sábado, 20 de agosto de 2011

O final de “Insensato Coração”

Ontem chegou ao fim mais uma novela das oito. Uma novela que, em sua reta final, caiu na boca do povo e com audiência elevada (embora os acessos aos vídeos dela no site da emissora sempre bateram recordes desde seu início). Apesar de Gilberto Braga dizer aos quatro ventos que este foi seu melhor trabalho, coisa que ele fala ao término de cada uma que escreve, “Insensato Coração” foi fraca. Melhor que “Viver a Vida”, que não tinha história, sem dúvida; aquém de “Passione”.


Como já dito em um artigo aqui no blog há meses atrás, a novela conseguiu criar uma barriga já no segundo mês de exibição por conta das tramas soltas que não se entrelaçavam nem interagiam. “Insensato” tomou fôlego a partir de sua metade, após Norma (Glória Pires) sair da cadeia e todos os personagens se encontrarem no Rio de Janeiro.

Talvez o maior erro dos autores tenha sido não definir os verdadeiros e únicos protagonistas desta história: Norma e Léo (Gabriel Braga Nunes). Eles, sim, possuem corações e atitudes insensatas. Léo agiu o tempo todo querendo provar ao pai que podia ser melhor que o irmão e motivado por uma suposta falta de amor por parte de Raul (Antonio Fagundes). Norma foi enganada pelo golpista, acreditou que poderia ser amada e caiu numa grande cilada que a levou para a cadeia. Quando, finalmente, teve a oportunidade de se vingar, deixou o amor falar mais alto e acabou se envolvendo novamente com seu algoz.

Claro que o melhor final de Normal seria a morte. Mas sabendo que era ela quem conduzia toda a história, valeu a pena matá-la no capítulo de terça-feira e com um assassinato e suspense tão esdrúxulos? Fico pensando se esse “quem matou?” foi realmente necessário. E chego à conclusão que, absolutamente, não. Norma tinha de morrer – uma morte bem trágica, por sinal – no último capítulo, após, finalmente, conseguir se vingar de Léo.

Todos os outros personagens, embora com tramas independentes, deveriam girar em torno desta trama de amor, ódio e vingança, que, sem dúvida, era a mais forte da novela. Eleger Pedro (Eriberto Leão) e Marina (Paola Oliveira) como protagonistas, por exemplo, foi um grande erro. Mesmo porque todas as motivações dos personagens giravam em torno do Léo. Não tinham histórias e conflitos próprios. Aliás, Marina foi uma personagem insossa, sem graça, que não tinha força para segurar a novela. Não é culpa da Paola Oliveira, que isso fique bem claro.

Outro grande erro foi escalar Lázaro Ramos para o garanhão pegador de todas as mulheres do Rio de Janeiro. Bastava dizer “olá” para as mulheres já pararem direto na cama de André. Lázaro defendeu o seu personagem com dignidade, bom ator que é. Mas houve um erro de escalação ou de conduta por parte dos autores. Ele até poderia ser um garanhão, mas faltava imprimir uma boa lábia ao personagem. Mesmo porque, além de chato, ele não é aquela pessoa que faz qualquer mulher ficar de quatro só de olhar. Já o bate-bola com Camila Pitanga em cena sempre foi muito bom de assistir desde o início da novela. E foi graças a essa relação com Carol que o personagem pôde se humanizar e dar uma boa virada em sua trajetória.

Interessante foi a presença de diversos tipos de personagens homossexuais: desde o exagerado, passando pelo discreto, até o cara que se descobre gay. Foi um painel interessante, apesar da censura e da tal chata discussão do “ter ou não ter o beijo gay”. Destaco essa trama paralela por conta da denúncia de agressões por parte dos grupos de pitboys, neonazistas e afins que hoje em dia atacam as minorias por não concordarem com a existência delas. Pelo menos na novela Vinícius – muito bem interpretado por Thiago Martins – foi condenado a doze anos de prisão. Na vida real, esses agressores são soltos no mesmo dia em que são presos. É a impunidade que existe numa sociedade que elege Tiririca como deputado. “Para descascar o abacaxi, vote em Natalie!”

A relação do casal Bibi (Maria Clara Gueiros) e Douglas (Ricardo Tozzi) também foi um dos pontos altos da novela. Bibi, sendo uma personagem plana, sem viradas, uma devoradora de homens do primeiro ao penúltimo capítulo, tinha tudo para se tornar cansativa. Mas aí entrou Douglas na parada, que de interesseiro se tornou um apaixonado, com todos os sonhos de uma verdadeira mulher. Roubaram o foco e trouxeram todas as atenções para eles em diversos momentos da trama.

Por fim, muito legal a homenagem da equipe ao diretor Dennis Carvalho, que é queridíssimo, e muito justo também os créditos, no final, colocando Ricardo Linhares como primeiro autor. Detalhe: esqueceram de colocar a Louise Cardoso e o Tarcísio Meira, além de mencionar as diversas participações de luxo que a novela teve.


QUENTE
Destaque para Antonio Fagundes, Glória Pires, Gabriel Braga Nunes, Camila Pitanga, Natália do Valle, Débora Evelyn, Deborah Secco, Herson Capri, Ana Beatriz Nogueira, Maria Clara Gueiros, Ricardo Tozzi, Thiago Martins e Ana Lúcia Torre pela forma como conduziram seus personagens. Todos tiveram grandes momentos na novela.

MORNO
“Insensato Coração” está longe de ser um fracasso, mas também longe de ser uma boa novela. Alguns personagens e tramas caíram na boca do povo, eram comentadas; no entanto, não será uma novela que ficará por muito tempo na memória do público, infelizmente.

FRIO
O suspense em torno da morte de Norma. Soou tão batido, repetitivo e chato! Os autores perderam uma ótima oportunidade de dar um final grandioso à personagem.

Um comentário:

  1. A morte precoce de Norma sem dúvidas foi decepcionante. Mas as instruções que ela deixou a Jandira antes de morrer (e que só descobrimos no final), fizeram com que ela executasse sua vingança após a morte. Nesse sentido, acho que o público que prestou atenção sentiu a alma lavada por Norma. No geral achei uma novela mediana, que foi superior somente às suas antecessoras que deixaram a desejar.

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