segunda-feira, 25 de abril de 2011

Tirem os caninos postiços da gaveta... "Vamp" esta de volta!

O canal de TV a cabo Viva tem conseguido bastante repercussão em quase um ano de existência (repercussão esta que muitas das emissoras de TV aberta não atingem mais). Agora, a bola da vez é a volta da novela “Vamp”, o mega sucesso de Antonio Calmon. Com certeza, quem tem entre 25 e 35 anos guarda ótimas lembranças e despudorada saudade pela história da cantora-vampira Natasha (Claudia Ohana). Apesar disso, será que vale a pena acompanhar a reprise desta novela?

Em primeiro lugar, acredito ser necessário contextualizar a produção descrevendo rapidamente a época em que foi escrita. O ano de 1991 foi bem agitado para o Brasil (e para a Rede Globo). Estávamos em pleno governo Collor e as crises que eclodiriam no ano seguinte já anunciavam seus primeiros sinais. Na televisão, a Rede Globo sofria com problemas na produção de suas telenovelas. No horário das 18h, “Salomé” não despertava qualquer tipo de reação do público (principalmente por ter substituído “Barriga de aluguel”, uma novela tão polêmica e cheia de temas atuais). Às 20h, “O dono do mundo” era declaradamente rejeitada pelo público, que preferia assistir as agruras da professorinha Helena (Gabriela Rivero) em “Carrossel”, no SBT, do que os dilemas sexuais da professorinha Márcia (Malu Mader).

Já no horário das 19h, o problema era bem maior. A Rede Globo passava por duas situações cujo resultado era a queda de audiência. A primeira refere-se à péssima escolha de telenovelas para este horário no ano de 1990. Após uma bem sucedida jornada com “Top Model”, produziu-se “Mico preto”, uma trama horrorosa e, depois, “Lua cheia de amor”, novela completamente insossa. A segunda situação morava na mesma emissora que dava problemas ao horário das 20h naquele momento: o SBT. Durante um bom tempo, a Globo sofreu terríveis dores de cabeça com o imprevisível sucesso do jornal policialesco-apelativo-mundo-cão “Aqui agora”, que chegou a marcar 15, 20 pontos de Ibope e ofuscou boa parte das novelas globais (como, por exemplo, “O mapa da mina” e “Olho no olho”).

Passado este breve panorama, é neste cenário que, em julho, estreia “Vamp”, a primeira novela de Antonio Calmon como autor solo (“Top Model”, a primeira novela do autor, fora escrita em parceria com Walther Negrão). Misturando vampirismo, música, praia, ecologia e jovens, a novela não foi um grande estouro de audiência (apesar de superar em muitos capítulos a novela “O dono do mundo” no Ibope), mas recuperou um difícil grupo de telespectadores, que, na época, andavam bastante interessados pela recém-inaugurada MTV: os adolescentes.

Inegavelmente, a principal responsável pela recaptura deste público foi a protagonista Natasha. Em um período da música universal que surgia cantoras que encarnavam musas, divas, geralmente associando talento, modernidade e personalidade (basta lembrar de Madonna, Cindy Lauper, Sinead O’Connor, Paula Abdul, entre muitos outros ícones dos anos 1990), uma protagonista que fundia rock’n roll e visual vampiresco com certeza era (e ainda é) muito atraente ao público jovem. Ainda sobre Natasha, é muito marcante a presença de Claudia Ohana (então uma participação bissexta na TV) em um papel que se tornou referência em sua carreira e que explorou ao máximo a faceta cantora desta atriz (lado que ela nunca mais teve a oportunidade de explorar em TV).

Por falar em momentos icônicos, é fácil notar que “Vamp” também é um bom período na carreira de Reginaldo Faria e Joana Fomm, muito à vontade em seus respectivos papéis (Capitão Jonas e Carmen Maura) e seguros para evitar comparações com então recentes trabalhos de sucesso, como o Marco Aurélio de “Vale Tudo” ou Perpétua de “Tieta”. Além deles, há que se dar créditos a Patrícia Travassos e Otávio Augusto, como Mary e Matoso, uma das marcas registradas da novela e cada vez mais divertidos como o casal que se transforma em vampiros (é hilário o fato de Matoso passar alguns capítulos da novela com apenas um dos dentes caninos). Muitos outros atores do elenco também tiveram seus momentos de brilho individual, mas é importante deixar registrado aqui que Jorge Fernando, diretor da novela, conseguiu se reinventar, mesmo depois de trabalhos tão marcantes como diretor (com “Que Rei sou eu” e “Rainha da Sucata”, por exemplo). Com certeza, a novela ganhou muito em qualidade por ter a participação de Jorge Fernando em um horário de novelas no qual é especialista.

Porém, “Vamp” é sempre lembrada pela irrepreensível atuação de Ney Latorraca como Conde Vlad, um vampiro cruel, debochado, divertido e muito sedutor (sem tentar sê-lo). Aconteceu com ele o que poucas vezes acontece com um ator e seu personagem. Assim como Júlia Matos e Gabriela são Sônia Braga, Lucélia Santos será eternamente Isaura e Regina Duarte deu à sua Porcina tamanha propriedade que é impossível imaginar o papel com outra atriz, ninguém conseguiria superar Ney Latorraca na composição deste personagem. Tudo em Vlad se tornava comentário no dia seguinte entre adolescentes, adultos, senhores... Fosse alguma fala, algum novo gesto (como nas primeiras vezes em que o personagem estapeia de longe seus subordinados), uma boa cena, etc. Ator e personagem se confundiam e é possível mesmo afirmar que “Vamp” é um dos pontos mais altos na carreira de Ney Latorraca em TV.

