sexta-feira, 15 de abril de 2011

Nenhuma revolução dramatúrgica

Revolução é uma palavra presente no título da novela “Amor e Revolução” e repetida à exaustão pelos personagens da mesma novela. Porém, em termos dramatúrgicos não há revolução alguma. Ou melhor, não houve evolução nenhuma por parte do autor Tiago Santiago.

Desde sua estréia como autor titular de novelas na Rede Record, em “A Escrava Isaura”, passaram-se sete anos e sete novelas e a imaturidade na construção das cenas e diálogos permanece a mesma. É mais do que claro que os capítulos das novelas criadas pelo autor não possuem ritmo, as cenas se alongam demais, os personagens repetem trocentas vezes as mesmas informações, além de serem explicativos e panfletários. Com “Amor e Revolução” não é diferente.

Ao ver as chamadas e trailers da novela – que foi muito bem divulgada pelo SBT, diga-se de passagem –, havia uma esperança de que tudo pudesse ter mudado. No entanto, ao nos depararmos com os primeiros capítulos, pudemos perceber que houve, sim, uma mudança do SBT no que diz respeito à produção caprichada e escalação do elenco. Mas direção e texto, infelizmente, não.

As cenas de ação chegam a ser risíveis. De ágeis não tem nada. Personagens falam demais e agem de menos. Outro dia, em uma cena em que Jandira (Lúcia Veríssimo) e Batistelli (Licurgo) são perseguidos e capturados pela polícia, ao invés dos policiais ou comunistas tomarem uma atitude, ficaram com as armas apontadas um para o outro falando aquele texto interminável. A verborragia é uma característica comum de Tiago Santiago (lembram de “Os Mutantes”?) e que destrói qualquer tentativa de ritmo aos capítulos. Prefiro acreditar também que os cortes lentos, planos e movimentações de câmeras escassos sejam mais uma linguagem do que uma caretice do diretor.

Por fim, há um grande erro no que diz respeito à motivação dos personagens. Está certo que todos eles vivam num momento histórico e político importante. Mas a revolução não é o que comanda a vida de todos. Pode ser para alguns, mas não para todos. Os personagens têm outras histórias para contar, outros objetivos também. E não foi o que vimos nesses primeiros capítulos. Todos só falavam do golpe e da revolução. Marcela (Luciana Vendramini) chegou ao ponto de em três ou quatro cenas do mesmo capítulo citar a data de 01/04/1964 como inesquecível. Pior: da última vez que citou, um outro personagem a corrigiu e disse que já era dia 02/04, havia passado da meia-noite. Assim não pode! É didatismo demais para ser dramaturgia.

Como disse Patrícia Kogut em sua crítica em “O Globo”, assistir “Anos Rebeldes” é uma boa aula de como se contar uma história.

Faz-se necessário comentar aqui que um grupo de militares está tentando impedir a veiculação da novela “Amor e Revolução”. É algo sério e que está diretamente ligado à censura. Não podemos permitir que isso aconteça. Estaríamos vivendo um retrocesso. Por favor, assinem a petição que tenta impedir que um absurdo desses aconteça: http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N8794.


QUENTE
A produção caprichada e a esperança de que o SBT volte a investir seriamente em dramaturgia de novo. Uma emissora que já fez novelas como “Éramos Seis”, “As Pupilas do Senhor Reitor” e “Sangue do meu Sangue” não pode se limitar a fazer “Revelação” ou “Vende-se um Véu de Noiva” e achar que está dando conta do recado!

MORNO
A atuação dos atores não está legal. O texto não ajuda e eles acabam prejudicados, ficam limitados. E olha que o elenco é interessante!

FRIO
A escalação de Gabriela Alves, Marcos Breda e Patrícia de Sabrit ser apenas para participação especial em alguns capítulos. Que casting é esse?

3 comentários:

  1. São sempre os mesmos caras que estão na TV há mais de 40 anos, dando espaço para amigos e parentes apenas, que assimilam sem renovar ou inovar. As mudanças na TV vão demorar muito a acontecer.

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  2. A novela de Tiago Santiago "AMOR E REVOLUÇÃO" está ainda no começo. Acredito que tem um bom potencial de nos surpreender. Vamos nos mexer e falar com o autor e a emissora por ser,graças a Deus, uma obra aberta do SBT, tem tudo para se melhorar.

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  3. Realmente o texto de Tiago Santiago deixa a desejar. Nós, aspirantes e roteiristas, temos o hábito de criticar o tempo todo. Parece que a gente só enxerga os defeitos. O público em geral tenta se envolver, viajar na fantasia. Mas, concordo plenamente com a crítica do André.

    Do jeito que o Tiago escreve, parece que cada personagem da trama tem a exata dimensão do momento histórico que está vivendo. É como se cada um deles tivesse vivido a democracia de hoje e a ditadura de ontem. Eles comparam o tempo todo. Na realidade, a história de um povo é construída de pequenos momentos, e, mesmo os grandes, a sociedade só tem a sua real dimensão, anos e anos depois, quando isso muda significativamente o seu destino.

    Outro ponto falho é colocar na boca do personagem uma informação que só ele, autor, tem conhecimento. O personagem é limitado dentro da trama. Quem é onisciente e onipresente é somente o autor. Dia desses um rapaz disse para o José Guerra: “você age como se fosse um filho de general!” (o autor sabe que José é filho de general, mas aquele personagem não teria como saber). O correto seria o rapaz dizer: “você age como se fosse filho de um militar” (ficaria mais crível).

    O excesso de didatismo também salta aos olhos. Há falas de personagens que parecem ter saído de uma matéria de jornal. Tudo bem que novela retrata um período da história brasileira, mas não é uma AULA de História do Brasil.

    Poderia apontar, ainda, erros no linguajar de alguns personagens. Pessoas do povo falam com naturalidade. Cada personagem deve agir de acordo com a sua classe social, grau de instrução, idade, etc. Dia desses, aquela secretária do jornal conversava com a chefe, mas suas palavras pareciam proferidas por um cientista político, tamanhas as suas conjecturas do ambiente político.

    Enfim, criticar é fácil. Difícil é fazer melhor.

    Hoje, com a internet, temos o retorno imediato do público e da crítica. Espero que Tiago possa usar essas informações a seu favor. E, como a novela está sendo gravada aos poucos, que possa corrigir os rumos do barco e transformar sua trama no grande sucesso que foi prometido antes da estreia.

    André, parabéns pela análise.

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