Clotilde. E esse não era o caminho: afinal, Jacques era o vilão aos olhos de Ariclenes e Ariclenes era o vilão sob a ótica de Jacques.

Um último ponto a se destacar nesta novela é a forma como a homossexualidade foi abordada. Com uma trama extremamente delicada e realista, Maria Adelaide e sua equipe brindaram o grande público com um amor verdadeiro e profundo entre Julinho e Osmar e a dificuldade deste em esquecer o namorado morto nos primeiros capítulos. Após esse baque, Julinho demorou a encontrar um novo amor até que conheceu Thales. Este último teve que transpor algumas barreiras cheias de preconceitos para ser feliz ao lado do homem que amava. Nada de gays caricatos, afetados e cheios de gírias nesse núcleo. Tudo muito realista e bonito, como um romance de casal heterossexual. Essa história só teve um único porém: Julinho começou muito bem, mas da metade da novela em diante entrou numa onda do politicamente correto e acabou se tornando chato. Julinho achou que era o dono da verdade. Se estivesse num Big Brother da vida, seria votado logo de cara para sair da casa. Se fosse uma pessoa real e não um personagem, estaria isolado. Ninguém gosta de conviver com pessoas que acham que são donas da verdade.

Poderia ficar aqui falando muita coisa sobre a novela, mas o texto está se alongando demais e é melhor encerrar por aqui. “Ti Ti Ti” teve muito mais acertos do que erros. Aliás, os erros foram bem poucos. Foi uma novela ótima do começo até quase o seu fim. Pena que bem na reta final entrou numa barriga insuportável, nada acontecia. Talvez tenha sido porque a novela foi esticada. Mas, diante do todo, merece muitos elogios. E aplausos de pé. Parabéns, equipe!


QUENTE
Em meio a um elenco de ótimas interpretações, não podemos deixar de destacar alguns atores: Cláudia Raia, Murilo Benício, Alexandre Borges, Guilhermina Guinle, Caio Castro, Rodrigo Lopez, Mayana Neiva, André Arteche e Maria Clara Chira.

MORNO
Ter Malu Mader é um charme para qualquer elenco, mas, infelizmente, ela não foi nada bem durante a novela. Está certo que a personagem Suzana também não era grande coisa, mas Malu esteve sofrível em diversos momentos. Em outros, dava para perceber que ela se divertia em cena, o que era bacana de ver. Como Malu é Malu, não tenho coragem de colocá-la no gelado, ela fica aqui no morno mesmo.

FRIO
A tendência dos autores em destruírem todos os casais ao longo da novela: além de Marcela e Edgar, destruíram o casal Luthi e Val (ele não sabia o que queria e ela manteve sua postura imatura do começo ao fim da novela), Desiree e Jorgito (não dá para engolir que, mesmo sabendo que Stephanie era uma piranha do mal e que já havia aprontado todas, ele ficou com ela diversas vezes) e Suzana e Ariclenes (apesar da química com Marta ter sido gigantesca).

Um comentário:

  1. Ótimo vc ter colocado a destruição de todos os casais inclusive o ridículo e desnecessário envolvimento de Jorgito com a Piranha do Mal rs
    Eu achei que no início tinha tanto personagem entrando de uma vez só que era difícil saber quem era quem . Senti tb no final que muita coisa foi mostrada no último episódio ...tinha estórias que podiam ter sido encerradas no penultimo e mesmo durante a ultima semana pra nos deixar um último cápítulo menos atropelado
    deu sensação de quem teve pressa pra terminar de contar a estória pq deu o toque do fim do recreio
    Grande Novela , grande Remake , personagens inesquecíveis . Cláudia Raia arrasou do início ao fim .

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