domingo, 28 de agosto de 2011

Entrevista: Margareth Boury

Margareth Boury está no ar escrevendo a versão brasileira da novela “Rebelde”, na Record. É uma das autoras de novela que sempre prioriza o diálogo com o jovem, seja nas telinhas, seja fora dela. Muito simpática, nos concedeu essa entrevista, falando de sua carreira e, claro, de “Rebelde”.


Qual sua formação profissional? O que você aconselharia a um aspirante a autor (independente do veículo ou gênero) para ler, estudar e ver?
Eu fiz faculdade de jornalismo, mas nunca fiz uma entrevista ou escrevi uma matéria. Meu pai sempre foi de televisão, eu cresci indo ver gravação, naturalmente me interessei pelo assunto antes dos dezoito anos. Comecei como atriz, mas logo vi que eu era um fiasco! Escrever sempre foi divertido. Optei pela escrita aos 24 anos e nunca me arrependi. Autor é como uma antena parabólica imensa: a gente precisa ver quase tudo (o quase é porque não dá tempo de ver tudo), ler quase tudo. Sem preconceito, sem juízo de valor.

Quais são as influências literárias, teatrais e cinematográficas em sua escrita?
Na literatura? Puxa, muita gente. Eu leio muito e sem parar. Vou de biografia à romance água com açúcar – como eu disse, sem juízo de valor e sem preconceito. No Teatro eu gosto dos autores nacionais, mas como só tenho uma peça escrita e encenada, acho que nem teve influência.Cinema eu adoro Woody Allen, Almodóvar, Catherine Hardwicke(o filme Aos Treze foi marcante na minha dela e ela dirigiu), Julie Taymor (alem de outros que eu gosto, ela dirigiu Across The Universe, paixão!) e tem muitos outros, mas vou ficar com esses que representam um universo que eu amo.

Como se deu a transição de sua carreira de atriz para escritora?
Foi total falta de talento pra ser atriz, detectada pelo meu pai. E foi ele também quem sempre soube que eu escrevia melhor do que atuava. Mas eu fiquei uns seis meses perdida: queria ser atriz e recebi convite pra escrever. Como eu estava grávida do meu segundo filho, achei mais prudente escrever Caso verdade. Fiz um quase de brincadeira, uma comédia. Deu certo. O Mario Lucio Vaz me chamou e me contratou.

Ao longo da década de 1990, você trabalhou como colaboradora de alguns autores (Carlos Lombardi, Marcílio Moraes, por exemplo). Há algum tipo de influência que você consegue detectar deste período?
Sim! Claro! Primeiro do Lauro César Muniz, que me deu vários pulos do gato na carpintaria de novela. O Lombardi é especial, porque eu trabalhei com eles muito tempo e aprendi MUITO também. Os dois são passionais, devotados e foi ótimo aprender com eles. No detalhe: com o Lauro eu soltei a veia romântica. O Lombardi me passou a visão mais engraçada da cena. Não é só isso, mas isso resume.

Como colaboradora, você escreveu as novelas “Despedida de Solteiro”, “Malhação”, “Uga Uga”, “Kubanacan” e a minissérie “O Quinto dos Infernos”. Qual desses trabalhos tinha realmente a sua cara? Em qual deles você mais se divertiu escrevendo? Por que?
Ah, sem duvida nenhuma todas as que eu fiz com o Lombardi foram divertidas. Mas Uga Uga foi especial, marcou definitivamente a minha maneira de escrever: diálogos rápidos, muita coisa acontecendo e romance sem pudor algum.

Você é filha do diretor de televisão e de novelas Reynaldo Boury. Houve influência da parte dele para você atuar nessa área? O que aprendeu, profissionalmente, com o seu pai?
Como eu já disse, meu pai me deu toda a força do mundo para escrever. Aprendi a ler texto de novela com ele, ia com ele ver gravações. Ele foi um mega professor.

O tráfego de profissionais entre emissoras dos países da América hispânica é muito maior do que os países de língua portuguesa. Entretanto, em 2009, a Televisão Pública de Angola exibiu a novela “Minha terra minha mãe”, uma produção nacional com texto seu e direção de seu pai, Reynaldo Boury. Como foi a experiência? De que forma surgiu a ideia? Qual foi o resultado da produção? Quais dificuldades (e que tipo de pesquisa) você encontrou ao desenvolver uma sinopse e capítulos sobre um país estrangeiro?
Por partes, como diria Jack: eu escrevi Três novelas para Angola. A primeira foi uma adaptação de um romance de um autor angolano. Meu pai foi chamado para dirigir lá, precisava de texto, ele me chamou e foi uma experiência muito boa. Depois de uns quatro anos, eles voltaram a nos procurar com a idéia de fazer uma novela gravada aqui no Brasil, mas em estúdio, como se fosse em Angola – a televisão não tem estúdios e então vieram atores pra cá, Rio de Janeiro e foi feita Minha Terra, Minha mãe. O argumento era de um grupo de escritores angolanos e eu acrescentei algumas coisas, personagens, na verdade. Eu tinha um consultor para revisar o texto dos angolanos – pois tinha brasileiro e angolano na trama. A dificuldade é a de sempre: sentar na frente do micro e fazer escaleta, depois os diálogos... ah! Sim, a novela foi um sucesso em Angola.

Você foi roteirista do seriado “A diarista”, com grande sucesso com o público. Porém, não há uma tradição realmente forte no Brasil em seriados (talvez, a modalidade mais desenvolvida aqui seja justamente a sitcom). Como você avalia este trabalho? Dentro de sua experiência, há algum caminho para se construir um estilo brasileiro de seriados?
Eu gostei muito de escrever “A Diarista”. Estava saindo de Kubanacan, e essa novela deixou todos nós exaustos. Foi uma delícia escrever menos e ter mais tempo para pensar nas tramas. Eu acho que a gente pode fazer seriado, sitcom, o que for. O que precisa é investimento na área e isso, uma pena, não tem mesmo. A novela é longa e se paga, todo mundo já sabe disso. Eu sou uma viciada em seriado, vejo quase tudo e morro de inveja! Mas eu prefiro os sérios, ou os do tipo House e Castle, que tem humor na medida certa.

Você é uma das poucas autoras da televisão que privilegia um diálogo direto com os jovens em suas tramas. Atualmente, o que é o jovem brasileiro para você? Como você busca o diálogo com este adolescente do século XXI? Em sua opinião, há uma boa representação deles na TV? E as novas tecnologias, como elas são absorvidas (ou integradas) pela TV para que se aproxime dos jovens?
O jovem é sempre muito inquieto, adora uma novidade exatamente uns dez minutos. A gente tem que ficar ligada pra não perder o ritmo com eles. Eu procuro ficar atenta nos sites (face, twitter, Orkut) e interagir com eles. Essa garotada sabe o que quer e precisamos escutar. Eu tento. 

