terça-feira, 12 de abril de 2011

Entre um episódio e outro...

A Rede Globo estreou no início deste mês a nova programação de 2011. Nada de muito novo, levando em consideração que, pelo menos há mais de dez anos não há nenhuma alteração significativa. Querem um exemplo? Em 1997, o jornal local muda de nome e horário, fechando neste rígido esquema o tão conhecido “horário nobre”: novela das 18h – jornal local – novela das 19h – Jornal Nacional – novela das 20h (hoje, 21h) – linha de shows – Jornal da Globo. Mesmo que insignificante (pois o jornal local já era transmitido antes do Jornal Nacional), esta foi a última mudança que a Rede Globo efetuou em sua grade noturna. Isso há quase quinze anos. Então, resta-nos a pergunta: onde há nova programação? Na linha de shows, uma faixa horária bastante flexível que pode transmitir desde Chico Anysio até Tela Quente, chegando mesmo a colocar em um mesmo patamar programas como “A Grande Família” e “Linha Direta”. Entretanto, nesta estreia de 2011, uma profusão de seriados invadiu esta faixa.

Depois do Fantástico (que está bem longe dos gloriosos dias), estreou “Batendo Ponto”, um programa bem escrito, com os competentes Ingrid Guimarães e Pedro Paulo Rangel, direção regular (muito mais focada no tempo da comédia e suas marcações do que no ritmo do episódio como um todo). E só! Ainda falta alguma coisa para que esta série ache seu tom. Além disso, é de um profundo mau gosto veicular no domingo à noite as agruras que o ambiente de trabalho nos proporciona. Basta esperar algumas horas e, voilà: segunda-feira, 8h e lá vamos todos nós bater o cartão e transformar em pesadelo e terror o que, no dia anterior, foi tratado com ironia e sarcasmo.

Às terças, para substituir o “Casseta & Planeta Urgente” (revolucionário programa na TV, mas que foi vencido por um inexorável inimigo: o tempo) foi programada a série “Tapas & Beijos”. Simples, com um excelente texto, cenas muito bem dirigidas e, principalmente, atuações fantásticas. Todo o elenco (sob a competentíssima batuta de Maurício Farias) está adequado a seus personagens, mas o grande mérito é a união de Andrea Beltrão e Fernanda Torres, reconhecidamente perfeitas na comédia. Outro ponto positivo é a abertura, muito bem humorada e criativa. Acima de tudo, Tapas & Beijos foi uma grande sacada do autor Cláudio Paiva, que ambientou os conflitos amorosos de duas vendedoras justamente em um comércio que se alimenta do ponto mais alto do amor idealizado: uma loja de vestidos de noiva.

Ainda às terças, “Divã” estreou com grande expectativa. Após uma bem-sucedida carreira no teatro e no cinema, os dilemas e questionamentos de Mercedes (Lília Cabral) chegam agora à televisão, com Nova York, Totia Meirelles e um retorno ao analista (mesmo após a alta clínica concedida pelo mesmo). Lília Cabral, como tem acontecido há muitos anos, está perfeita em seu papel. A direção de José Alvarenga Jr. é um primor, afinal de contas, poucos no Brasil têm a mesma competência em seriados como ele. Além disso, vale a pena comentar a atuação de Marcello Airoldi, discreto e perfeito (apesar das poucas oportunidades neste primeiro episódio).  Entretanto, o texto de Marcelo Saback apresenta altos e baixos. Por entre diálogos inteligentíssimos (o melhor deles, para mim, foi “A Mercedes está na nossa cama”, o breve que significou tudo), algumas situações forçadas (como o insistente cruzar entre as personagens de Lília Cabral e Patrícia Pillar) e a parca função de Totia Meirelles como apenas a orelha de Mercedes tornam o seriado menos do que ele pode ser.