Outro trunfo da novela é o elenco jovem, com papéis que despertaram muita atenção na época. Todavia, revendo a primeira semana, observei como os personagens jovens tendem ao estereótipo e seus diálogos, em sua grande maioria, são artificialíssimos. Veja as falas, por exemplo, de Sig (João Rebelo) ou Leon (Rodrigo Penna): descritivas, longas, sem graça, cheia de informações de enciclopédia, sem embocadura... nada mais desanimador. Com o passar dos capítulos, Antonio Calmon consegue amenizar este ponto.

A linguagem clipada (grande tendência daquela época) já aparece com frequência nos capítulos da novela, desde o clipe propriamente dito de Natasha até a rapidez de algumas tramas. Aos olhos atuais, pode ser que não se note com facilidade uma velocidade maior na narrativa da novela, um quê de história em quadrinhos, mas, na época, era nítido o contraste com outras produções, como “Felicidade” ou “A história de Ana Raio e Zé Trovão”. Além da linguagem clipada, há a anarquia de Antonio Calmon, com muito pique e inspiradíssimo ao dar prosseguimento à novela por sete meses, sempre trazendo situações novas, como a tão falada cena em que Vlad dança ao som de Thriller, sucesso de Michael Jackson. Também é possível notar que, diferentemente de “O beijo do vampiro” (200/2003), “Vamp” é calcada no politicamente incorreto. Quando Miss Penn-Taylor (Vera Holtz) conhecer Pai Gil (Tony Tornado), constantemente ela se referirá ao mesmo como “negão”.  Hoje em dia, grande afrodescendente e olhe lá...

Entretanto, com o distanciamento entre a exibição original e esta reprise, nota-se claramente a falta de ganchos mais fortes para a estrutura dos capítulos. Tomemos como exemplo o capítulo 4, que acaba enquanto Natasha sonha com o personagem Rafa (Marcos Breda) dizendo-lhe que um homem de nome Rocha irá salvá-la de Vlad. OK, até é compreensível uma cena como esta para a retomada de alguma trama que tenha ficado em segundo plano, et cetera, mas, para final de capítulo (ainda mais se lembrarmos de que tal sonho já estava no primeiro capítulo, ou seja, não trouxe novidade alguma)? Em que esta cena atrairia o público a assistir a novela no dia seguinte? As motivações dos personagens não são tão fortes ou, pelo menos, razoáveis, os conflitos se diluem entre tramas juvenis e muito sol, as situações nem sempre resultam em alguma história... Querem outro exemplo? No primeiro capítulo, Natasha desmaia em Veneza. No quinto capítulo, Natasha volta a desmaiar quando vê Capitão Jonas. Entre estes capítulos, passaram vários outros desmaios, uma transfusão de sangue, três países diferentes (Itália, Portugal e Brasil) e a pergunta: por que repetir tanto a mesma situação, logo na primeira semana, se ela não faz a trama central evoluir?

Apesar desta falha estrutural, a reprise de “Vamp” é válida principalmente para que todos nós possamos acompanhar momentos muito bons na carreira de atores como Claudia Ohana, Reginaldo Faria, Joana Fomm, Patrícia Travassos, Ney Latorraca, todos sob a regência de um criativo Jorge Fernando e de um inspiradíssimo Antônio Calmon. E, claro, para quem tem mais de 25 anos, esta é uma excelente oportunidade para relembrar uma infância ou adolescência bastante divertida e diferente!

(por Jordão Amaral)

4 comentários:

  1. Quando Vamp passava na TV, os livros da Anne Rice com seus vampiros "esquisitinhos" eram bem populares entre quem curtia literatura de ficção científica, vampiros e fantasia. A gente ficava escandalizado de ver nessa novela coisas como um vampiro dizer para outro que "Naquela época eu não sabia que você era vampiro", entre outras aberrações. Fora que Natasha, a vampira roqueira, era um plágio desavergonhado do Lestat, que também era um roqueiro de fama internacional. Por essas e outras é que eu não tinha a menor vontade de acompanhar Vamp naquela época...

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  2. Amigo, talvez essa ineficiencia dos ganchos se deva ao fato de que, na época, o Boni mandou que enxugassem os capítulos por conta das cenas relacionadas as encarnações anteriores de Natasha e Jonas, que originalmente ocupariam todo o primeiro capítulo e seriam pulverizadas ao longo da primeira semana. Se você observar bem a primeira semana, vai se dar conta de que falta apuro a edição, com cortes bruscos, falhas de sonorização... abraço e parabéns pelo blog!

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  3. Fiquei muito feliz em saber que "VAMP" estaria de volta. Pena que a TV GLOBO não reprisa em "VALE A PENA VER DE NOVO" essas novelas tão legais. É raro e quando passa é muito rápido, exemplo disso é "O CLONE" reprise atual que já está na metade.

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  4. veja estas fotos
    http://stevenbahia.multiply.com/photos/album/3/Natasha_vamp

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