Sabemos que os jovens atuais estão cada vez mais precoces, fumam, bebem, não saem para tomar um suco de acerola no Gigabyte, como é mostrado em “Malhação”, por exemplo. Você acha que é possível ter um diálogo real com os jovens atuais diante da censura da classificação indicativa? A classificação indicativa acaba alienando a sociedade?
Olha, que eles estão bebendo muito, fumando muito e usando muita droga todo mundo sabe. Mas quem escreve, quem faz a novela (seja Rebelde, Malhação ou qualquer outro produto voltado para os jovens), não tem como driblar a classificação, que é muito subjetiva também. Os autores acabam levando a culpa de uma coisa que absolutamente não é nossa: eu adoraria ver o jovem agindo na TV como ele age na vida. Era uma maneira de alertar a família, de dar um cutucão de realidade na galera. Mas não rola. E sim, eu acho que acaba alienando. É como você ter um filho e não falar jamais dos defeitos dele, não enxergar que ele os tem e que você pode fazer alguma coisa: nem que seja pagar uma terapia.

Muitos profissionais da televisão (não só autores, como diretores, atores e especialistas) apontam que a telenovela precisa renovar o seu quadro de autores para diversificar e arejar o gênero. Para você, de que maneira é possível fazer esta associação entre experiência e novidade?
O que eu acho mesmo é que o público odeia novidade. Se a gente sai um pouco do eles conhecem, eles rejeitam. Para renovar, é preciso arriscar. 

Ao entrar na Record, por volta de 2006, você encontrou um mercado de trabalho aquecido para os autores de TV. Cinco anos depois, você tem alguma avaliação de como estão as oportunidades para autores, veteranos e novatos? Quais as vantagens, para você, de concorrência tão forte entre Record, SBT e Globo?
Olha, depois de mim, a Record investiu em outras pessoas e continua investindo em autores novos. Eu acho a concorrência fantástica, o mercado fica mais aberto e todo mundo consegue um lugarzinho ao sol.

Sua primeira novela como autora-solo foi “Alta estação” (2006). Gostaria que você nos contasse como surgiu o convite para a Record, como nasceu o projeto da novela e quais experiências você guarda deste trabalho.
Eu fui na Record chamada pelo Hiran Silveira. E fui para fazer novela pra um púbico jovem. Comecei a desenvolver “Alta Estação” só depois de ter sido contratada. A Record, na época, queria “pegar” o público jovem e me encomendou uma sinopse aberta. O titulo era “E Aí?”, virou “Alta Estação” depois de aprovada – o que, diga-se de passagem, é super normal de acontecer em qualquer emissora (mudar o nome). Na época, a novela sofreu muito com mudança de horário e algumas outras coisas que não vem ao caso agora. Mas eu guardo boas lembranças da novela: meu filho decolou como ator e recebeu um prêmio; conheci gente que até hoje freqüenta a minha casa e serviu pra conhecer meus erros.

A novela “Rebelde” apresenta um texto bastante ágil, um elenco fortemente jovem e uma edição diferenciada. Quais são os seus objetivos com esta novela? Houve alguma dificuldade na adaptação do original mexicano (lembrando que a versão da Televisa foi muito bem aceita pelo público brasileiro)?
O objetivo é sempre fazer uma novela de sucesso, ter seu trabalho reconhecido e trabalhar cada vez mais. Eu não tive dificuldade pra fazer a adaptação. Medo sim, dificuldade, não. 

Quais as principais mudanças da versão brasileira de “Rebelde” e a original?
Aqui tem mais personagem fora do colégio, tem a Vila Lene inteira. E como faz tempo desde que a versão mexicana foi ao ar, tem muita coisa nova: lá era jornal, aqui é twitter. Lá tinha conflito religioso (um judeu e uma católica), aqui isso não existe. O núcleo aro descendente nosso é forte – lá não tinha. E vai por aí...

Como você monta sua equipe de colaboradores e como é a divisão de trabalhos entre vocês durante a escrita dos capítulos?
Eu trabalho com pouca gente. Prefiro. Faço a escaleta (que é o capítulo sem o dialogo). Assim que termino a cena escaletada, escrevo as iniciais de quem vai fazer os diálogos da cena. Mando para os colaboradores. Eles tem um prazo pra entregar as cenas. Quando chegam, eu junto às minhas e reviso o capítulo todo. E começa tudo de novo.

Você mantém um blog na Internet, apesar de estar sem tempo para atualizá-lo. Como é o seu diálogo com seus leitores?  Quais são os prós e contras de se estabelecer uma ligação tão estreita entre você e o internauta que te acompanha?
Pois é, ando sem tempo mesmo de atualizar o blog, que eu comecei de farra e foi ficando gostoso de fazer. Agora nem vejo, tem muita gente que usa o blog pra pedir emprego, pra pedir foto dos atores e eu não posso fazer nada! Fico chateada, porque eu gosto de interagir com quem vê a novela.

O que você achou do blog NaTV? Algum recado para os leitores?
Vocês são ótimos. Sempre leio o blog. Recado? Sou péssima nisso, mas vamos tentar: divulguem, leiam, prestigiem esse povo que trabalha pra vocês conhecerem um pouco dessa loucura deliciosa que é a televisão.

(por Beatriz Villar)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Difícil exercício

Certa vez, Eva Wilma, ao relembrar seus personagens em novelas para o projeto “Memória Globo”, relatou a seguinte teoria: “Foram personagens que eu costumo chamar de ‘carrega-piano’, porque elas não têm grandes ‘olés’ (...), não tem ‘olé’ nenhum. Mas carregam o piano. Se não fizer bem feito, os outros [personagens] todos dançam”. Acredito que a definição da grande dama das artes no Brasil pode explicar um pouco a trajetória dos personagens Marina (Paola Oliveira) e Pedro (Eriberto Leão), em “Insensato coração” e a constante queixa que preencheu a imprensa “especializada” em teledramaturgia.

Primeiramente, é importante notar que, apesar de uma certa imobilidade destes personagens quanto à ação, Pedro escapa da classificação do meio para o final da novela. O caso dele é um pouco diferente de sua partner Marina. Pedro segue uma progressão dramática muito difícil até determinado ponto da história. Visto como um herói por salvar um avião comercial de um sequestro, entra em conflito ético após se apaixonar por Marina, “melhor” amiga de sua noiva Luciana (Fernanda Machado), às vésperas de seu casamento. A situação se complica, pois, ao sofrer um acidente de avião, acaba responsabilizado pela morte de Luciana e perde a licença de piloto (além de ficar temporariamente paralítico). Então, o personagem mergulha em um período de depressão, crises, cadeia e fisioterapias. Representar a depressão é muito complicado em televisão, principalmente em telenovelas, que exigem ação contínua por parte do público e das revistas “especializadas”. O deprimido é caracterizado pela completa incapacidade de agir, de atuar em seus problemas. Quem viu o filme “Melancolia” sabe muito bem do que estou tratando. Para o público, esta fase blue de Pedro soou muito pálida, fraca, pouco empolgante, principalmente se levarmos em consideração o histórico do ator Eriberto Leão em personagens firmes (como o Zeca Diabo de “Paraíso”, em 2009, ou o Dimas de “Sinhá-moça”, de 2006). Rompido este bloqueio, após a recuperação dos movimentos das pernas, entre outros fatos, o personagem pôde acontecer, mostrar sua importância na trama, mesmo que estivesse ainda presa à ingenuidade de acreditar em seu irmão, Léo (Gabriel Braga Nunes). No último mês de novela, então, Pedro conseguiu influir de maneira direta no rumo da história, sendo responsável inclusive por desmascarar Léo para Norma (Glória Pires).

