quarta-feira, 13 de abril de 2011

Em torno do Araguaia


O autor Walther Negrão há tempos parece não ser o mesmo autor de sucessos como “Direito de Amar”, “Fera Radical”, “Top Model”, “Despedida de Solteiro”, para citar algumas. Suas últimas novelas se tornaram uma incógnita. Impossível saber o que virá pela frente, se uma trama consistente, como “Desejo Proibido”, ou uma trama insossa, como “Como uma Onda”. “Araguaia” ficou no meio do caminho.

Apresentou, sim, uma trama muito interessante, envolvendo a maldição de todos os homens de uma família com sangue karuê. Todos estão pré-destinados a ter uma morte prematura. Antoninha (Regina Duarte), querendo impedir a morte de seu filho Fernando (Edson Celulari), decide dá-lo para Mariquinha (Laura Cardoso) criar longe do Araguaia. E a novela se inicia exatamente quando Fernando e seu filho Solano (Murilo Rosa) retornam à terra amaldiçoada. Fernando morre dias depois do retorno. Seria Solano o próximo?

A trama com cara de tragédia, o herói que não foge do que o Oráculo previu – a morte prematura, a maldição – é um ótimo mote. Uma progressão dramática que se intensifica quando Estela (Cléo Pires), a mulher que levará os homens dessa família à morte, se apaixona por sua próxima vítima. O que será dali para frente? Como se não bastasse, Solano ainda tem que enfrentar a ira de Max Martinez (Lima Duarte), o vilão que comanda toda a região e esteve envolvido na guerrilha e ainda denunciou seu avô, Gabriel, à polícia. Apaixona-se justamente pela filha de Max, Manuela (Milena Toscano). O galã fica dividido entre a índia que tem a missão de dar cabo de sua vida e a filha de Max, algoz de sua família.

No entanto, esta forte e interessantíssima espinha dorsal da novela ficou rodeada de tramas paralelas sem a menor graça e personagens coadjuvantes chatos. O mesmo erro que Negrão cometeu em “Era Uma Vez...” e “Como uma Onda”, por exemplo. E isso poderia levar a novela para o buraco. Felizmente, não foi o que aconteceu. “Araguaia” passou batido até a metade de sua exibição. Mas, da metade ao final, por conta da intensificação do conflito principal, do triângulo amoroso bem formado e das grandes armações de Max, caiu na boca do povo. Foi bastante comentada e a audiência cresceu. Habilidade e experiência do autor.

A direção de Marcos Schechtman foi precisa e caprichada. Merecidamente virou diretor de núcleo e teve a oportunidade de assinar uma novela que não fosse de Glória Perez. Algumas críticas às imagens lentas e excessivas do Araguaia saíram na imprensa. Mas tem coisa melhor do que esse respiro das novelas fora do eixo Rio-São Paulo?

Só lamento que os últimos capítulos da novela foram aquém do esperado. Ao invés de intensificarem a trajetória trágica de nosso herói por conta da maldição que era o fio condutor de toda a novela, optaram pelos caminhos mais fáceis. Logo trouxeram um novo par para Manuela, vivido por Henri Castelli, deixando o caminho livre para Solano ficar com Estela. E este, ao invés de ter um final apoteótico e morrer, acabou sendo salvo por uma solução esdrúxula: um recado mandado pelo índio Apoena em que, quando o bebê de Estela nascesse, ele deveria ter o cordão umbilical cortado pelo guerreiro perdido, Gabriel (Juca de Oliveira), e, assim, a maldição teria fim. Muito fraco para uma história que era bem maior que isso.


QUENTE
Alguns destaques do elenco não podem passar despercebidos, tais como Laura Cardoso (sempre!), Lima Duarte, Milena Toscano (foi muito injustiçada pelos nossos jornalistas), Raphael Vianna, Cléo Pires e Julia Lemmertz (por que ela não faz novela das oito?).

MORNO
Murilo Rosa é um ótimo ator e todo mundo sabe disso. Porém, esteve muito parecido com o personagem que protagonizou em “Desejo Proibido”. O galã boa praça, engraçado e apaixonante. O ator precisa se reciclar ou trabalhar com outros autores; caso contrário, não vai conseguir fugir dos vícios de certos tipos.

FRIO
Chatos demais aqueles núcleos do circo e do orfanato. Criança em novela só é bom quando tem o talento de Klara Castanho ou Davi Lucas, por exemplo.

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