sexta-feira, 13 de maio de 2011

Lara com Z... de zaranza!

Há mais ou menos um mês postei neste blog um primeiro parecer sobre as séries nacionais que a Rede Globo lançara recentemente (“Entre um episódio e outro...”). É com perplexidade que retorno ao tema para uma análise de “Lara com Z”, o atual vexame-coletivo que vai ao ar todas as quintas-feiras. Constrangedor para o público, pobre para o currículo dos profissionais envolvidos. De quem é a culpa para pífio desempenho? De muitos, mas o principal responsável é o próprio Aguinaldo Silva.

 

 

Há algum tempo, o novelista divulga em seu blog oficial fotos do seriado, rápidas notícias, pistas de escalação, ou seja, fomenta a expectativa de seus ávidos leitores que buscam uma mera lamparina de sucesso. Pois, o que se vê no vídeo não chega nem perto de todo o suspense criado. A história de “Lara com Z” (co-escrita por Maria Elisa Berredo) até é interessante e talvez tenha como referência as melhores comédias hollywoodianas das décadas de 1930/1940. Mas só em sua ideia inicial: uma atriz decadente às voltas com seus problemas profissionais e pessoais. O produto final é um pedestal de marfim para que o autor consiga se vangloriar de méritos que até agora não foram exibidos via Embratel. O que se vê é uma série de vaidades e o seriado como arma para pendengas do próprio autor. Ou alguém é capaz de acreditar que a personagem Sandra Heibert (divinamente interpretada por Eliane Giardini) é apenas uma crítica aos jornalistas em geral que vivem de depreciar os artistas?

 

A cada episódio, a trama de Lara Romero (Suzana Vieira) consegue ser mais infeliz e de um humor bastante duvidoso. Um exemplo? Pois lhes dou alguns: a sequência em que Lara foi flagrada em um motel na Baixada Fluminense poderia ter sido bastante interessante se bem escrita. Entretanto, a falta de ritmo, diálogos mal esquadrinhados e uma Suzana Vieira sendo “molestada” por seu colega de cena só pode ter deixado uma pessoa satisfeita: a própria Suzana.

 

Outra sequência de pobre resultado final foi a que Claus (Dalton Vigh) invade o jantar de Bárbara (Monique Alfradique) e Oliver (Augusto Zacchi). Havia uma progressão dramática interessante, uma tênue tensão entre os personagens e diálogos que ameaçavam desaguar toda a eletricidade da cena. Entretanto, a inversão de clímax provocada pela entrada de Claus completamente bêbado e enlameado tornou o que era uma sequência refinada em confusão de cortiço. Tudo muito superficial, estranho, de mau gosto... Tenho a impressão de que “Lara com Z” foi escrita mais para querer demonstrar a pseudobondade do autor em dar oportunidades a novos "colaboradores" - todos frequentadores do site dele, diga-se de passagem - do que de fato escrever um seriado decente.

 

Obviamente, a pouca qualidade da série não está apenas (apesar de ser a origem) no texto de Aguinaldo Silva. O elenco é muito cúmplice do crime. Por que alguém em sã consciência espera que o telespectador aguarde até às 23h 15min para ver Monique Alfradique fazendo a mimadinha revoltadinha, Thaís de Campos representando a filha introvertida, Wolf Maya encarnando o diretor estressado e Beatriz Segall vivendo a senhora de sentimentos vis e pérfidos? Será mesmo que já não vimos tais personagens bem melhor representados pelos mesmos atores? Também temos a triste presença de Paola Crosara como a repórter abelhuda. Derivada de “Cinquentinha” (assim como “Lara com Z”), a atriz se mostra forçada e irritante, não porque persegue Lara Romero, mas por não saber trabalhar a voz e reações sempre artificiais. Além disso, note-se a tentativa de Humberto Martins em fazer um funcionário público tímido, atrapalhado, mas o que interpreta na verdade é um sujeito bobo e levemente gago.

 

Todavia, não se pode esquecer a própria Lara Romero (ops, quer dizer) Suzana Vieira. Sinceramente, se alguém pedisse para definir os limites entre atriz e personagem, acredito que nem Suzana, nem Aguinaldo conseguiriam tal empreitada. A cada bloco reforça-se a faceta voluntariosa, excessivamente segura e arrogante que a persona da atriz nos vem “brindando” nos últimos anos. Só que o pecado de Suzana Vieira é um pouco menor do que o de Aguinaldo Silva. Nas cenas em que Lara quebra a couraça de grande estrela e se mostra humana, com sentimentos contraditórios, é possível perceber uma sensibilidade de um grande talento que está adormecido. Onde está a atriz que deu vida a Cândida, Marina, Nice, Paula, Amanda, Ana, entre tantas outras? Suzana Vieira precisa se reciclar urgentemente, o que significa trabalhar com outros autores e diretores, voltar ao teatro, ir fazer cinema... Ela quer ser maior que a personagem e o bom ator não se sobrepõe a seu papel.

 

Depois de saída do computador, decorada, montada, dirigida, editada e sonorizada, o que sobra de “Lara com Z” é uma mistura distorcida de personagens já apresentados, repetição de alguns clichês, egos sem dimensões, alguns desafetos de Aguinaldo Silva tratados com desprezo e a reiteração de tudo o que os profissionais envolvidos têm de pior para apresentar. Claro, embalado com papel de “inovação”. “Lara com Z”, a cada semana, nos deixa sempre duas certezas. A primeira é de que a série é muito ruim (uma pena, pois tinha todos os elementos para ser um grande seriado). A segunda é que dormir cedo faz bem à saúde...



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A pedido de André Torres, retifico uma informação colocada no post anterior “Trair uma ideia”: a novela “As Filhas da Mãe” não mudou a linguagem por conta dos grupos de discussão. De fato, os grupos rejeitaram a proposta da novela, mas o autor Silvio de Abreu preferiu encurtá-la a ter de trair sua ideia inicial.


(por Jordão Amaral)

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