Já com Marina, o “destino” foi mais cruel. O personagem, programado para ser uma mulher moderna e arrojada, terminou na telinha sempre presa a uma moral de mocinha, mesmo que uma mocinha modernosa. O conflito inicial (apaixonar-se pelo noivo da “melhor” amiga) ficou estranho quando, na mesma época, Marina relatou para sua prima Bibi (Maria Clara Gueiros) que Luciana não era tão amiga assim dela. Bem, caímos aqui em um dilema ético, porém, parece-nos que nossa sociedade baniu este conceito da vida prática. Passado este primeiro desafio, a personagem teve que lutar por seu amor, mas o grande obstáculo era a depressão de Pedro, o que é altamente subjetivo no caso da telenovela. Aqui, abro parênteses para explicar que não digo que está errado em se falar da depressão, mas que, em televisão, ao se lidar com este tema, todo o cuidado do mundo é pouco, já que o tom soturno pode afastar o telespectador, por melhor que seja a trama. Enfim, voltando à Marina, após muitos desencontros, ela se casa com Léo, para tentar esquecer Pedro. Estão nesta fase as melhores oportunidades para a personagem Marina se tornar atuante, movimentar a história. Mantém um caso amoroso extraconjugal com Pedro, passa a investigar as tramoias de Léo e o ápice de sua influência na trama é quando Marina tenta gravar uma confissão do marido para incriminá-lo. Logo depois de brincar de ser espiã, Marina volta a trilhar um caminho morno, sem grandes reviravoltas.

Discordam da exposição? Então, vejamos a participação de cada um nos acontecimentos que antecedem a morte de Norma. Pedro, Marina e Raul (Antonio Fagundes) decidem que Norma deve encarar realidade para entender e aceitar que Léo a usará novamente. Para tal, tentam contar a ela que uma pulseira dada por Léo, na realidade, fora roubada de Marina. Mesmo com a revelação da designer, Norma não se rende imediatamente e busca Wanda (Natália do Vale) para confirmar o que foi dito. Norma percebe que Léo mentiu e dá uma chance a Pedro e Marina de contarem tudo o que sabem. Então, é criada uma armadilha para que Léo confesse que não ama Norma. O responsável por colocar tal estratagema em prática é Pedro, que provoca o irmão até arrancar dele a confissão, ouvida por Norma. Depois deste micro clímax, Pedro vai embora mas, no caminho, decide voltar, preocupado com a reação de Norma. Chegando à fatídica casa, dá de cara com Raul e o corpo da enfermeira. Pedro, Raul, Wagner (Eduardo Galvão) e Jandira (Cristina Galvão) são conduzidos à delegacia, prestam depoimentos, etc. Depois desta rápida retomada dos capítulos 181 e 182, eu lhes pergunto: se Pedro teve tamanha presença na ação da trama, onde estava Marina? A personagem de Paola Oliveira ficou presa em seu escritório, aguardando periódicos relatórios de Pedro via celular. A inércia da personagem nesta situação é apenas um dos muitos exemplos que se pode encontrar ao longo da trama.

Outro detalhe que passou desapercebido da imprensa é que, estruturalmente, “Insensato coração” contou com mais de um protagonista. Temos o que eu chamaria de “protagonização compartilhada” entre os personagens Marina, Pedro, Norma, Léo, Raul, Wanda, Carol (Camila Pitanga), André (Lázaro Ramos), Cortez (Herson Capri) e Natalie (Deborah Secco). Cada um deles é protagonista de sua subtrama e, na junção de todas estas subtramas é que surge a espinha dorsal da novela (tal união acontece de modo efetivo após o capítulo 100). Trata-se, então, de uma construção sofisticada e complexa de novela, o que é positivo para o gênero, mas leva a alguns efeitos colaterais, como a ausência de um protagonista absoluto (levando à divisão desta força entre muitos personagens).

Entretanto, vale salientar que, desde janeiro, Paola Oliveira e Eriberto Leão receberam inúmeras críticas: falta de química, antipatia, entre muitas outras maledicentes que não vejo sentido em reproduzir aqui. Tais críticas são prejudiciais em uma análise, já que os dois mostraram grande profissionalismo e excelente espírito de equipe, de coletivo. Não adianta querer uma soberba performance de um ator, atuação esta além de sua responsabilidade, pois tal trabalho acabará acentuando desníveis no elenco e destruirá algo chamado unidade. Cada personagem tem seu espaço exato para preencher, podendo evoluir ou não dependendo das necessidades da trama, e não do peso comercial do nome do ator que o ocupa. O de Marina e Pedro era este apresentado. Este caso me faz recordar o problema que Taís Araújo encontrou quando protagonizou “Viver a vida”, em 2009. Sua personagem teria sido ofuscada por Luciana (Alinne Moraes) e Tereza (Lília Cabral). Reclamava-se que Taís não demonstrava empatia nem empolgava como Helena. Porém, poucos na época pararam para sublinhar que Taís Araújo estava cumprindo o papel a que lhe era destinado, nem mais, nem menos. Então, é mais do que merecido ressaltar mais uma vez a competência de Paola Oliveira e Eriberto Leão, profissionais em grande crescimento e capazes de segurar voos mais ambiciosos.

Gilberto Braga e Ricardo Linhares têm seguido um estilo de protagonistas bem parecido nas últimas três novelas (atenção aos caluniadores: “seguindo estilo parecido” não quer dizer “estão se repetindo”). Em “Celebridade” (2003/04), novela da qual Ricardo Linhares participou como colaborador, Maria Clara (Malu Mader) e Fernando Amorim (Marcos Palmeira) tiveram uma relação bastante ofuscada pelo brilho de vilões como Laura (Claudia Abreu), Marcos (Márcio Garcia), Renato Mendes (Fábio Assunção), Ana Paula (Ana Beatriz Nogueira), etc. Fora isto, a atuação de cada um na trama ficou presa por diversos motivos. Como exemplo, Maria Clara só passou a reagir aos golpes de Laura quando perdeu tudo e percebeu que a doce e proativa assistente era, na realidade, a víbora responsável pelo seu declínio. Já Fernando esteve a novela inteira preso nos problemas conjugais com Beatriz (Deborah Evelyn), nas chantagens do sogro Lineu Vasconcellos (Hugo Carvana) e na recente morte do filho Fábio (Bruno Ferrari), o que teve por consequência uma depressão do personagem Inácio (Bruno Gagliasso). Já em “Paraíso tropical” (2007), Gilberto e Ricardo criaram uma protagonista, Paula (Alessandra Negrini), que não tinha grande impacto de ação. Ela recebia e amortecia a ação de outros, como a irmã gêmea Taís (Alessandra Negrini). Diferente de seu par romântico Daniel (Fábio Assunção) que, por estar contra Olavo (Wagner Moura) em uma luta de poder no grupo Cavalcanti, teve melhores oportunidades para dominar sua trama para agir, aproximando-se mais do que esperamos de “protagonista” clássico.

