quarta-feira, 6 de abril de 2011

Por que “Insensato Coração” não decola?

Essa é a pergunta que não quer calar. E por quê? Porque Gilberto Braga é um dos autores mais festejados e mais aguardados no horário das nove da Globo. Sempre surgiu com tramas ágeis, fortes e críticas, vilões detestáveis, capazes das atitudes mais sórdidas, e elenco espetacular. Quando iniciou uma dobradinha com Ricardo Linhares, veio “Paraíso Tropical”, que já não tinha muito a cara de Gilberto Braga. “Insensato Coração”, então, nem se fala!

A sinopse divulgada pelo jornal Extra antes da estréia – o que gerou grande polêmica na época – apresentou uma novela interessante, o ótimo vilão Léo (Gabriel Braga Nunes), a história de vingança de Norma (Glória Pires), avião sequestrado, máfia dos caça-níqueis, entre outras. A expectativa foi criada. E a frustração, após o início da novela, inevitável.

Embora condene totalmente a postura de Ana Paula Arósio, que foi antiprofissional ao abandonar o trabalho durante as gravações, sendo que estava escalada há mais de um ano, ficam óbvios agora os motivos que a levaram a fazer isso. A personagem é ruim, não tem função na história e sua trama de protagonista é a mais sem graça da novela. Os críticos de plantão estão caindo matando em cima do desempenho de Paola Oliveira, mas ela não está ruim no papel de Marina, está apenas correta. Nossos jornalistas costumam confundir muito personagens ruins com atuações ruins. Taís Araújo foi vítima disso em “Viver a Vida”. Que culpa ela tem se toda Helena de Manoel Carlos não tem história? Aliás, as últimas novelas todas de Manoel Carlos não têm história alguma, ficam quase nove meses no ar sem contar absolutamente nada!

Bem, voltemos a falar de “Insensato Coração” e o casal principal: Eriberto Leão, sim, está ruim e não segura o papel. Virou um chato logo nos primeiros capítulos e sua atuação deixa bastante a desejar. Além disso, como acreditar no amor daquele casal que se conhece dentro de um avião sequestrado? Como se envolver com os obstáculos para o casal ficar junto se não pudemos conhecer direito tais impedimentos? Não conhecíamos o relacionamento de Pedro com Luciana (Fernanda Machado) e, ainda por cima, os autores destruíram o principal conflito do casal ao fazer Marina repetir inúmeras vezes que ela e Luciana nem eram tão amigas assim. Se Marina não estava traindo Luciana, já que não eram amigas, não havia motivo para tanta culpa e desespero. Aliás, Marina vive rodeada de “nem tão amigas assim”, como é o caso de Úrsula (Lavínia Vlasak).

Já no segundo capítulo, Pedro e Marina descobriram que ela era a tal amiga de que Luciana tanto falava e que seria madrinha de casamento. Seria uma revelação impactante para a história dos personagens, se não tivesse acontecido tão rápido e logo no segundo capítulo. Ninguém havia ainda se envolvido com o amor do casal, ninguém conhecia aqueles personagens e suas motivações. Ou seja, erro grave. E agora a consequência: mais um casal de novela das oito que não emplacou. Os momentos iniciais de uma novela são essenciais para se criar um casal protagonista e esses momentos foram desperdiçados.


De outro lado, a história de Norma anda em círculos, sendo que é a mais esperada da novela. Desde o início, deveria ter sido assumida e tratada como a única e absoluta espinha dorsal da novela. Mas não foi. Está presa ao desenvolvimento de outras tramas para poder acontecer, quando deveria ser o inverso. Norma ainda está na cadeia, parece que sua trajetória de vingança se inicia em maio, sendo que a novela termina no início de agosto. O público está angustiado, louco para ver Glória Pires como vilã. No caso, nem tão vilã assim, já que vai fazer justiça contra o homem que destruiu sua vida. Autores de novelas, ouçam: dêem uma vilã de verdade para Glória Pires urgente! É o que mais sonham os espectadores há anos!

Outro ponto a ser pensado é a questão das participações especiais. Isso traria certa dinâmica à história contada. Até concordo, desde que essas participações estivessem relacionadas à história principal e ajudassem a levá-la adiante. No entanto, se perceberem, a maioria das participações especiais está relacionada a tramas paralelas. Outras participações, que tinham tramas fortíssimas a serem desenvolvidas, logo foram descartadas, como a de Umberto (José Wilker) e o conflito com o irmão, Raul (Antonio Fagundes); a vingança de Jonas (Tuca Andrada) contra a família de Vitória (Nathália Thimberg); a participação de Lavínia Vlasak, Úrsula poderia se tornar a verdadeira pedra no sapato de Marina; a trama de mulher traída de Clarice (Ana Beatriz Nogueira), que em breve morrerá.

Enfim, “Insensato Coração” foge dos conflitos, parece querer driblar todos os dramas dos personagens e todas as tramas que poderiam interessar ao espectador, em prol de outras histórias absolutamente sem graça. E o que fica ao público é uma novela incolor, insípida e inodora. Tanto é que, já no segundo mês de exibição, entrou numa esquisita barriga em que nada acontecia e andava para frente.


QUENTE
Antonio Fagundes e Ana Lúcia Torres são os dois grandes destaques da novela, como Raul e tia Neném. Fagundes há tempos merecia voltar a uma novela das oito com um bom texto. E o cinismo de tia Neném não seria tão sutil e divertido se não fosse Ana Lúcia Torres.

MORNO
O vilão Léo que nem parece um vilão de novela do Gilberto Braga. Começou bem, parecia que iria aprontar uma atrás da outra e o que vemos é uma morosidade em suas armações.

FRIO
A quantidade de mortes ao longo da novela, que parecem existir apenas para se livrar das tais participações; o fato de Pedro ser piloto de avião e isso não influenciar em nada a trama principal; as tramas repetidas que mais parecem falta de criatividade, tais como o novo golpe de Leo, os diversos relacionamentos de Cortez (Herson Capri) e Teodoro (Tarcísio Meira), os pegadores de plantão, vividos por Lázaro Ramos e Petrônio Gontijo etc; os personagens estarem divididos em Santa Catarina, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, o que só prejudica a relação entre os personagens e o desenvolvimento das tramas.

Um comentário:

  1. Verdade seja dita: ô, nobelinha sem graça essa, hein! O Gilberto Braga não é mais o mesmo autor ágil que fez "VALE TUDO", "FORÇA DE UM DESEJO" (que mesmo não sendo AQUILO, mas, foi MUITO BOA), "CELEBRIDADE", "O DONO DO MUNDO",etc... Gilberto e Ricardo (Linhares) ACORDEM!!! Ainda dá tempo!

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