De “A Grande Família”, pouco falarei, pois não se trata de uma estreia e, sim, do início do décimo primeiro ano. Sim, desde 2001 convivemos com a família Silva. Apesar de o roteiro se alimentar de situações do nosso cotidiano (e como aproveita bem), o seriado perdeu muito do brilho e da qualidade de anos atrás. Está apenas regular. Uma reformulação faria muito bem ao programa.

Em seguida, tivemos a estreia do spin off “Lara com Z”. Sobre este, tenho duas opiniões. À primeira vista, o texto de Aguinaldo Silva e Maria Elisa Berredo é cirúrgico, excelente e muito bem armado. A direção de Wolf Maya é forte e significativa, assim como o elenco e a temática. Suzana Vieira teve que dividir os aplausos com a elegantíssima Eliane Giardini como Sandra Heibert (Pronunciada por Lara como “Reipert”. Coincidência?...), a impiedosa crítica teatral. Uma inteligente fusão entre duas críticas conhecidíssimas – uma televisiva, a outra teatral. Porém, revendo o episódio é possível perceber algumas arestas. Suzana Viera representa na TV nada mais que sua persona pública (atenção, não falo aqui da Suzana Vieira como pessoa e, sim, da imagem que ela construiu – ou foi construída para ela – nos últimos anos). Ou seja: uma excelente atriz, mas arrogante, dona de um ego i-men-so (apesar de suas fragilidades) e, principalmente, ácida. Muito ácida. Além disso, é muito estranho todos os atores jovens do elenco possuírem o mesmo padrão de beleza andrógina (e pouquíssimas oportunidades para demonstrar talento). Que o diga Pierre Baitelli.... Por fim, a abertura e música tema são altamente inspiradas, com uma excelente Elza Soares apresentando muito bem a personagem Lara Romero.

A última estreia da semana foi “Macho Man”, dos cada vez melhores Alexandre Machado e Fernanda Young. Não é para menos: o horário das 23h das sextas-feiras é deles, e por merecimento. Basta recordar de “Os Normais”, “Os Aspones”, “Minha Nada Mole Vida” e “Separação”. Marisa Orth está adequada ao papel, mas o grande destaque é Jorge Fernando, excelente como o ex-gay. Uma grande oportunidade para ele se livrar de alguns vícios como diretor e poder se reinventar como ator. Mais uma vez, a competentíssima direção de José Alvarenga Jr.

Ao final da semana, percebo que a temporada de estreias foi, no mínimo, diferente, já que o Brasil não tem a tradição de produzir sistemáticos seriados, diferente da produção americana. Um dos motivos para tal é buscar inovações em técnicas e linguagens que, segundo pensam erroneamente os executivos de televisão, não caberiam na telenovela. A diversidade entre telenovelas, minisséries e seriados é importante, mas um não pode diminuir o outro, jamais! É evidente que há um grande investimento em seriados por parte da emissora, principalmente em formatos com poucos episódios. Por um lado, traz agilidade à programação, que a cada três ou quatro meses pode se adaptar às exigências desse deus voluntarioso e atual que é a Audiência. Porém, assim como a telenovela, o seriado tem um tempo necessário para se desenvolver, ganhar público e atingir clímax. Com oito episódios, isso fica bastante difícil.

Igualmente difícil é o formato seriado não ter autores e elenco pertinentes a ele, o que força a escalação de profissionais muito ligados à telenovela. Esta alternância prejudica a continuação da série, pois o distanciamento entre temporadas é estendido pelo tempo de uma novela. Veja o caso de Aguinaldo Silva e Lília Cabral, que só verão a segunda temporada de “Lara com Z” e “Divã” após o final de Fina Estampa (próxima novela das 21h da qual os dois são os principais nomes), no segundo semestre de 2012.

Entre um episódio e outro, o que se pode concluir desta leva de séries nacionais é que a Rede Globo tenta implantar aqui o mesmo modelo de produção de séries americanas de sucesso mundial. Mas ainda há um longo caminho a percorrer...

(por Jordão Amaral)

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