O que podemos tirar de lição do casal principal de “Insensato coração”? Primeiro, não deve ser uma regra fixa que todo personagem seja obrigado a dar muitos olés ao longo de uma história. O personagem está naquela trama porque exerce uma função específica naquela engrenagem, mesmo que seja o de “carrega-piano”. Segundo, que atualmente temos uma imprensa “especializada” ávida por encontrar boatos e crises em todos os setores da televisão. Como a telenovela ainda é o carro-chefe de investimentos e audiência, desce-lhe o chicotinho sem piedade e sem uma justa análise. Terceiro e último, se compararmos a trama de Marina e Pedro com a de Norma, onde houve uma agressiva e amarga mercantilização dos sentimentos, pudemos acompanhar uma história de amor que nos incentiva a pensar que vale muito a pena preservar e batalhar por bons sentimentos, ainda que estejamos em uma atualidade bem estranha (“bebês voadores” do sexto andar, crimes cometidos por cinquenta reais ou impunidade descarada, entre muitos outros). Tal conclusão chega a me dar um conforto mesmo. Ou será que a função da teledramaturgia não é também nos alentar?

(por Jordão Amaral)

sábado, 20 de agosto de 2011

O final de “Insensato Coração”

Ontem chegou ao fim mais uma novela das oito. Uma novela que, em sua reta final, caiu na boca do povo e com audiência elevada (embora os acessos aos vídeos dela no site da emissora sempre bateram recordes desde seu início). Apesar de Gilberto Braga dizer aos quatro ventos que este foi seu melhor trabalho, coisa que ele fala ao término de cada uma que escreve, “Insensato Coração” foi fraca. Melhor que “Viver a Vida”, que não tinha história, sem dúvida; aquém de “Passione”.


Como já dito em um artigo aqui no blog há meses atrás, a novela conseguiu criar uma barriga já no segundo mês de exibição por conta das tramas soltas que não se entrelaçavam nem interagiam. “Insensato” tomou fôlego a partir de sua metade, após Norma (Glória Pires) sair da cadeia e todos os personagens se encontrarem no Rio de Janeiro.

Talvez o maior erro dos autores tenha sido não definir os verdadeiros e únicos protagonistas desta história: Norma e Léo (Gabriel Braga Nunes). Eles, sim, possuem corações e atitudes insensatas. Léo agiu o tempo todo querendo provar ao pai que podia ser melhor que o irmão e motivado por uma suposta falta de amor por parte de Raul (Antonio Fagundes). Norma foi enganada pelo golpista, acreditou que poderia ser amada e caiu numa grande cilada que a levou para a cadeia. Quando, finalmente, teve a oportunidade de se vingar, deixou o amor falar mais alto e acabou se envolvendo novamente com seu algoz.

Claro que o melhor final de Normal seria a morte. Mas sabendo que era ela quem conduzia toda a história, valeu a pena matá-la no capítulo de terça-feira e com um assassinato e suspense tão esdrúxulos? Fico pensando se esse “quem matou?” foi realmente necessário. E chego à conclusão que, absolutamente, não. Norma tinha de morrer – uma morte bem trágica, por sinal – no último capítulo, após, finalmente, conseguir se vingar de Léo.

Todos os outros personagens, embora com tramas independentes, deveriam girar em torno desta trama de amor, ódio e vingança, que, sem dúvida, era a mais forte da novela. Eleger Pedro (Eriberto Leão) e Marina (Paola Oliveira) como protagonistas, por exemplo, foi um grande erro. Mesmo porque todas as motivações dos personagens giravam em torno do Léo. Não tinham histórias e conflitos próprios. Aliás, Marina foi uma personagem insossa, sem graça, que não tinha força para segurar a novela. Não é culpa da Paola Oliveira, que isso fique bem claro.

Outro grande erro foi escalar Lázaro Ramos para o garanhão pegador de todas as mulheres do Rio de Janeiro. Bastava dizer “olá” para as mulheres já pararem direto na cama de André. Lázaro defendeu o seu personagem com dignidade, bom ator que é. Mas houve um erro de escalação ou de conduta por parte dos autores. Ele até poderia ser um garanhão, mas faltava imprimir uma boa lábia ao personagem. Mesmo porque, além de chato, ele não é aquela pessoa que faz qualquer mulher ficar de quatro só de olhar. Já o bate-bola com Camila Pitanga em cena sempre foi muito bom de assistir desde o início da novela. E foi graças a essa relação com Carol que o personagem pôde se humanizar e dar uma boa virada em sua trajetória.

Interessante foi a presença de diversos tipos de personagens homossexuais: desde o exagerado, passando pelo discreto, até o cara que se descobre gay. Foi um painel interessante, apesar da censura e da tal chata discussão do “ter ou não ter o beijo gay”. Destaco essa trama paralela por conta da denúncia de agressões por parte dos grupos de pitboys, neonazistas e afins que hoje em dia atacam as minorias por não concordarem com a existência delas. Pelo menos na novela Vinícius – muito bem interpretado por Thiago Martins – foi condenado a doze anos de prisão. Na vida real, esses agressores são soltos no mesmo dia em que são presos. É a impunidade que existe numa sociedade que elege Tiririca como deputado. “Para descascar o abacaxi, vote em Natalie!”

A relação do casal Bibi (Maria Clara Gueiros) e Douglas (Ricardo Tozzi) também foi um dos pontos altos da novela. Bibi, sendo uma personagem plana, sem viradas, uma devoradora de homens do primeiro ao penúltimo capítulo, tinha tudo para se tornar cansativa. Mas aí entrou Douglas na parada, que de interesseiro se tornou um apaixonado, com todos os sonhos de uma verdadeira mulher. Roubaram o foco e trouxeram todas as atenções para eles em diversos momentos da trama.

Por fim, muito legal a homenagem da equipe ao diretor Dennis Carvalho, que é queridíssimo, e muito justo também os créditos, no final, colocando Ricardo Linhares como primeiro autor. Detalhe: esqueceram de colocar a Louise Cardoso e o Tarcísio Meira, além de mencionar as diversas participações de luxo que a novela teve.


QUENTE
Destaque para Antonio Fagundes, Glória Pires, Gabriel Braga Nunes, Camila Pitanga, Natália do Valle, Débora Evelyn, Deborah Secco, Herson Capri, Ana Beatriz Nogueira, Maria Clara Gueiros, Ricardo Tozzi, Thiago Martins e Ana Lúcia Torre pela forma como conduziram seus personagens. Todos tiveram grandes momentos na novela.

MORNO
“Insensato Coração” está longe de ser um fracasso, mas também longe de ser uma boa novela. Alguns personagens e tramas caíram na boca do povo, eram comentadas; no entanto, não será uma novela que ficará por muito tempo na memória do público, infelizmente.

FRIO
O suspense em torno da morte de Norma. Soou tão batido, repetitivo e chato! Os autores perderam uma ótima oportunidade de dar um final grandioso à personagem.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"Vamp" é ruim

Há alguns meses sendo reprisada pelo Canal Viva, a novela “Vamp” está podendo mostrar o quão frágil é, apesar do relativo sucesso que fez quando exibida pela Globo em 1991, o que faz dela muito mais uma novela cult do que uma boa produção.

Comecemos analisando a trama principal, a dos vampiros e a cantora Natasha (Cláudia Ohana). A novela já está quase na metade da exibição e a trama referente aos vampiros não decola. Muito pelo contrário, o autor foge dela como os vampiros da cruz. Quando ela dá brecha de que, finalmente, será desenvolvida, é inventada alguma outra situação que a tira do foco. Não tem ritmo. Um mesmo personagem terá, ao longo da trama, mais de dois ou três caminhos distintos (e não concomitantes ou consequentes). Abandonam-se os conflitos com uma facilidade esquizofrênica, o que causa uma falha na estrutura da novela. Talvez, por isso, não se surpreenda se você perceber que, sem uma explicação razoável, a história dos vampiros pegará embalo (e abruptamente chegará ao clímax) nos últimos 20 capítulos da novela. Enquanto isso não acontece, dá-lhe desencontros tediosos entre os personagens.

Já a cantora Natasha, numa época em que os videoclipes estavam na moda, era uma personagem interessante, mas muito mal-aproveitada. Estrela do rock, conhecida internacionalmente, chegou em Armação dos Anjos como uma mulher esquisita (exótica até, assim como o estereótipo dos ”mitos” da música) e cheia de vontades. Ao longo dos capítulos, essa esquisitice foi esquecida pelos outros personagens e suas vontades foram substituídas por uma chata fragilidade. Ou seja, a personagem perdeu o que tinha de bom e que poderia lhe render situações bastante interessantes e inusitadas. A motivação do personagem – ser uma estrela do rock – é atingida logo no primeiro capítulo e, depois disso, não é criado nenhum outro objetivo de fato consistente, o que torna a sua passagem pela trama bastante pálida. Sem contar aquela paixão repentina e que não convenceu pelo Capitão Jonas (Reginaldo Faria). Num belo dia, ela acordou, decidiu que essa paixão por Jonas era uma loucura e se envolveu com o filho do Capitão, Lipe (Fábio Assunção). Se nem Freud explicaria a psicologia da vampira-cantora, quem dirá Antonio Calmon.

Além disso, outro lenga-lenga que perdura praticamente a novela inteira é que toda mulher que chega na cidade se apaixona pelo Capitão, causando ciúmes em Carmem Maura (Joana Fomm). Primeiro, a cunhada dele, Mary (Patrícia Travassos); depois, foi a vez de Natasha; em seguida, Soninha (Bia Seidl); e, por último, a caçadora de vampiros, Alice Penn-Taylor (Vera Holtz). As tramas se repetem o tempo inteiro e as histórias e conflitos do casal ficam presos a esse único obstáculo. A família do Capitão Jonas e Carmem Maura foi uma boa ideia do autor, mas seria mais adequada a um seriado, por exemplo. Como novela (e a necessidade de histórias para capítulos diários), revela uma crônica e constrangedora ausência de fôlego.

Enfim, pode-se perceber nesta novela que falta progressão dramática, os ganchos não são bem trabalhados, diálogos pobres e frágeis, situações bobas e erros horríveis de cronologia na formação dos capítulos. A história de “Vamp” é muito interessante, mas a novela poderia ter sido maravilhosa se tivesse sido bem construída e as ideias melhor aproveitadas.

Destaque para os personagens de Carmem Maura (Joana Fomm), Padre Garotão (Nuno Leal Maia), Mary Matoso (Patrícia Travassos), Matoso (Otávio Augusto), Simão (Evandro Mesquita) e Vlad (Ney Latorraca). Todos bem construídos e muito bem interpretados pelos respectivos atores, apesar de vagarem muitos capítulos na imensa falta de assunto da trama.

Por fim, “Vamp” nos faz questionar por onde andam bons atores que nunca mais foram chamados para novelas, como é o caso de Inês Galvão, Carol Machado, Daniela Camargo (entrevistada pelo blog recentemente), Rodrigo Penna, Henrique Farias e Juliana Martins. Também não podemos deixar de dizer que ainda bem que Amora Mautner virou diretora, pois como atriz era péssima.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Um grande vilão

Numa semana em que tanto se falou sobre construção dos vilões das telenovelas e suas motivações, vale a pena citarmos o melhor vilão das últimas novelas: Timóteo Cabral (Bruno Gagliasso), de “Cordel Encantado”.

Timóteo começou como um garoto mimado, rico, que disputava a atenção de Açucena (Bianca Bin) com o peão da fazenda de seu pai, Jesuíno (Cauã Reymond). Aos poucos, a obsessão pela garota só foi aumentando. Para conquistá-la, ele passa a acreditar que precisa se tornar poderoso, ser muito mais do que um coronel. E o personagem deixa de ser apenas o vilão de um triângulo amoroso para ser o vilão de uma novela inteira, contra toda uma cidade.


Timóteo virou rei, um tirano que cria suas próprias leis e inferniza a vida de todos os cidadãos de Brogodó: cobra impostos altíssimos de todos os estabelecimentos comerciais, exige divisão dos lucros, invade as casas a hora que bem entender, se dá ao direito de palpitar na vestimenta da população, colocou o Rei Augusto (Carmo Della Vecchia) e Petrus (Felipe Camargo) para realizar trabalho escravo em sua fazenda, entre outras atrocidades.

Vilões que movem todas as tramas e agem sobre quase todos os personagens são muito difíceis. Eram comuns nas novelas de antigamente, talvez por conta do pequeno número de personagens, quando a ação era mais concentrada. No caso de “Cordel Encantado”, aproveitando uma pequena cidade fictícia do sertão, cuja população se conhece e se relaciona, e ainda se aproveitando da presença de reis, rainhas, duques e afins na trama, a oportunidade surgiu.

Timóteo se tornou um daqueles vilões odiosos e odiados. Foi entrando na história aos poucos e centralizando todas as ações. Vontade de entrar na televisão e dar um “chega pra lá” no coronelzinho tirano não falta! Vilão como poucos. Mérito da belíssima atuação de Bruno Gagliasso e das autoras Thelma Guedes e Duca Rachid. “Cordel Encantado” é um acerto em tudo!

sábado, 30 de julho de 2011

O ABC do Santeiro


Confirmando sua vocação para o resgate de boas recordações e excelentes momentos televisivos, o canal Viva começou neste mês de julho a reprise da novela “Roque Santeiro”. Um dos maiores fenômenos de audiência e qualidade dramatúrgica (equiparando-se a novelas como “Beto Rockfeller”, “O bem-amado”, “Irmãos Coragem”, entre outras, no que diz respeito a sua importância neste gênero), a trama de Dias Gomes, escrita por ele e por Aguinaldo Silva, mostra às novas gerações um momento de raríssima felicidade de nossa televisão.

Em 1985, a linha de telenovelas da Rede Globo vinha em uma considerável estabilidade, o que engrandecia ainda mais as comemorações dos vinte anos da emissora. No horário das seis, tanto “Livre para voar” quanto “A gata comeu”, sua sucessora, eram êxitos indiscutíveis. No horário das sete, após a coqueluche que fora “Vereda tropical”, a novela “Um sonho a mais” teve muitos percalços no início (de audiência e, principalmente, de dramaturgia), mas acabaria por encontrar um caminho, ao menos, digno até seu fim. Já no horário das 20h, “Corpo a corpo”, de Gilberto Braga, envolvia os telespectadores com uma inteligente e folhetinesca trama que tocava em assuntos muito sérios, tais como ascensão feminina, racismo, etc. Neste mesmo ano de 1985, o último presidente militar deixava o poder, após 21 anos de um legado maldito. Entretanto, a Censura federal perduraria por mais alguns anos, mas agora relativamente mais branda (ainda que muito pouco). A mesma Censura federal que vetara “Roque Santeiro” em 1975.

“Roque” seria a primeira novela de Dias Gomes no horário das 20h. Também marcaria o início da produção a cores no horário e uma renovação temática, trazendo para o carro-chefe da emissora o estilo bem sucedido das novelas das 22h. A trama de “Roque Santeiro” fora baseada na peça de Dias “O berço do herói”, assim como boa parte (em maior ou menor grau) de suas obras para a TV. Porém, a referida peça já estava vetada pela “temida” Censura federal. Dias Gomes, acreditando na óbvia limitação de alguns censores, mudou alguns nomes, poucos aspectos (a peça trazia como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial) e apresentou a sinopse da novela, que fora aprovada. Após 36 capítulos gravados, no dia da estreia, a novela recebeu diversos cortes inexplicáveis. Horas depois, ela foi proibida de ir ao ar às 20 horas (e, mesmo sendo exibida às 22h, mais cortes seriam feitos, o que inviabilizava a compreensão da trama). Algum tempo depois, Dias Gomes soube que o telefone de Nelson Werneck Sodré, seu amigo, estava grampeado e o Dops (Delegacia de ordem política e social) ouviu a conversa em que Dias confessava a adaptação de “O berço do herói”. A Rede Globo preparou uma emergencial reprise de “Selva de pedra”, parte do elenco foi remanejada para a próxima novela, “Pecado capital”, a emissora amargou muitos cruzeiros de prejuízo e, no fundo, os profissionais envolvidos (leia-se Boni e Daniel Filho) guardaram um nó na garganta, pois sabiam que o que apresentariam era radicalmente diferente do que o gênero vinha fazendo.


Tal inconformismo é plenamente justificável. A novela conta a história de Roque (José Wilker), um santeiro na pequena Asa Branca que, ambicioso e limitado pelas poucas oportunidades que a vida lhe deu, aproveitou a invasão do cangaceiro Navalhada (Oswaldo Loureiro) para roubar os moradores da cidade, passando-se por interlocutor do bandoleiro ao dizer que ele exigia uma quantia para ir embora sem matar ninguém. Só que, em posse do dinheiro, Roque foge e vai para o Rio de Janeiro e, depois, Europa. Neste meio tempo, Sinhozinho Malta (Lima Duarte) percebe a oportunidade de trazer sua amante Porcina (Regina Duarte) e forja a morte do santeiro. Traumatizado, o pai de Roque, Salustiano (Nelson Dantas), isola-se em uma palafita e começa a pregar a paz como Beato Salú. Dias depois, Porcina aparece, dizendo-se viúva do santeiro, o que já inicia uma confusão, pois Roque deixara uma noiva, Mocinha (Lucinha Lins). O mito de Roque começa a crescer quando uma menina, Lulu (Cássia Kiss), mente para os pais, dizendo que tem visões onde Roque lhe manda que se banhe com a lama do rio para se curar de algumas doenças de pele. Os banhos dão certo, já que a lama é medicinal. As mentiras vão crescendo e, dezessete anos depois, todos estão aprisionados nos mitos que criaram. Sinhozinho e Porcina enriqueceram muito com a exploração de Roque Santeiro, assim como Zé das Medalhas (Armando Bógus). Lulu, agora mulher de Zé das Medalhas, torna-se uma quase santa aos olhos da população e leva uma vida castrada de qualquer prazer. A cidade de Asa Branca prospera, torna-se um ponto turístico religioso, com grande projeção no cenário político nacional, o que muito envaidece o prefeito (e barbeiro) Florindo Abelha (Ary Fontoura). O ápice de tal efervescência é a chegada à cidade da equipe de cinema liderada por Gérson do Vale (Ewerton de Castro), dispostos a filmar a saga de Roque Santeiro. Todavia, este, sem saber que se tornou um mito (com direito a uma falsa viúva), resolve voltar para Asa Branca, a fim de devolver um ostensório roubado da igreja de Padre Ipólito (Paulo Gracindo). Seu retorno pode significar o fim de Asa Branca, o que leva os poderosos da região (Sinhozinho Malta, Porcina, Zé das Medalhas, Padre Ipólito e Florindo Abelha) a criar mil situações, ganhando tempo para convencer Roque a ir anonimamente embora e manter o mito de Roque Santeiro intacto.

A estrutura da novela permite uma crítica ao misticismo sim, mas também se pode dizer que há uma discussão sobre os mitos que criamos, com os quais permanecemos aprisionados (talvez a grande representante disso seja a personagem Lulu). Como se pode ver, é uma experimentação da linguagem narrativa bem diversa dos intrincados amores que predominavam a telinha (não que tais enredos não sejam bons, mas o excesso deles traz uma massificação de um modelo de história, chegando a se confundir gênero com o conteúdo repetidamente veiculado). A inteligente trama de Dias Gomes recebeu imprescindível releitura de Aguinaldo Silva. Dias, na época, não quis reescrever a novela por alguns motivos, entre eles, o fato de estar cansado do trabalho televisivo após anos elaborando sozinho o seriado “O bem-amado”. Além disso, Dias Gomes implantara neste período a Casa de Criação Janete Clair, uma tentativa de se formar autores para a televisão, o que lhe ocupava muito tempo de trabalho. Aguinaldo Silva assume então a novela e, juntamente com os diretores (liderados por Paulo Ubiratan), engrandece a aceitação da novela pelo público, chegando a marcar 100 pontos de audiência. Deste fato, começa a via crucis de “Roque Santeiro”.

O problema é que a novela se torna um mito muito maior do que realmente é. A equipe estava muito empenhada em contar tal história e o público encontrava-se extasiado pela possibilidade de assistir a uma trama sem as ferrenhas ameaças da Censura (ainda que ela continuasse a existir). Resultado: a novela se tornara logo nas primeiras semanas um fenômeno sem precedentes. Dias Gomes, voltando de uma viagem à Europa, percebeu o imenso êxito de sua história e tentou retomar a redação. Aguinaldo Silva não aceitou de modo algum, principalmente quando sugeriram que ele deixasse a novela e divulgasse que o fez para homenagear Dias, permitindo-lhe escrever o final. A confusão estava armada.

No que se refere à narrativa de “Roque Santeiro”, esta alternância de autoria cria três diferentes níveis na estrutura da novela. O primeiro está nos cinquenta capítulos iniciais, escritos por Dias Gomes e retrabalhados por Aguinaldo Silva. É a introdução da história, a apresentação de todos os elementos. Em seguida, temos o rincão Aguinaldo Silva, que inclui seus traços autorais, como a criação da Rua da Lama (inspirada na baixada fluminense, região que Aguinaldo conhece muito bem por ter trabalhado anos como repórter policial) e a chegada ao clímax, quando Padre Albano (Claudio Cavalcanti) reúne a população de Asa Branca para revelar a farsa. Após, com a retomada de Dias Gomes, esvazia-se as adições criadas por Aguinaldo. A conduta dos personagens é um grande indicador dessas variações. Sinhozinho Malta inicia a novela como um grande malandro, passa a se mostrar violento e disposto até a resolver as situações na bala, para, no fim, fazer de um tudo para colocar panos quentes em todos os problemas causados pela chegada de Roque.

Apesar de tantas confusões e desníveis narrativos, a novela “Roque Santeiro” guarda números bastante vultosos. Além de uma expressiva audiência, a trama originou um álbum de figurinhas, duas adaptações literárias (uma em 1987, de Eduardo Borsato, e outra em 2008, de Mauro Alencar) e duas trilhas sonoras recordistas em vendagem. O volume 1 de “Roque Santeiro” ultrapassou 1 milhão de cópias vendidas logo nas primeiras semanas. Ao contrário do habitual (e retomando um esquema inicial para as trilhas sonoras), as músicas desta novela foram compostas, por encomenda, a personagens específicos. Tal preciosismo é fundamental para a interpretação da obra. Como exemplo, o que seria do professor Astromar Junqueira (Ruy Resende) sem a grave voz de Zé Ramalho a cantar “Mistérios da meia noite”? Incrivelmente, tantas derivações a partir da novela foram lançadas muito antes de a Rede Globo ter um esquema de licenciamento de produtos, prática mais do que corrente hoje em dia. Recentemente, “Roque Santeiro” foi a primeira telenovela da Rede Globo a ser lançada em DVD – prática bastante usual no México, onde a Televisa vende compactos de seus maiores sucessos; no Brasil, algumas tímidas tentativas foram feitas, como os compactos de “Floribella” e Dona Beija” (este último ainda em VHS). Além de todos estes dados, falta citar que ela foi reprisada em duas ocasiões: em 1991, antes da novela das seis (a saber, “Salomé” e “Felicidade”) e em 2000/01, no “Vale a pena ver de novo”.

O público tem agora o deleite de rever atuações marcantes de Lima Duarte, Regina Duarte, Yoná Magalhães, Lídia Brondi, Paulo Gracindo, Ary Fontoura, Heloísa Mafalda, Ruy Resende, Lucinha Lins, Cássia Kiss, Armando Bógus, Claudia Raia, entre outros. Mas, acima de tudo, é a chance de rever um momento em que acontece uma rara sintonia entre texto, elenco, direção, público, forma e conteúdo. “Dizem que Roque Santeiro, um homem debaixo de um sonho / Ficou defendendo seu canto e morreu / Mas sei que é ainda vivente na lama do rio corrente / Na terra onde ele nasceu” (...)

(por Jordão Amaral)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Entrevista: Daniela Camargo

Vocês se lembram de Daniela Camargo, a Lena da novela “Vamp”? Daniela emendou vários trabalhos na televisão nos anos 90. Muitos, agora com a reprise da novela no Canal Viva, devem se perguntar por onde anda a atriz. Nós fomos atrás dela. Acompanhem a entrevista!


Qual foi sua formação acadêmica como atriz? Quais eram os caminhos para a formação de um ator quando você começou a carreira? Era mais difícil que hoje em dia? Na sua opinião, o que seria uma sólida base para um ator (cursos, leituras, referências teóricas, atores icônicos, etc.)?
Comecei a minha carreira na EAD, Escola de Artes Dramáticas da USP, Universidade de São Paulo. Os caminhos para os atores nessa época eram algumas escolas de teatro, incluindo a EAD e a Unicamp, que tinha um curso novo, o qual eu também entrei. Mas, mesmo morando em Campinas, eu optei por estudar em São Paulo, pois já estava trabalhando com publicidade, quis ficar mais perto do mercado de trabalho. Não sei se era mais difícil, acho que hoje deve ter até mais opções. Acredito que uma sólida base só é possível com estudo, leituras, experiências e vivências, cursos etc. Nessa carreira você nunca para de se aperfeiçoar, estudar...

Para você, quais são os prós e os contras de ser atriz?
Os prós nessa carreira para mim é o não ter uma rotina definida, é a variedade de papéis que se pode experimentar, a possibilidade de conhecer pessoas, lugares e assuntos diferentes, de estudar, pesquisar sobre tudo isso e assim fazendo com que cada trabalho seja único. O maior contra acredito ser a instabilidade.

Antes de estrear em novelas, você fez teatro e trabalhou como modelo. Gostaria que você nos descrevesse seu percurso profissional antes da TV e de que forma este período te ajudou a chegar até ela. Aliás, a televisão já era um objetivo a se atingir?
Eu comecei a me interessar por teatro desde muito criança, me fantasiando, fazendo teatro em casa para a família... Queria me inscrever numa promoção para testes para a nova Narizinho de “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”, mas minha mãe não deixou. Eu participava de todas as peças da escola, escrevia, dirigia... Quando fui assistir “Chapeuzinho Vermelho” no teatro, eu senti vontade de me levantar da cadeira e ir para o palco. Não queria assistir, mas fazer. Eu devia ter uns sete anos... Depois dessa peça, tentei encontrar cursos de teatro, mas não existia para crianças. Consegui o telefone da empresa que produzia peças infantis em Campinas, me disseram que tinha que ter dezoito anos. Eu só pensava nisso, em como eu iria sair dali e conseguir fazer teatro. Com dezessete anos, comecei a fazer publicidade, fotos e filmes. Esse caminho me ajudou a começar a trabalhar em São Paulo, daí a escolha da USP. A televisão não era um objetivo, mas ela veio rápido.

Sua primeira novela foi “Mico preto” (Rede Globo, 1990), onde você interpretou a Katy, filha de Fred (José Wilker). Como foi esta primeira experiência em meio a talentos como Márcia Real, José Wilker, Luiz Gustavo, Louise Cardoso, entre outros? Você se recorda da recepção do público a seu personagem?
Minha primeira novela foi especial, um conto de fadas. Eu estava dentro da Globo, ia agendar um teste quando cruzei com o diretor Denis Carvalho no corredor. Ele me viu, perguntou quem eu era, o que estava fazendo. Eu levava um book fotográfico comigo, ele olhou, chamou o diretor Paulo Ubiratan na sala, ligaram para o ator Marcelo Serrado para fazermos um teste na mesma hora. Eu saí de lá com o papel de Katy nas mãos. Peguei um ônibus para São Paulo e mal podia acreditar no que tinha me acontecido. Aquele foi o meu dia! Essa primeira experiência foi maravilhosa, começar a atuar com tantos atores veteranos, conhecidos, foi a continuação da escola que tive que trancar para fazer a novela. A recepção do público foi uma delícia e assustadora, pois eu não conseguia andar em lugar nenhum sem ser notada, principalmente quando ia para Campinas. No começo é difícil de se acostumar.

Logo após “Mico preto”, você participa de “Ilha das bruxas” (Rede Manchete, 1991). Como surgiu este trabalho? O que você gostaria de destacar nesta minissérie? Fale um pouco sobre esse trabalho.
Logo após “Mico Preto”, fui convidada para participar da minissérie "Ilha da Bruxas". Foi uma delícia esse trabalho, pois ficamos um mês inteiro em Florianópolis, que é um lugar maravilhoso. Aquilo tudo que falei antes sobre lugares, pessoas e assuntos diferentes se encaixa aqui. Estudamos sobre as lendas, estórias da ilha, enfim, só tenho boas recordações.

Um de seus trabalhos mais lembrados até hoje foi em “Vamp” (Rede Globo, 1991/92). A Lena é uma personagem com bastante importância na trama, fazendo parte do triângulo amoroso com Lipe (Fábio Assunção) e Natasha (Claudia Ohana). Com a reprise da novela pelo canal Viva, como você avalia seu trabalho nesta novela? Você está assistindo? Como tem sido a reação do público, muitos deles nascidos depois de 1991?
A novela “Vamp” realmente é um dos meus trabalhos mais lembrados mesmo. Essa novela foi um sucesso absoluto, foi uma inovação em vários aspectos. Ela marcou uma época e marcou a vida de uma geração de jovens. Com a reprise da novela, intensifica mais ainda o reconhecimento diário do meu trabalho, pois não tem um só dia sequer que alguém não me pare para cumprimentar, perguntar por que não estou trabalhando, que devo voltar etc. Eu era jovem e ainda inexperiente, mas acho que cumpri o meu papel. Eu não vejo a novela. Quando fiquei sabendo que ia reprisar, eu contei para minha filha de sete anos, pois ela sabe que sou atriz, e me pediu para ver. Liguei umas duas vezes, vi com ela, me fez muiiiiiiitas perguntas, estava curiosa para saber como era o meu trabalho. Foi bem legal e ela adorou me ver na TV.

Ainda sobre “Vamp”, é importante destacar que tanto nesta produção quanto em “Top Model” (Rede Globo, 1989/90) há evidente destaque a um elenco adolescente ou jovem, com poucos trabalhos na TV (no caso de “Vamp”, você, Fernanda Rodrigues, Bel Kutner, Pedro Vasconcellos, entre outros). Como era a abordagem destes adolescentes na época? As temáticas que esses núcleos traziam encontravam um diálogo com o público jovem? Você sente grande diferença na abordagem do jovem atualmente?
O que me lembro daquela época, do que diziam a respeito dos jovens, do universo em que eles estavam inseridos era mais leve, não tinha essa sexualidade precoce que existe hoje, violência. No caso da novela “Vamp”, tinha tanto bom humor que o diálogo com os jovens era muito agradável, era só diversão.

Na novela “Sonho Meu” (Rede Globo, 1993/94), você pôde interpretar uma personagem diferente das mocinhas que vinha fazendo (apesar de a Katy de “Mico preto” ter também um lado bastante rebelde). Francisca era uma personagem mais atirada, moderna e, da metade para o final da novela, teve boas cenas cômicas com Giácomo (Eri Johnson). Quais são as lembranças que você guarda desta personagem?
Adorei fazer a Francisca de “Sonho Meu”, tive muito retorno do público com esta personagem, era uma delícia, eu me divertia muito nas cenas com o Eri Johnson. E era a primeira personagem cômica, moderna, diferente das mocinhas anteriores.

Ainda sobre “Sonho Meu”, esta foi sua última novela na Rede Globo. Logo em seguida, você passa a trabalhar no SBT. Como foi a transição? Sentiu diferenças técnicas e/ou da reação do público ao mudar de emissora?
Quando terminei “Sonho Meu”, fui para Nova York estudar, passei quase três meses lá. Vim para São Paulo passar meu aniversário e recebi nesses dias um convite do Nilton Travesso para fazer “As Pupilas do Senhor Reitor”. Fiquei feliz com o convite na época, fui para NY para pegar minhas coisas, organizar tudo e voltei correndo, pois tinha que embarcar para Portugal para as gravações. Foi tudo muito rápido. A gente vai onde o trabalho está, e para mim foi muito bom trabalhar no SBT, não senti diferença. O importante era estar trabalhando com pessoas competentes, cheias de vontade. O clima e as condições de trabalho eram excelentes.

No SBT, você fez três novelas: “As pupilas do senhor Reitor” (1994/95), “Antônio Alves,  taxista” (1996) e “Os ossos do Barão” (1997). Felizmente, representam bem as três fases de teledramaturgia do SBT nos anos 1990: remakes bem-sucedidos, adaptação de textos argentinos e a posterior retomada de remakes. Gostaria que você comentasse o projeto de teledramaturgia do SBT na época, como foi sua participação em cada novela e quais foram os problemas e os sucessos que encontrou nesta emissora.
A Amália é uma das minhas personagens favoritas, eu mergulhei nessa personagem maravilhosa que me foi dada. “Antonio Alves, o Taxista” foi uma experiência boa, passamos quase cinco meses em Buenos Aires gravando. Tivemos dificuldades com a parte técnica, mas valeu a experiência. “Os Ossos do Barão” foi muito gratificante também, uma bela personagem, um grande elenco. No final da novela, já sentíamos que o SBT estava com dificuldades. Eu particularmente ganhei uma experiência muito boa nessa época.

Após sua passagem pelo SBT, você participa de três produções da Rede Record: “Por amor e ódio” (1997), “A história de Ester” (1998) e “Alma de pedra” (1998). Quais foram seus personagens nestas minisséries? Duas delas (“A história de Ester” e “Alma de pedra”) tinham viés fortemente evangélico, o que encontra grande resistência por parte do público e dos profissionais ainda hoje. Como lidar com este pré-conceito que pode prejudicar um trabalho antes mesmo de ser apresentado?
Meus trabalhos na Record foram bons, protagonizei essas três minisséries. Não tive nenhum problema pelo fato de a emissora ser de uma religião específica, não misturo as coisas. Oportunidade de trabalho, de exercitar o meu ofício, feito com profissionalismo, não vejo por que ter pré-conceito.

Ainda sobre seus trabalhos na Record, como foi o trabalho de pesquisa para os personagens bíblicos ou ligados à Igreja Evangélica? Houve diferenças de composição para com o trabalho que você desenvolvia até então?
Apenas para “A História de Ester” foi preciso estudar um pouco mais, pois se tratava de uma história bíblica.

De todos os autores e diretores com os quais você trabalhou, quem você destaca? Quais ensinamentos passados por ele(s) você carrega até hoje?
Gostei de trabalhar com todos os autores e diretores, estamos sempre aprendendo algo a mais, admiro o trabalho de todos eles, não poderia destacar ninguém.

Sua última aparição como atriz foi no filme “Fim da linha” (2008). Como surgiu o convite? Foi sua primeira participação em cinema? O que você destaca como importante neste trabalho?
O filme “Fim da Linha” surgiu através de um teste via agente. Foi minha primeira participação em cinema, sim. Foi uma experiência muito gratificante, pois tinha muita vontade de fazer cinema, adorei! Gostaria muito de trabalhar em novos filmes.

Inevitavelmente, com a reprise de Vamp, surge a curiosidade: o que você tem feito hoje em dia? Ainda trabalha no meio artístico? Sente saudades de atuar? Tanto tempo longe da televisão foi uma opção ou uma imposição? Por quê?
Atualmente eu não estou atuando, me dedico completamente na educação dos meus filhos, tenho uma menina e um menino. Depois da minha primeira filha, eu tentei voltar ao mercado de trabalho, mas ai veio o segundo... Por opção, resolvi me dedicar só a eles por serem pequenos. Acho que essa resolução foi muito importante, pois participo ativamente da educação e criação dos meus filhos. É claro que sinto saudades, vontade de atuar. Agora, aos poucos, começo a pensar em voltar a trabalhar.

Como você analisa o mercado de trabalho do ator atualmente?
Acho que o mercado de trabalho está sempre crescendo, com muitas possibilidades, muitas produções. Acho que tem mais espaço, ao mesmo tempo, cada vez mais gente batalhando por esse espaço. Acredito que continue tão difícil quanto antes conseguir trabalho.

O que tem achado das novelas atuais? Você as acompanha?
Eu não acompanho novela há muito tempo. Sei o que esta acontecendo pela mídia, acompanho as notícias somente.

(por Beatriz Villar)